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As infidelidades do Presidente

Temos do nosso regime político a ideia que o Presidente da República é uma figura meramente formal. Uma espécie de “Rainha de Inglaterra”, um símbolo representativo do país… que anda por esse mundo com o nosso dinheiro, a tirar fotografias com bonés e chapéus diferentes. Outros vêm no Presidente, a figura de um polícia de trânsito que controla os excessos de velocidades da vida política e passa multas a quem conduz em contra mão.

Jorge Sampaio, o homem dos discursos redondos, politicamente correctos, inodoros, incolores e asseados, quis um dia dar nas vistas para mudar a sua sina. Entendeu que ser “rainha” só se justificava se a corte o perpetuasse vitaliciamente. Como não era o caso, resolveu encenar o seu “último acto” antes de sair de cena… «As infidelidades do Presidente», no palco de Belém!

Infidelidade com Durão Barroso

Sampaio concordou que era importante para Portugal e Durão aceitou o convite para presidir à Comissão Europeia. Em declarações ao país, garantiu que aceitava o desafio europeu dada a garantia de estabilidade política na governação do país. Estas palavras revelam que em nenhuma das várias conversas, tinha sido posta em causa a continuidade do parlamento ou do governo. Depois da decisão tomada e de compromissos já assumidos, Durão assistiu atónito a um Jorge Sampaio em crise ideológica e pessoal: devo nomear Santana? Durante dias e dias ouviu amigos, companheiros, empresários, banqueiros, partidos, divertidos, irreflectidos… e Santana a queimar em banho-de-maria, lentamente, lentamente, muito lentamente…na comunicação social, na praça pública…! Quando tomou posse, Santana Lopes estava já moribundo, com a credibilidade posta em causa…ferido na agonia da espera e da dúvida! Ferido por quem?

Infidelidade a Ferro Rodrigues

Se não desse posse a Santana Lopes o que acontecia? Sampaio conhecia a resposta. Santana iria a votos contra Ferro Rodrigues e vencia! Legitimava o seu poder por quatro anos. Quatro longos anos que iriam muito além do seu mandato e que poderiam motivar o sonho de um “um Governo…um Presidente”! Ou seja, a visão do próprio inferno, para um presidente que não deitou fora o cartão de militante do PS. Sabia que era preciso afastar Ferro Rodrigues, o amigo, o companheiro, o camarada… cuja única culpa, era não ter cara nem charme para um cartaz bonito. Não lhe deu o benefício da dúvida e, sorrateiramente, retirou-lhe o tapete ao indigitar o novo executivo do PSD. Ferro Rodrigues acusou o toque…e saiu batendo a porta!

Infidelidade a Santana Lopes

Santana chegou a S. Bento, frágil, débil, acossado por mil fantasmas. Como qualquer animal ferido, agiu impulsivamente, com emoções à flor da pele, com instinto de defesa e pouca cabeça. Os genes não o abandonaram e erros seus, má fortuna e amores ardentes, em sua perdição se conjuraram. Ou seja, pôs-se a jeito e foi …fatal! Á espreita, na sombra, dente afiado…. Sampaio esperou pelo novo líder do PS – Sócrates, esperou pelo novo líder do PCP – Jerónimo de Sousa, e atacou a maioria parlamentar. Dissolva-se! Santana afirmou que perguntou “três vezes”… e “três vezes” o Presidente lhe garantiu a não dissolução do Governo. Também “três vezes” Pedro negou conhecer Cristo…e conhecia! Santana entro em Belém para uma remodelação e saiu remodelado. Ainda no Palácio de Belém, durante uma hora falou ao telemóvel… “quase chorou” dizem alguns. Estava em choque. Nunca em anteriores conversas este cenário tinha sido equacionado… e ali estava, com o canastro ensanguentado na traição da praça pública!

Infidelidade a Mota Amaral

O presidente da Assembleia da República é a segunda figura do nosso sistema político – ainda que poucos o reconheçam. Como foi o caso de Jorge Sampaio que não se dignou sequer informa-lo da demissão do Parlamento. “Esquecimento”, alegou em reunião tardia. Mas se não perdoa as gaffes de um Primeiro-ministro recém indigitado, porque devemos perdoar os deslizes de memória de um Presidente que há muito deveria conhecer as suas responsabilidades?

Infidelidade ao Povo Português

Para indigitar o executivo de Santana Lopes, o Presidente da República ouviu… demoradamente… toda a gente! Para demitir a maioria da Assembleia da República não ouviu ninguém! Só depois da decisão, é que o povo português assistiu de boca aberta ao corrupio de reuniões. E durante mais de uma semana, o Presidente de (em termos teóricos) todos os portugueses, não se dignou dar uma palavra ao país. A decisão tomada e não explica era esmiuçada na comunicação social. Os comentadores desfiavam mil cenários. Os discursos políticos encenavam mil dramatizações. A oposição abria champanhe. E o povo português, incrédulo esperava, esperava, esperava….esperava. Só ao fim de muito dias, veio o discurso politicamente correcto, inodoro, incolor e asseado. Entendido de 10 milhões de maneiras… eu entendi, desta forma! E sinto-me triste!

Por: João Morgado

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