P – Quais são as grandes opções para os próximos quatro anos no Sabugal?
R – É um mandato de continuidade. Se há alguém que verdadeiramente tem a noção exata daquilo que o Sabugal precisa e do que é possível fazer sou eu. Temos um Plano Estratégico, o “Sabugal 20-25”, que define um conjunto de iniciativas e de metas a que queremos chegar. Vamos cosendo esses projetos tendo em conta as disponibilidades do quadro comunitário “Portugal 2020” e de outras oportunidades que vão surgindo, nomeadamente no turismo com as linhas de financiamento do Turismo de Portugal e outras. É evidente que o facto de nos focarmos no que é possível fazer, ano após ano, não evita que a Câmara tenha que ter um conjunto de ambições, projetos e visões do Sabugal do futuro, mas também gerir, no âmbito dos condicionalismos existentes com as transferências do Orçamento de Estado, a “máquina” municipal que já é volumosa.
P – De acordo com esse Plano Estratégico, o que está a ser feito ou vai ser feito para fixar e atrair, nomeadamente os mais jovens?
R – Num concelho periférico e raiano, a Câmara pode identificar e ter permanente conhecimento dos recursos do município, identificar oportunidades de investimento, construir um conjunto de iniciativas que se complemente às do Estado no apoio à economia e fazer uma diplomacia económica permanente para captar investidores. Hoje, municípios como o Sabugal têm vocações novas, nomeadamente de tentar criar os tais ecossistemas favoráveis ao investimento e à captação de oportunidades de investimento para o concelho. E para isso é necessário termos a noção clara dos nossos recursos, do que pode criar mais valor e ter apoios e infraestruturas para os investimentos, mas também alguns mecanismos de subsidiação e de agilização de processos.
P – Mas quais são os investimentos mais apetecíveis ou estratégicos para o Sabugal?
R – No âmbito dos serviços municipais e do quadro dos funcionários da Câmara, que são cerca de 200, criei uma espécie de unidades de missão para o desenvolvimento de debates, encontros e fóruns sobre essas temáticas. Na unidade de missão “Sabugal Mais Valor” é uma plataforma de trabalho responsável pela valorização dos recursos e do território. A produção florestal e pecuária são excelentes e uma oportunidade, tal como as áreas da energia, onde, aliás, temos uma grande feira, a Enertech, que valoriza o Sabugal como concelho de grande potencial nas energias naturais, como a água, a biomassa, sol, o vento e de transição entre as zonas climáticas. Há também a questão do património edificado, natural, e de algumas marcas no território, caso da Aldeia Histórica de Sortelha, o rio Côa, a Malcata e as tradições como as capeias.
P – E os castelos da raia? Pretendem desenvolver algum projeto novo para dar outra dinâmica de atração a esse património?
R – Temos tido a preocupação de criar uma rede no território que integra as redes das Aldeias Históricas, do termalismo e do By Nature. Mas criámos uma mini rede interna dos cinco castelos (Sortelha, Sabugal, Vila do Touro, Vilar Maior e Alfaiates) e vamos intervindo à medida das disponibilidades. Todos conhecemos Sortelha, já a zona histórica do Sabugal vai agora levar um excelente impulso no âmbito destes planos de ação para a regeneração urbana. Vamos avançar com cinco projetos de beneficiação do espaço público no Largo da Fonte e na artéria principal da cidade, a Rua 5 de Outubro. Vamos ainda criar dois atrativos: um centro de artes e ofícios no edifício municipal e um espaço onde queremos fazer recriação histórica em torno de D. Dinis e da Rainha Santa a da sua ligação ao Sabugal através, nomeadamente, de um roseiral intitulado “O Milagre das Rosas”. Alfaiates, Vilar Maior e Vila do Touro não serão esquecidas. No primeiro castelo, propriedade da Direção Regional de Cultura do Centro, haverá uma intervenção significativa, uma vez que no pacto da CIM Beiras e Serra da Estrela temos sinalizados 400 mil euros para isso. Ao longo destes quatro anos vamos com certeza arranjar o momento e a oportunidade para desenvolver esse projeto. E continuaremos a aproveitar nas várias gavetas dos fundos comunitários formas de melhorar a visitação a estes espaços e depois integrarmos isto em rede…
P – Em síntese, fala na aposta no turismo. Essa é a grande aposta para os próximos anos?
