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«As finanças e a dívida da autarquia estão perfeitamente controladas»

Joaquim Valente, candidato do PS à Câmara da Guarda

P – Disse que o seu projecto era para oito anos. O que fez nestes primeiros quatro?

R – Fizemos muito, fizemos mais do que aquilo que eram as nossas expectativas. Executámos projectos, pusemos obras a concurso, terminámo-las e pagámo-las, o que é muito importante. Essas obras rondaram os 44 milhões de investimento…

P – As pessoas não vêem onde é que a Câmara investiu 44 milhões de euros. Pode referir essas obras?

R – O nosso primeiro objectivo foram as questões económicas, isto é, criar uma infraestrutura de qualidade na área empresarial para termos uma oferta para os empresários. Nesse sentido, investimos na PLIE 12,6 milhões de euros, que já tivemos que pagar para poder ir buscar a respectiva comparticipação do INTERREG, pois o reembolso faz-se com a apresentação do recibo por parte do empreiteiro. O que foi um esforço financeiro muito grande, mas que era preciso fazer porque é um projecto determinante para o futuro da Guarda. Em termos de acessibilidades e mobilidade investimos cerca de 10 milhões de euros. Iniciámos a requalificação da estrada Trinta-Videmonte para estimular a administração central a intervir na EN338 que ligará a Guarda ao maciço central da Serra da Estrela. Beneficiámos toda a estrutura viária do Vale do Mondego, executámos a entrada da Guarda na freguesia de S. Miguel desde a A25 até à Viceg. Sim, porque não foi a Estradas de Portugal (EP) que realizou essa obra, foi a Câmara através de um protocolo com a empresa para recorrer ao fundo das estradas, realizando a componente financeira nacional. Essa opção permitiu-nos poupar alguma coisa. Fizemos e pagámos a estrada entre o Seixo Amarelo e Gonçalo, que vinha sendo adiada há anos. Beneficiou-se grande parte da estrutura viária do Jarmelo, ligando o concelho de Pinhel à Castanheira, Monteiros, Pousade e Gagos. Intervimos também na requalificação da antiga EN16 entre o limite de Celorico da Beira e a cidade da Guarda. É uma estrada que permitirá aceder ao maciço central a partir do nó da Ratoeira da A25 e também à Guarda, sendo também uma estrada com potencial turístico. Beneficiámos também aquilo que era uma chaga do ponto de vista urbanístico, concretizando as infraestruturas e pavimentação da encosta do Cubo. Na área da educação e da cultura concluímos a Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, a Sala de Cultura de Famalicão e executámos o Jardim-de-Infância “O Castelo”. Também não descurámos a valorização urbana, investindo nomeadamente no centro histórico, que, em termos de infraestruturas públicas, já não é nada do que foi. Há gente a procurar esta zona para investir, é só percorrer aquelas ruas e ver a quantidade de imóveis que estão em recuperação. A CM também vai requalificar alguns dos seus imóveis e construir T1’s para realojar pessoas que vivem em condições precárias. Valorizámos o espaço da Torre de Menagem, que será uma porta de entrada da Guarda para quem nos visita. Ali terão toda a informação que precisam sobre a cidade e o concelho.

P – Já agora, para quando a sua inauguração?

R – Brevemente, entrará em funcionamento em finais de Outubro ou durante o mês de Novembro. Ainda no campo dos investimentos, beneficiámos vias urbanas, requalificámos ruas na zona de S. Miguel e pavimentámos umas dezenas largas de quilómetros de caminhos rurais nas freguesias, porque é tempo de nos virarmos mais para os recursos do mundo rural. Além destes investimentos, houve obras feitas por administração directa e protocolos com as Juntas e associações. Apesar das dificuldades, transferimos neste mandato cerca de 5,5 milhões de euros para as colectividades e as Juntas.

P – Ao longo desta lista fez questão de referir que os investimentos estão pagos. É para justificar o montante da dívida do município ou para contrariar a ideia de que a Câmara demora a pagar?

