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Observatório de Ornitorrincos

Começa amanhã – suspeitando que alguém lê este texto no dia indicado na capa do jornal – a edição deste ano da Festa do Avante. Há más-línguas que dizem que o PCP está tão parado no tempo que a edição do grande convívio comunista que a Atalaia vai receber este fim-de-semana é a de 1958, ano em que Kruschev se tornou primeiro-ministro da URSS. Talvez seja indicador do início do pós-estalinismo no partido. Outro sinal da abertura é a aceitação do voto secreto nas reuniões magnas dos comunistas. Alguns históricos julgavam que a introdução do voto secreto na discussão partidária era manter em segredo todos os que votassem contra (os mais ortodoxos defendiam o degredo em vez do segredo). Grande parte dos militantes critica também a imposição da medida na Lei dos Partidos. Agora será mais difícil expulsar os militantes que votem contra numa reunião da secção ou num congresso.

Na Festa do Avante os amantes da informática podem encontrar um sistema operativo gratuito, baseado no Linux. Chama-se Comunix. É bem visto. Se os cérebros criativos e revolucionários quiserem aproveitar as minhas sugestões, talvez na próxima edição se possa encontrar um programa de peer-to-peer chamado StalinSeek ou um browser intitulado Marxilla Feira & Foice.

Como Cunhal não deverá marcar presença no Seixal, as bandas suas contemporâneas como os Xutos & Pontapés ou os Delfins também não actuarão. Já os Telectu aproveitam a Festa do Avante para fazer a sua actuação anual. Janita e Vitorino, que conviveram com os primeiros jacobinos portugueses e assistiram à constituição da Comuna de Paris, estarão presentes como bom exemplo para a juventude. Boas temporadas em Cuba, como as destes dois irmãos, prolongam a vida, desde que não se discorde de Fidel Castro, caso em que a vida pode encurtar abruptamente, ou se esteja internado em clínicas de desintoxicação de toxicodependência, onde se corre o perigo de morrer com uma overdose por inalação.

Curiosamente, os republicanos de Bush e os comunistas de Carvalhas escolheram a mesma semana para realizar o seu arraial anual. A diferença é que uns lhe chamam “convenção” e outros “festa”. De resto, há poucas diferenças. Por exemplo, na convenção americana a maior parte dos que sobem ao palco são políticos sem voz para cantar e na Festa do Avante lá vão estar Pedro Abrunhosa e os Mercado Negro. Alguns simpatizantes do partido ponderam romper com a tradição e inverter uma prática longínqua: este ano pretendem elogiar os EUA e criticar a Europa de Leste, pois a América tem partidos comunistas e os países do antigo Pacto de Varsóvia não.

No fim, há o habitual discurso de Carlos Carvalhas. Habitual, neste caso não se refere apenas ao facto de o discurso fechar sempre o evento, mas sim ao facto de ser o mesmo discurso desde sempre.

Quando a festa acaba, os adolescentes presentes sabem que a época dos festivais de Verão chegou ao fim e as aulas vão começar. E depois admiram-se que a juventude vote mais à esquerda. A rapaziada de direita sabe que nunca aspirará a mais do que uma Vernissage do Povo Livre ou a uma Garraiada do Diabo.

EU VI UM ORNITORRINCO

Women on Waves

Um barco com seis ornitorrincos e uma oportunidade para Francisco Louçã brilhar como campeão da demagogia, mesmo com a feroz competição de Nuno Fernandes Thomaz. Ficámos a saber que os barcos deviam poder atracar na costa portuguesa e praticar qualquer ilegalidade em território português desde que as consciências liberais assim o aprovem. Eu já mandei vir um barco de Inglaterra para não precisar de bilhete de identidade e ter um sistema parlamentar de jeito.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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