A primeira fase da obra de remodelação do hospital da Guarda «quase parou» devido ao atraso no pagamento de verbas comunitárias. Numa conferência de imprensa que marcou a despedida de Fernando Girão da presidência do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda, o médico explicou que está em causa o pagamento de oito milhões de euros ao consórcio de construtoras.
A situação foi originada pela reformulação do processo de candidatura devido ao aumento da comparticipação do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) de 70 para 80 por cento. Essa majoração de 10 por cento «obrigou a uma remodelação completa em termos da candidatura», incluindo o próprio «plano de negócio», o que motivou um atraso no pagamento das faturas relativas às obras executadas nos meses de setembro e outubro. Fernando Girão indicou que «estávamos à espera de receber 13 milhões em abril e ainda não recebemos nada desde abril de 2010», altura em receberam três milhões. O presidente cessante da ULS disse que «no final desta semana» deverão ser desbloqueados «cinco milhões de euros» que irão permitir retomar os trabalhos de conclusão do novo pavilhão do hospital. O edifício deveria ter ficado concluído em agosto mas, devido a estas questões, o médico prevê que só fique pronto «dentro de dois meses».
Este impasse está afetar também o lançamento da segunda fase da empreitada, que está «dependente da primeira, porque temos que a acabar primeiro», realçou. Fernando Girão faz um balanço positivo do mandato da equipa que liderou à frente dos destinos da ULS da Guarda: «Acho que conseguimos positivamente, quer do ponto de vista organizacional, quer do ponto de vista de construção de novos equipamentos, criar uma estratégia e dar o passo. Acho que agimos e que conseguimos», sublinhou. Realçou que o trabalho efetuado teve como lema «a rentabilização total de tudo o que nós tínhamos aqui instalado», dando o exemplo das análises e dos transportes, uma vez que «todo o dinheiro que se poupava era necessário para podermos depois investir». Girão deixou também uma crítica ao Estado: «Tem que se convencer que tem que pagar as suas dívidas. É com alguma angústia, para não dizer revolta, que vemos que o Estado, como principal cliente das empresas [do sector da saúde], não paga», declarou.
Prazo médio de pagamento a fornecedores é de 216 dias
Quanto à sua sucessora, o administrador cessante considera que Ana Manso «é uma trabalhadora da casa, uma administradora hospitalar com experiência acumulada nos diversos hospitais», frisando que «com a equipa que tem, tem as condições necessárias para ter um bom desempenho». Quanto às notícias que dão conta da possível fusão de maternidades na Beira Interior, o responsável defende que «é muito difícil fazer futurismos», mas defende que a Guarda «tem as melhores condições», já que tem «o maior número de partos e de profissionais», bem como «um projeto perfeitamente instalado na segunda fase das obras onde vai ter espaço para uma maternidade de último grito no que diz respeito às novidades dos parques aquáticos que também faz parte do projeto funcional». De resto, frisa que a Guarda «terá todas as condições para acolher os partos inerentes à sua zona de influência mas também das zonas envolventes se chegarem a essa conclusão».
A ULS da Guarda tem atualmente 1.640 funcionários com contrato entre um total de cerca de dois mil e Vítor Mendes Mota, vogal da área económica e financeira na direção cessante, garante que «a situação económica é positiva», enquanto que a financeira «tem dificuldades». Indica que os «proveitos a realizar» são de 56,7 milhões euros e as «responsabilidades financeiras» de 52,8 milhões, o que significa «um saldo positivo» de mais de três milhões de euros. Esclareceu ainda que o prazo médio de pagamento a fornecedores é de 216 dias.
Ricardo Cordeiro