O projecto da barragem da Sra. de Assedasse (Gouveia) é o empreendimento hidroeléctrico mais vantajoso de um conjunto de 14 aproveitamentos de média e grande dimensão que a EDP admite vir a construir na região Centro. Esta conclusão resulta de um estudo realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra sobre os impactos negativos e positivos destes projectos e deu origem a uma lista por ordem de prioridades. A surpresa é que cinco das barragens consideradas prioritárias estão localizadas no distrito da Guarda. Assedasse, Girabolhos (Seia) lideram a tabela, enquanto Pêro Martins (Figueira de Castelo Rodrigo) é considerada a quarta prioridade, já Atalaia (Pinhel) e Sra. de Monforte (Figueira de Castelo Rodrigo) ocupam respectivamente o oitavo e décimo lugar. Um “ranking” que pode contribuir para relançar estes empreendimentos, alguns dos quais estão na gaveta há mais de duas décadas.
O estudo multidisciplinar foi encomendado pela antiga Comissão de Coordenação da Região Centro ao Instituto Pedro Nunes – Associação para a Inovação e Desenvolvimento em Ciência e Tecnologia, de Coimbra, e envolveu investigadores da universidade e especialistas de outras instituições. O trabalho, realizado no âmbito do Programa Energético da Região Centro, teve como base a análise dos potenciais impactos (energéticos, económicos, agrícolas e ambientais) de cada projecto de barragem ou albufeira, bem como a sua importância enquanto reserva de água de qualidade e recurso no combate aos fogos florestais. Por último, os técnicos não se esqueceram de auscultar o interesse dos respectivos municípios em receber estes aproveitamentos hidroeléctricos, que, no caso da Guarda, poderão vir a ser implementados nos rios Mondego e Côa, como “O Interior” já noticiou por diversas ocasiões desde 2000. De resto, a ordenação final ainda teve em conta diferentes majorações consoante os impactos considerados, com destaque para a valia eléctrica. Critérios que permitiram realçar o empreendimento da Sra. de Assedasse, cuja importância estratégica e produtiva fica agora confirmada.
A futura barragem integra o aproveitamento hidroeléctrico do Alto Mondego, também constituído pelos projectos de Girabolhos, no limite do concelho de Fornos de Algodres, e Midões. Trata-se de uma infraestrutura que promete transformar a região da Serra da Estrela e gerar receitas que não são de desprezar. Ao que tudo indica, o estudo inicial, apresentado em Fevereiro último na CCRC, aponta para uma produção de 304 Gwh por hora, que corresponde a um por cento de toda a energia gasta na região Centro, o que poderá traduzir-se numa receita anual superior a 12 milhões de euros (perto de 2,5 milhões de contos). Para tal, contribui uma queda de 636 metros, a maior da região, para uma potência de 163 MW (Girabolhos terá 131 metros de queda e 88 MW de potência), faltando apurar a dimensão da albufeira. Os autarcas de Gouveia, Manteigas e Guarda, principais municípios afectados, já se mostraram receptivos à obra desde que sejam salvaguardados alguns impactos ambientais e paisagísticos numa área onde prontificam os famosos Casais de Folgosinho ou o Covão da Ponte. Nesse sentido, terão mesmo exigido uma redução da quota proposta em 10 por cento para acautelar a «especificidade cultural e social» dos Casais e preservar o magnífico recanto do Covão da Ponte, explicou na altura José Manuel Biscaia, edil de Manteigas. O objectivo é evitar, nomeadamente, o alagamento da capela da Sra. de Assedasse, do Covão da Ponte e da maioria dos casais, que poderão ser aproveitados como zonas de lazer e estadia. Mas está opção terá como contrariedade a diminuição em um por cento da potência prevista inicialmente. As potencialidades turísticas são outras das vantagens do empreendimento, já que a futura “estrada verde”, se vier a concretizar-se entre a Guarda e o maciço central da Serra da Estrela, vai passar por perto.
Luis Martins