Quando Morfeu inspirou o povo Grego sabia de antemão que Prometeu seria punido por Hécate e que Pandora iria abrir a caixa de todos os males.
Pois bem, o processo vem de longe e longe vão os tempos em que a pequena Comunidade tinha apenas por objetivo a integração, através de trocas comerciais e expansão económica, numa visão de meia dúzia de países, que em 1957 se reuniram em Roma, para em 1993 (Tratado de Maastricht) verificarem da necessidade de constituir a União Europeia, expressando vontade dos Estados-Membros de alargar competências a áreas políticas diferenciadas e não exclusivamente a matéria económica, o que permitiu que 28 países entendessem a mensagem.
Olhando para os pratos da balança, tendo em conta a dimensão política, económica e social de um pequeno país como a Grécia, ou o nosso, a adesão, significou modernização e incentivo para um desenvolvimento que nem sempre existiu, fruto da desorganização administrativa, burocrática, ausência de reformas e legislação específica em áreas que todos nós bem identificamos.
Após a adesão efetiva, como membro de pleno direito (1 de janeiro de 1986), a Comunidade ofereceu a Portugal um projeto global de modernidade e competitividade, beneficiando a entrada dos nossos produtos noutros mercados, colocando-nos como país de desenvolvimento europeu e mundial, permitindo com a injeção de dinheiro, a modernização da economia portuguesa, concluindo-se que Portugal ganhou muitíssimo com a entrada na CEE, tendo inclusive, alguns dos seus beneficiários/destinatários desvirtuado o objetivo desses mesmos fundos.
De 86 até hoje muitos acontecimentos marcaram a vida da Humanidade. O destaque vai para a queda do muro de Berlim (9 de novembro de 1989), o fim da guerra fria, o alargamento a leste, a entrada do euro em janeiro de 2002, o Tratado de Lisboa (dezembro de 2007) e finalmente o movimento da globalização.
A ilusão inicial de uma Europa rica, próspera e marcantemente política, com o avançar do tempo, deu lugar à desconfiança, ganhou-se insegurança até chegar-se à grande desilusão. Com efeito, existe um projeto de crescimento da UE, não acompanhado por todos os países, com vista à criação de riqueza e à tentativa de desenvolver os Estados-Membros mais pobres. O grupo do G8 (os 8 mais ricos do mundo) metade são países da UE (França, Alemanha, Itália e Inglaterra) o que permite que nem sempre a política económica, social e fiscal tenha consenso, obrigando a economia a um esforço terrível, percebendo-se que os pequenos países não estavam preparados para enfrentar o desafio do desequilíbrio das contas públicas e muito menos a procura de ganhos e dividendos no tocante à competitividade externa.
O relatório da Comissão de Acompanhamento do 3º QCA (Quadro Comunitário de Apoio) demonstra que ficaram por utilizar até ao final de 2006, mais de 5 milhões de euros e já em 2007 o nosso país devolveu 36 milhões de euros. O dinheiro destinado à qualificação foi parcialmente utilizado, sendo os trabalhadores da Administração Pública os mais penalizados (a taxa de execução neste sector não chegou aos 50%), ao mesmo tempo que é percetível que as empresas estrangeiras a operar em Portugal fossem as mais beneficiadas. Segundo o economista, Eugénio Rosa, na vigência do 3º QCA ter-se-ão perdido qualquer coisa como 1.500 milhões de euros. É também por isso que Juncker assume agora uma postura cínica e crítica com aquilo que sempre votou e apoiou, assim como para com o seu antecessor, Durão Barroso.
Passos diz que os proxenetas da “troika” são bonzinhos e que nós somos um povo diferente e espetacular. Tão bons e espetaculares que, aos poucos, fomos permitindo que esta política tenha gerado dois milhões de pobres efetivos, mais outros dois milhões do salário mínimo, um desemprego galopante e uma desigualdade social gritante a que se soma uma classe dominante de ricos e novos-ricos, de políticos, banqueiros e gestores de benesse, tentando ordinariamente disfarçar uma igualdade de sacrifícios, nesta vergonhosa operação de cosmética e discurso pré-eleitoral, entendendo-se facilmente que são sempre os mesmos a pagar a fatura, ao defender o capitalismo decadente e a classe dominante, pese embora tenha de ter em conta a nova realidade grega, pois é absolutamente necessário refletir e amadurecer a ideia que uma nova ordem europeia e mundial é precisa, urgente e necessária, podendo ficar ou estar em causa o futuro da União Europeia e da moeda única. Alguns liberalóides/conservadores, um pouco menos seguidistas e um pouco menos estúpidos já começaram a perceber.
Recebi hoje o pré. Precisamente igual ao de fevereiro de 2004, sem esquecer que um dos dois subsídios é diluído no vencimento. Ah pois…
Se tudo isto não é atrasar o país e atentar contra a dignidade dos portugueses, pergunto ao Exmo. senhor primeiro-ministro: afinal o que é?
Por: Albino Bárbara