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Audiofiili #20

Opinião – Ovo de Colombo

Depois de algumas semanas fora, o Audiofiili volta para falar de três novos álbuns, cada um com a sua influência bastante diferente no ano musical.

Em primeiro lugar, a afirmação. Caso ainda houvesse espaço para achar que James Blake teve até agora o seu caminho traçado com muita sorte, desengane-se quem pensa assim. “The Colour In Anything” é o terceiro longa-duração do filho de James Litherland, que chegou a criar a sua própria rádio pirata em alto mar, e é o terceiro tiro no porta-aviões do mundo da música eletrónica nas suas composições melodiosas de “downtempo”. Para quem conhece a obra de Blake desde os 12” da R&S Records é caso para dizer que o círculo encontra-se agora completo. Depois de uma carreira iniciada com, por exemplo, a dançável “CMYK”, “The Colour In Anything” é uma apresentação muito mais sentimental tendo uma carga vocal muito maior do que nos álbuns anteriores sendo enaltecida pela eletrónica pós-industrial de uma forma sublime, quase uma continuação das suas influências de Feist. Desta feita, recomenda-se “Radio Silence”, “Love Me In Whatever Way”, “Put That Away And Talk To Me”, “My Willing Heart” e “I Need A Forest Fire” com Bon Iver.

Em segundo lugar, o retorno. Cinco anos depois e com o seu nono álbum, os Radiohead regressam com “A Moon Shaped Pool”. Este álbum, à imagem das últimas edições também com o selo da XL, são peças auditivas de longuíssima digestão. É coisa para se ouvir devagarinho ao longo de meses para nos apercebermos do valor das peças apresentadas.

Num álbum muito mais negro e mais construído com base em alicerces sonoros muito menos percetíveis, os Radiohead continuam a evoluir como nenhum outro projeto alguma vez conseguiu no mundo da música.

Dos Radiohead recomenda-se o concerto já no sábado (8 de julho) no NOS Alive, e temas como “Daydreaming”, “Desert Island Disk”, “Ful Stop”, “The Numbers”, “Present Tense” e “True Love Waits”.

Em terceiro lugar, a surpresa. Há um par de semanas estava a descer pela minha lista de coisas para ouvir e encontrei uma linha que tinha escrito “White Lung – Paradise”. O desconhecimento deste projeto era total mas hoje são para mim uma surpresa, tanto ao nível sonoro como ao nível de “trendiness” musical.

Logo a primeira faixa de “Paradise”, “Dead Weight” é um cartão de boas vindas para um campo musical que vai beber imensas influências da cena emo e punk do meio da década anterior, ou seja, há 10 anos. Mais que isso, White Lung é três coisas: é punk cru do baixo à bateria com pistas mais básicas, é “power rock” com a guitarra poderosíssima e é um rock melodioso e emo com a voz perfeita. Lembra-me, logo à partida, 30 Seconds To Mars, Sparta ou Circa Survive, entre muitos outros. De “Paradise” podemos falar de “Dead Weight”, “Narcoleptic”, “Sister”, a poderosíssima “Hungry” e “Paradise”. Apesar de “Paradise” ser já o quarto álbum das White Lung, é coisa para ir ouvir o que há para trás.

João Gonçalves

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