A minha viagem sobre as amizades processa-se no desenho da tolerância delas. Até onde somos amigos de alguém? Que podemos aceitar em nome da amizade? Toda a vida estivemos juntos, percorremos caminhos de braço dado, enfrentámos desafios e mentimos juntos, encobrimos asneiras. Até onde devemos permanecer dentro desse círculo? Se ele roubar? Se ele bater na mulher? Quando ele se afirma racista? Qual a tolerância da amizade? Um grande amigo é indiciado de crimes graves com atentado ao pudor, com desrespeito pela vida humana, com evidentes danos sobre crianças. Que sentimos por ele? Amizade! Pois ele chega e olha-nos e vemos o amigo de sempre, o que nos tratou sempre bem. Mas ele é também o monstro que violou? Mas ele é o tratante que vigarizou os vizinhos? Ele é o biltre que violentou os empregados? Não vi, não estava lá e por essa razão tendo a não crer. A amizade é parecida com o amor. Cremos em alguém até à mais completa e dura evidência. Deixamos de amar? Não! Desapontados ou tristes, seguimos o caminho e reorganizamos a dádiva. Entregamo-nos com cerimónia, rezamos para que não doa de novo, se calha pecamos para amolecer a desilusão. Na amizade, como no amor, cremos no outro, entregamos-lhe bens, depositamos confiança, abrimos a alma. Mas quando ele falha transporta mentira naquela relação? Naquele círculo ele é verdadeiro? Sim! Um amigo nosso é dependente da nossa aprovação, da nossa cumplicidade e sofre se o deixamos, tem a dor da separação se o deixamos ir. Mas tem de haver uma fronteira em que não gostamos mais daquele amigo ou do amor. Até onde pode chegar a tua amizade? Que sacrifícios estás disposto a fazer para manter esse título? Os muros aproximam-se muito do desrespeito, da falta de coerência, da vida deixar de ser “dar e receber”, da vergonha que fica depois de. Não sei porque gostamos de alguém, porque nos afeiçoamos, mas sei que há uma fatia de carne que se perde quando o amigo nos desilude ou não conseguimos comunicar.
Por: Diogo Cabrita