Os autos levantados pelos agentes da PSP da Guarda podem vir a contar para a classificação profissional durante o ano. A dúvida está instalada nas duas esquadras da cidade por causa de um despacho em que é solicitado aos polícias o preenchimento de um formulário com esses dados no final de cada turno, além do habitual relatório.
O documento, em vigor desde Junho, está assinado pelo comissário Nélson Cardoso, chefe da área operacional, supostamente para fins estatísticos, mas muitos polícias desconfiam das verdadeiras intenções do comando. «Oficialmente, ninguém assume que essa informação pode servir para efeitos de classificação profissional, mas, por via das dúvidas, alguns dos nossos agentes estão a incluir os autos levantados durante o serviço por recearem que a sua progressão na carreira possa vir a depender disso», adianta António Amoroso. O dirigente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP) revela também que «pouca gente» está a preencher esse formulário na esquadra da cidade, enquanto que na secção de trânsito – onde se regista o maior volume de multas e autos da PSP da Guarda – a medida está ser seguida por todos os agentes.
«Há quem não liga ao despacho e outros que o cumprem à risca por temerem que sejam prejudicados profissionalmente», acrescenta. António Amoroso também acredita que essa “produtividade” será «certamente tida em conta na classificação profissional dos polícias, basta o comando querer». No entanto, esclarece que o número de autos não aumentou desde que o despacho foi afixado nas esquadras da PSP, mantendo-se uma «situação normal». Um dos polícias contactados por O INTERIOR, que solicitou o anonimato, confirmou que a maioria dos seus colegas desconfia dos objectivos deste despacho: «Tanto dá para apurar a eficácia e produtividade dos agentes para fins meramente estatísticos, como pode ajudar o comando a classificar melhor quem mais autos levantou durante o serviço», considera. Na sua opinião, o principal problema da PSP da Guarda está no facto de haver demasiados oficiais, actualmente são nove.
«Como não têm nada para fazer, impõem directivas e arranjam processos por da cá aquela palha, apoiados num regulamento disciplinar severo. Já lá vai o tempo em que dois oficiais geriam cerca de 150 homens. Agora, estes oficiais oriundos do Instituto de Ciências Policiais não possuem qualquer formação na resolução de ocorrências policiais de rua, apenas conhecem o regime militar que lhes foi imposto durante o curso, de que nada serve para a segurança da população», critica. O INTERIOR tentou obter um comentário do comandante da polícia, mas Luís Viana está de férias. Também o sub-intendente que o substitui não esteve, anteontem, disponível para falar, enquanto o oficial de relações públicas estava em serviço em Viseu.
Luis Martins