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Basta!

Editorial

1As últimas semanas têm sido demolidoras para todas as esperanças dos portugueses. Desde que Passos Coelho anunciou as mudanças da TSU que a crise económica do país caiu vertiginosamente para uma crise política inultrapassável com este governo. Se até então os portugueses acreditavam que os sacríficos podiam ser em nome de alguma coisa… nesse momento rompeu-se a linha de confiança, quebrou-se a ténue sensação de que a austeridade era necessária em nome do futuro. E rebentou uma crise social sem precedentes – eclodiu a descrença generalizada.

Independentemente do sucesso dos partidos que cavalgam a onda dos protestos e da contestação, os últimos quinze dias foram fatídicos para Portugal. Em primeiro lugar por culpa do governo, dos seus desvarios e completa incapacidade de impor um rumo, de definir uma estratégia, de estar cego na vã esperança de que é possível mudar alguma coisa através de mais e mais austeridade. É preciso encontrar uma solução com urgência: ou um governo de nomeação presidencial para completar a legislatura (como em Itália) enquanto os partidos evoluem responsavelmente ou voltar já a eleições. É preciso abrir caminhos novos. O governo de Passos Coelho está a matar o país.

E já matou o interior. Em entrevista que publicamos nesta edição, o empresário Luís Veiga salienta mesmo que este governo será reconhecido como o coveiro da Beira Interior. É verdade. Eliminou as majorações que havia para a interioridade, nomeadamente as fiscais, e não tem políticas para corrigir as assimetrias regionais.

Pior: a Beira Interior perde já, anualmente, um por cento da sua população, sem medidas de discriminação positiva e perante a falta de políticas de desenvolvimento e coesão territorial, a juntar à crise económica do país, vamos ter mais desertificação e pobreza. As empresas ainda vão fazendo o milagre de sobreviver, mas por pouco mais tempo. As insolvências no interior vão aumentar e o desemprego, que em Portugal atinge já cerca de um milhão de pessoas, vai disparar. Resta a emigração – milhares de pessoas já partiram no último ano.

2s “descontos” de 15 por cento que o governo “ofereceu” para andar nas ex-Scut’s é vergonhoso e uma enorme desilusão e de consequências muito gravosas. Desde logo, porque a implementação de portagens é, per si, penalizador para o país, para a coesão territorial, para as expetativas das empresas e das pessoas que teimam em viver no interior. Mas também porque, na generalidade, o “desconto” significará que as pessoas vão pagar mais do que quando tinham o “pacote” de 10 viagens gratuitas. E, curiosamente, para se poder usufruir desse desconto os automobilistas terão de adquirir o dispositivo eletrónico de matrícula ou o sistema Via Verde.

3No passado sábado, ao início da noite, faleceu um homem num acidente de viação que envolveu duas viaturas na EM 530, entre Casal de Cinza e a Guarda. A forma como o acidente ocorreu, e para além de qualquer análise de responsabilidades ou circunstâncias, atesta um facto: aquela é uma das zonas mais perigosas e acidentadas das estradas da região. Um verdadeiro ponto negro onde quase todas as semanas há pequenas ocorrências. Se noutras a chapa, os vidros, os postes ou as árvores eram os mais sacrificados desta vez foi uma vida. Um indivíduo que foi vítima de um acidente grave, que decorreu de um eventual erro de condução, mas agravado por um clamoroso erro de construção de uma curva, com desnível contrário, e contracurva no fim de um viaduto (sob a A23). Se a construção foi um erro incompreensível, a manutenção da estrada com aquele perfil, de enorme insegurança, é um atentado. É urgente a correção daquela via.

Luis Baptista-Martins

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