R – Também queremos ser bafejados pelo “boom” turístico do país, mas hoje há um turismo de produto acabado integrando atrativos como a gastronomia, o património, a visitação, as experiências, o lazer, etc.. Já não há turismo de visitação simples. Atualmente no Sabugal temos o presépio, mas pessoas também querem saber onde almoçar e o que visitar mais no concelho e na região.
P – O que ganha o Sabugal por a Serra da Malcata integrar a Carta Europeia de Turismo Sustentável?
R – É uma bandeira que nos permite diferenciar-nos de outros territórios. Foi um processo iniciado há dois anos e meio pelo município do Sabugal, que convidou a Câmara de Penamacor numa primeira fase por termos a Reserva Natural da Malcata em comum, e posteriormente, com a evolução do plano de ação da carta, reforçámos o património edificado acrescentando o município de Almeida. Tentámos delimitar o primeiro território Carta Europeia transfronteiriço com as mancomunidade do Alto Águeda e da Sierra de Gata, mas do lado espanhol houve dificuldade em decidirem juntar-se a nós e o projeto está abandonado para já. Construímos um plano de ação para o turismo sustentável do lado português que foi validado em Bruxelas há precisamente um ano.
P – Mas o que foi feito entretanto?
R – Naquele plano as várias entidades parceiras, como universidades, politécnicos, ICNF e escolas, têm os projetos e ações que se comprometeram realizar logo que possível. É um primeiro trabalho experimental que tem sido desenvolvido ao longo deste ano. Na altura, porque era necessário indicar um organismo que fosse o “motor” da dinamização da Carta, indicámos a associação Territórios do Côa. É esta entidade que gere e acompanha o cumprimento da Carta Europeia de Turismo Sustentável. Isso não significa que cada um dos parceiros não vá, de forma autónoma, aos fundos comunitários. Este ano, candidatamo-nos às linhas de apoio do Turismo de Portugal e uma das nossas mais-valias é precisamente termos esse selo da Carta Europeia de Turismo Sustentável e não irmos isolados. Ainda agora vimos aprovados dois projetos, um para Penamacor, outro para o Sabugal, de portas de entrada no concelho para o turismo. E estamos a desenvolver outros projetos, nomeadamente para o turismo ciclável. No nosso caso, o turismo é dinamizado pela estrutura de missão “Sabugal Mais Atrativo”.
P – O concelho tem apostado nos sabugalenses da diáspora e que hoje podem regressar e fazer parte de uma economia social cada vez mais dinâmica.
R – Temos essa preocupação e sentimos, no âmbito da rede “Sabugal Primus”, cujo objetivo é juntar esta gente da diáspora, que uma das formas de procurar transpor investimento e mais-valia para o concelho é precisamente através dos investidores da diáspora. Portanto, no âmbito de um regulamento que temos e de uma estrutura que vamos dinamizar, o “Sabugal Investe”, vamos criar um conjunto de iniciativas para esses investidores.
P – Houve dois fóruns em Lisboa e Paris. Há resultados concretos dessas ações?
R – Não em termos de investimento direto ou de criação de emprego, mas sim quanto a trazer os sabugalenses para discutir o seu concelho, a sua terra, e para desenvolver alguns projetos. Por exemplo, todo o trabalho cultural que tem sido desenvolvido na Bendada resulta muito da intervenção da banda filarmónica, das pessoas da aldeia, mas também da ação direta de alguns bendadenses que já não residem ali e apareceram nesses fóruns e apoiaram esses eventos. Mas há um conjunto de ideias e situações que foram referidas por alguns dos participantes que não conseguimos ainda sintonizar com a sua vontade. No futuro poderemos abordar estas questões no Gabinete de Apoio ao Emigrante, que vai ter uma nova valência de apoio ao investidor da diáspora. A secretaria de Estado das Comunidades está a dinamizar esse projeto e o município do Sabugal assinará brevemente esse protocolo.
