P – A Beira Serra está a comemorar 20 anos, qual é o seu legado na comunidade?
R – A Beira Serra tem como objetivo promover o desenvolvimento e a coesão social, económica, cultural e ambiental dos territórios e das comunidades locais da Cova da Beira. No combate aos fenómenos da desertificação e da exclusão social, através da promoção e integração sócio económica das comunidades locais, com especial atenção para os grupos sociais mais desfavorecidos, orgulha-se de pertencer a quatro redes nacionais e oito regionais e locais, de estar envolvida em largas dezenas de parcerias, de contabilizar mais de três dezenas de grandes projetos concretizados, abrangendo mais de 6.000 destinatários diretos, de ter realizado mais de 60 mil horas de formação, editado publicações e criado 10 estruturas de apoio e desenvolvimento local.
P – Quais são os grandes parceiros da associação ao longo destes anos?
R – São de enaltecer todas as colaborações e envolvimentos, coletivos e individuais, registados ao longo da atividade da Beira Serra, pois embora, eventualmente, pouco visíveis, de menor impacto, representam por vezes muita dedicação, grande esforço e satisfação ao serem atingidos os objetivos. Mas será inevitável reconhecer as autarquias (Câmaras e Juntas de Freguesia), as associações, a Segurança Social e a UBI como componentes determinantes para o sucesso dos nossos projetos e a execução das respetivas ações.
P – Quais são as suas principais dificuldades e obstáculos?
R – A enorme desproporção, lamentavelmente crescente, entre os recursos materiais, humanos e operacionais e as necessidades de uma região que, entre outras, tem sido fustigada pelos efeitos de políticas desequilibradas e injustas, de planeamento e ordenamento inexistentes, que condenam a sua população a condições desfavoráveis e situações de grande vulnerabilidade, muito embora estas não se resignem. Não cabe aqui teorizar se tal situação ocorre por falta de consciência dos supostos responsáveis ou devido a práticas deliberadamente delineadas e concretizadas. Como algumas das consequências, sublinharia a regressão demográfica e o êxodo do potencial humano, a conjuntura macroeconómica e financeira recessiva, com a correspondente degradação das condições de vida, do rendimento e do emprego e as grandes incertezas quanto à dimensão integradora das diversas políticas nacionais e europeias.
P – Com a crise, há mais gente a pedir ajuda à Beira Serra? O que mudou nestes últimos anos?
R – Sim, por um lado, as solicitações aumentaram, o que, atestando o nosso bom trabalho e imagem junto de sectores mais desfavorecidos da população, nos preocupa e motiva na definição das formas de ação mais adequadas.
P – E os projetos que pretendem desenvolver no futuro?
R – Atendendo à experiência adquirida da Beira Serra e às exigências da situação, que, como seria de esperar, acarreta sempre novos desafios, procuraremos desenvolver a nossa atividade de acordo com a nossa identidade, natureza e objetivos, estando sempre atentos à evolução da situação, nomeadamente quanto a exigências e oportunidades.
Em termos práticos, vamos prosseguir os projetos em curso, executar as ações resultantes da eventual aprovação das candidaturas já submetidas, idealizar, definir, candidatar e executar os projetos julgados oportunos e eficazes para desenvolver a região, o interior. Desejamos ainda otimizar os nossos recursos, reforçar o nosso papel e prestígio na comunidade onde nos inserimos e para a qual trabalhamos. É nesse sentido que realizaremos já no dia 20 deste mês um importante debate sobre a situação atual e as perspetivas para o futuro, envolvendo um significativo conjunto de prestigiados especialistas em temas julgados fundamentais para a sustentabilidade e o desenvolvimento. Assinalaremos também o 20º aniversário com a divulgação da nova imagem da Beira Serra.
P – Que tipo de beneficiários apoiam e de que modo os ajudam?
R – Acumulamos uma vasta experiência em diversas áreas de promoção do desenvolvimento integrado. Destacamos vários domínios como a animação comunitária; a defesa do mundo rural e valorização de recursos e potencialidades locais; serviços de proximidade e apoios a indivíduos, famílias e entidades; inserção social, profissional e escolar; educação, orientação e formação e a igualdade de género e oportunidades. Trabalhamos também na prevenção de comportamentos de risco, na integração, diálogo intercultural e cidadania, na conciliação da vida profissional e pessoal, em eventos, estudos e investigação e na qualidade e inovação territorial e organizacional.
P – Qual seria a melhor prenda para a Beira Serra neste vigésimo aniversário?
R – Na ausência de sinais claros de efetiva inversão desta conjuntura que se foi descrevendo, seriam a adequada avaliação positiva dos projetos da Beira Serra, obviamente dirigidos à comunidade, e um maior envolvimento dos sócios e entidades relacionadas.
P – O voluntariado é importante no trabalho desenvolvido pela associação?
R – Na minha opinião, muito importante porquanto, independentemente da sua expressão prática ou efetiva, traduz uma atitude de envolvimento inestimável, de preocupação com os outros, de expressivo significado.