1. Esta semana houve mais um ato para assinalar o arranque das obras de modernização do troço ferroviário Guarda-Covilhã, na Linha da Beira Baixa. Desta vez foi na estação da Covilhã e, além do ministro do Planeamento e das Infraestruturas, contou com a presença da Comissária Europeia dos Transportes e Mobilidade (a Europa financia a obra em 85%). E, assim, e de forma definitiva (esperemos), a “Concordância das Beiras” vai voltar a entrar nos carris em 2019 (depois de 18 meses de obras) reaparecendo a ligação ferroviária Guarda-Entroncamento – e que será muito mais do que uma simples ligação, será uma nova aposta no transporte ferroviário e a recuperação de uma linha de grande interesse social e cultural, de dinamização económica e a renovação do fecho do circuito que permite, quando a Linha da Beira Alta seja interrompida (como ocorreu esta semana), a existência de uma alternativa para a ligação do país à Europa, por Vilar Formoso.
Depois de nove anos encerrada a Linha da Beira Baixa não irá ser, per si, um agente de desenvolvimento do território, mas pode contribuir para a sua mutação ou, como afirmou na cerimónia o ministro Pedro Marques, o «interior do país não pode mais ser encarado como as traseiras do Litoral, mas sim como o centro do mercado e do acesso a um mercado de 60 milhões de habitantes». Não queremos ser as traseiras do Litoral, nem podemos aceitar ficar a ver passar os comboios, queremos que os comboios sejam uma alavanca para a metamorfose tantas vezes reclamada de desenvolvimento e coesão territorial.
2. Entretanto, e no seguimento do lançamento da requalificação do troço ferroviário Guarda-Covilhã, foram apresentados (na Covilhã) um conjunto de dados sobre o impacto da introdução de portagens nas autoestradas A23 e A25. O Fórum pela reposição das “scuts” nas referidas infraestruturas pretendeu renovar o debate, com argumentos e informação qualificada, visando demonstrar que os custos de contexto, para pessoas e empresas, com as portagens passaram a ser infinitamente mais altos promovendo o agravamento das assimetrias para quem vive e trabalha na região. O ministro Pedro Marques, no seguimento do que o governo tem dito, reiterou que as portagens vão continuar e que não haverá nenhum regime de exceção para os utentes da A23 e A25. Ou seja, as empresas vão continuar a ter um custo superior para transportarem os seus produtos; as pessoas terão de pagar para se movimentarem, para se deslocarem dentro da região ou para se deslocarem para fora do território. O quilómetro de autoestrada na A25 é mais caro do que na A5 (entre Cascais e Lisboa) e a maioria dos utilizadores tem de fazer percursos longos e caros entre a origem e o destino.
Podemos ouvir falar de muitas medidas e de muitas decisões supostamente em prol da correção das assimetrias, podemos ouvir falar de descentralização e de desconcentração de serviços, mas, à hora da verdade, nenhuma medida é implementada para mudar o curso da história: os investimentos estruturais fazem-se no litoral e só ocorrem no interior quando são de interesse nacional (como é o caso da renovação da Linha da Beira Baixa) – a medida anunciada para o corte de vagas nas universidades de Lisboa e Porto vai andar para trás porque no interior ninguém a defendeu e os lisboetas já levantaram a voz para dizerem que não abdicam de nada no seu centralismo e não querem perder 5% dos alunos, que porventura são provenientes do interior…
Viver no interior é isto, é conviver com todos os constrangimentos da interioridade, e é ter de pagar caro quando precisamos de ir ao litoral, por isso, faz sentido voltar a sair à rua, faz sentido protestar, faz sentido dizer basta!
Luis Baptista-Martins
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