P – Está satisfeito com as acessibilidades ao concelho? O que tem sido feito nessa área?
R – É difícil fazer obra nesse domínio, uma vez que não há dinheiro para as estradas, mas espero bem que a reprogramação do quadro comunitário prevista para final de 2018 possa mudar alguma coisa. No tempo em que erámos ricos houve aquela tentativa de fazer uma ligação direta à A23, com uma intervenção enorme dos militares, mas o projeto parou quando todos entendemos que não havia 15 ou 20 milhões de euros para concretizar o projeto. O anterior Governo incluiu a estrada Sabugal-Guarda nas prioridades do plano das infraestruturas de proximidade no distrito. A obra devia estar concluída em 2016… Um ano antes estavam a fazer o projeto e havia 2 milhões de euros para gastar nessa estrada, o que era pouco. Era uma melhoria no acesso à A25 e à A23, mas mais do que essa ligação o que nos mata são as portagens. Tenho receio que esse seja um assunto esquecido, que todos se acomodem, porque esta não é uma questão menor. Há um empresário que está a investir no Soito, onde já criou cerca de 50 postos de trabalho, cuja atividade principal está na zona de Esmoriz e Ovar e exporta 90 por cento da sua produção. O maior óbice que tem para aumentar o investimento no Soito são os camiões a circular na A25 porque o material tem que vir para cá para ser montado e voltar para a casa-mãe. É um custo que está a sufocar a empresa e concelhos como o nosso.
P – O que pode ser feito para chamar a atenção para este problema?
R – É uma barreira, uma fronteira, que as pessoas não estão a ver. Quando se fala nos incêndios, em revitalizar o interior, a medida prioritária – é verdade que estivemos muitos anos sem portagens e também fomos perdendo gente – era acabar com as portagens porque os tempos são diferentes e há uma vontade de equilíbrio. Se não houver isso não há hipótese.
P – O que é que um autarca pode fazer para conseguir que o Governo altere este cenário?
R – Os autarcas, todos em uníssono, deveriam ser mais reivindicativos, mas temo que os meus colegas estejam já preocupados com outras coisas. Mas eu estou porque quando falamos em dinamizar o interior há três coisas que me preocupam: as portagens, as ligações móveis e outras e o mundo rural. Por exemplo, todos sabemos que enquanto não houver um cadastro das propriedades rurais não se poderá fazer a reforma da floresta nem da agricultura. Falta também um plano de gestão da água porque o que aconteceu este ano em Viseu vai voltar a acontecer noutro sítio um dia destes. Se tivéssemos isto resolvido tínhamos aí outro mundo no interior do país.
P – Como explica que o Sabugal seja o único concelho da região Centro sem um único investimento aprovado no Plano Operacional Regional POR Centro?
R – É o resultado da dinâmica empresarial que não há. O empresário que investiu no Soito apresentou um projeto de equipamento de máquinas e que foi chumbado. Não sei o porquê, o que devia haver era uma majoração para os investimentos no interior. Vejo o país a três níveis: litoral, interior e raia, sendo que neste momento a fronteira está na Guarda. Quem está mais para dentro do território tem dificuldades acrescidas. O Sabugal não é interior, é raia, e gostava um dia de ver os governos espanhol e português acordarem a criação de uma espécie de zona franca económica desde Valença a Vila Real de Santo António com 50 quilómetros para cada lado da fronteira e terem medidas concretas de intervenção no território. Mas enquanto continuarmos a dizer que somos todos interior…
P – Como está a situação financeira da Câmara do Sabugal?
R – Está equilibrada, temos tudo em dia, pagamos rápido, ou seja, a nove ou dez dias. Temos equilíbrio financeiro e capacidade para contrair empréstimos. O Orçamento para 2018, de 19,7 milhões de euros, foi votado por unanimidade na Câmara e já disse que tencionava desenvolver os projetos contratualizadas no âmbito da CIM, do Turismo de Portugal, dos Proveres Aldeias Históricas, Termalismo e By Nature.
