P – Em que consiste a sua investigação agora distinguida?
R – Consiste em desenvolver uma terapia mais segura e mais abrangente para o AVC. Em concreto, vamos usar partículas muito pequenas (nanopartículas) contendo ácido retinóico para reparar os vasos sanguíneos danificados pelo AVC para, desta forma, potenciar a regeneração neuronal. Após um AVC, existe um aumento no sangue de células especializadas na formação de novos vasos sanguíneos e na reparação dos vasos danificados no cérebro. Contudo, este processo por si só é ineficiente. Neste projeto pretendemos colher estas células dos doentes, tratá-las com as nanopartículas e injetá-las em animais onde foi provocado um AVC. O objetivo final é comprovar a eficácia da nossa formulação na recuperação do tecido lesionado e na melhoria da função cognitiva e motora.
P – De que forma poderá ser concretizada em doentes com AVC?
R – No futuro, esperamos poder administrar por via intravenosa as células do doente previamente tratadas com as nanopartículas contendo ácido retinóico e que possa ser aplicada de forma eficaz numa janela de tempo mais alargada que as atuais terapias.
P – Como viu este prémio? Espera mais reconhecimento com ele?
R – Este prémio é muito importante para mim, porque me incentiva a traçar objetivos mais ambiciosos. Sinto orgulho no reconhecimento do meu trabalho, mas espero acima de tudo sensibilizar as pessoas para o valor do trabalho de investigação e também para a participação neste género de estudos, nomeadamente na recolha de amostras de sangue de doentes.
P – Com que apoios tem contado para realizar esta investigação?
R – Pude recorrer a algum financiamento de projetos previamente financiados no grupo e agora irei utilizar a verba do prémio Medalha de Honra L’Oréal para as Mulheres na Ciência para continuar o desenvolvimento deste projeto. De momento estou também a concorrer a mais financiamento (FCT e outras instituições) para garantir as melhores condições para o sucesso desta linha de investigação.
P – Está previsto outro trabalho de investigação, ou vai dedicar-se exclusivamente à problemática do AVC?
R – O meu projeto visa especificamente o desenvolvimento de uma terapia para o AVC. No entanto, eu penso que os resultados que sairão deste projeto poderão ser aplicados a outras doenças neurovasculares e também inflamatórias.
P – Quais as principais carências do seu trabalho de investigadora no dia-a-dia?
R – As principais carências são a falta de estabilidade pessoal porque não tenho um contrato de trabalho, e a falta de financiamento para garantir a continuidade deste e de outros projetos, assim como a formação de novos investigadores. Uma outra dificuldade prende-se com o facto das instituições públicas, como a UBI, terem burocracias que não são “amigas” da investigação. A título de exemplo, o processo de encomenda de reagentes passa por burocracias que podem levar cerca de um mês; só então o pedido chega à empresa.
P – Sendo de Braga, como veio trabalhar para a Covilhã?
R – No âmbito da minha profissão já trabalhei em várias cidades/países e fui sempre atrás das melhores condições para realizar o meu trabalho. Neste momento, a Covilhã reúne uma supervisora de excelência, um centro de investigação de topo e um grupo de colegas que considero meus amigos.
Perfil:
Vencedora da Medalha de Honra L’Oréal para as Mulheres na Ciência
Idade: 33 anos
Profissão: Investigadora no Centro de Investigação em Ciências da Saúde (CICS) da UBI
Naturalidade: S. José de S. Lázaro (Braga)
Currículo: Licenciatura em Biologia Aplicada pela Universidade do Minho, doutoramento em Neuroinflamação pela Universidade de Coimbra, pós-doutoramento em malformações vasculares cerebrais na University of Southern California (Los Angeles) e pós-doutoramento em AVC na Universidade da Beira Interior.
Livro favorito: Livros com um contexto histórico, como “A Thousand Splendid Suns”, de Khaled Hosseini
Filme favorito: Não consigo destacar um, mas gosto muito dos filmes realizados entre as décadas de 20 a 50
Hobbies: Pilates, caminhadas, desenhar e cinema.