P – Como está o projeto do Museu da Emigração?
R – É um projeto importante que gostaria de concretizar até ao final do mandato, até pela minha condição de filho de emigrantes. Mas não é fácil porque há vários municípios interessados nesta temática e o Ministério da Cultura e a Secretaria de Estado das Comunidades ainda não tomaram posição. Nós temos um “draft” excelente e um local para desenvolver o Museu das Migrações, do Contrabando e das Relações de Fronteira, que é a escola EB 1 do Sabugal que ficará livre no próximo ano letivo. Temos tido algumas negociações com a Secretaria de Estado, com a Assembleia da República e algumas personalidades da vida política portuguesa que me apoiam nesta iniciativa. Na eventualidade de não podermos fazer a obra com apoios do Estado teremos que avançar com um empréstimo para a realizar porque é um projeto de tal forma interessante para o Sabugal em termos de atratividade que tem que arrancar.
Perfil:
Tem saudades de dar aulas de Física e Matemática e regressar à docência pode ser uma opção de António Robalo, de 60 anos, quando terminar o seu terceiro e último mandato na presidência da Câmara do Sabugal.
Mas aquilo que o autarca mais gostaria de fazer após deixar o município é trabalhar na área tecnológica. «Não sei ainda como, logo se verá, mas rapidamente me reconverto», garante o eleito social-democrata que chegou à cadeira maior da autarquia em 2009 após vários mandatos como vereador. Filho de emigrantes em França, António Robalo estudou na Guarda e em Coimbra, onde se formou em Engenharia Eletrotécnica e Telecomunicações. Fez o serviço militar, estagiou em França em televigilância e robótica e decidiu regressar ao Sabugal com «uma vontade enorme de desenvolver o concelho e de fazer coisas na região». Foi professor no Externato do Soito e presidente da Junta de Freguesia da sua terra natal, a Ruvina, entre 1985 e 1993. Ali continua a residir. «Sou um raiano muito ligado à minha terra, uma aldeia que não tem mais de cem habitantes, e ao meu concelho», sublinha.
Nessa altura António Robalo já andava na política, passando pela Assembleia Municipal e integrando os executivos camarários de António Morgado e Manuel Rito. «Nunca pensei nem fiz estratégia para ser vereador e presidente da Câmara e nunca farei qualquer estratégia para outros lugares políticos», acrescenta, dizendo não ter qualquer pretensão ao cargo de deputado na Assembleia da República. «É um cargo que não valorizo particularmente porque o nosso sistema não permite que os deputados possam fazer alguma coisa pelos seus territórios», justifica o presidente da Assembleia Distrital do PSD. O também mandatário distrital da candidatura de Rui Rio à liderança do partido prefere o sistema francês do député-maire, em que o presidente da Câmara é também deputado e contribui «mais para o melhor funcionamento do país porque sabe exatamente quais as questões que necessita colocar na Assembleia da República pela sua região».
O edil raiano diz ser um «homem reservado» e revela que começou a beber álcool aos 40 anos na sua primeira campanha eleitoral. «Foi quase por obrigação», recorda agora, sublinhando que hoje aprecia um bom vinho. Como raiano que se preza, gosta também de capeias, do convívio e dos bons produtos da gastronomia sabugalense. Já da sua ligação à emigração e a França herdou a paixão pelo ciclismo, ao ponto de ir ver ao vivo etapas do Tour e do Campeonato do Mundo, e pelo rugby. «Gosto também de corridas de cavalos», acrescenta. O autarca diz-se um acérrimo defensor da identidade rural das terras raianas e não acredita no desaparecimento de aldeias como a Ruvina. «O que vejo hoje é que muitos emigrantes regressam e ficam agora mais tempo durante o ano. Essa nossa emigração tem que ser muito acarinhada porque traz vitalidade às aldeias e faz investimentos, com casas recuperadas e aquecidas», considera António Robalo.