R – As obras estão pagas graças à candidatura ao PREDE – Programa de Regularização de Dívidas do Estado, onde conseguimos atingir o terceiro montante de financiamento a nível nacional em condições muito vantajosas sem aumentar a dívida da Câmara. Pudemos injectar na economia local cerca de 17,5 milhões de euros sem a sobrecarga dos juros que os nossos fornecedores nos imputavam por atrasos. Grande parte deste montante é financiado pela Direcção-Geral do Tesouro, que só começará a ser pago daqui a cinco anos. Contudo, não podemos parar os investimentos, mas sempre com a noção de que, quando nos estamos a endividar, é para executar projectos determinantes para o desenvolvimento e que tenham retorno. A PLIE, por exemplo, tem um retorno directo através da venda dos lotes e outro indirecto na economia e coesão social do concelho que, com o tempo, será muito maior que a venda dos lotes.

P – Quando chegou à Câmara decidiu não auditar as contas. Foi por uma questão de solidariedade partidária ou porque esperava encontrar uma situação financeira melhor?

R – Sabia para onde vinha, as contas da Câmara foram sempre públicas. No entanto, quero recordar que houve dois momentos que nos penalizaram directamente. Na Quinta do Alarcão tivemos que pagar 2,7 milhões de euros. Noutra acção que corria em tribunal relativamente à obra do TMG, em que o consórcio pedia uma indemnização por perdas e danos da ordem dos cinco milhões de euros, conseguimos, em sede de tribunal arbitral, negociar um acordo que passou pelo pagamento de uma indemnização de 1,5 milhões de euros. São valores elevados para alguém que inicia um mandato e se depara com eles logo no primeiro ano, mas ultrapassámos essas situações e hoje as finanças e a dívida da autarquia estão perfeitamente controladas, assim estivessem muitas Câmaras do país e da região.

P – Qual era a dívida em 2005 e a actual?

R – Era cerca de 42 milhões de euros e será agora de 52 milhões, mas veja que só na componente indemnizatória da Quinta do Alarcão e do TMG são cerca de cinco milhões.

P – Quando apresentou o seu programa disse que a meta era eleger o quinto vereador. Acha que tem condições para isso?

R – Pedi uma votação expressiva e estou convicto que a vou ter. Para isso, baseio-me tão só no trabalho que se tem feito, mas também naquilo que vejo no terreno, na disponibilidade das pessoas, na forma como me recebem, com afecto e carinho, e nas palavras de incentivo e alento que recebemos. Isto são sinais…

P – Mas isso não é normal para quem está no poder? Isto é, seria arriscado virar as costas a um presidente de Câmara que se recandidata…

R – Na vida, tudo se consegue à custa de trabalho e temos trabalhado. Os guardenses sabem que estamos a trabalhar com clareza, honestidade e disponibilidade. E também sabem que quem não trabalha não consegue os objectivos. Os nossos opositores – as cinco candidaturas – não conseguirem fazer listas em todas as freguesias, só o PS. É preciso trabalho e a população da Guarda penaliza quem não trabalha, não duvido disso, pois o povo sabe quem podia ter feito mais.

P – Portanto, acha que os eleitores vão penalizar o seu principal adversário, Crespo de Carvalho?

R – Tenho cinco adversários e todas as candidaturas são iguais. Os guardenses vão sufragar pessoas e programas, não tanto os partidos.

P – O PS tem sido acusado nesta pré-campanha autárquica de gerar um clima de asfixia democrática…

R – Rejeito completamente. Tenho uma vida bem estruturada sob todos os aspectos e ninguém me poderá acusar de não ser um democrata. Tenho muito orgulho nos princípios que a minha família me incutiu, além dos amigos, que me ajudaram a moldar esta verticalidade em termos de cidadania e de disponibilidade democrática. Mas não escondo que muitas pessoas que estiveram com outra candidatura há quatro anos estão agora com a do PS. As pessoas são livres e fizeram essa opção de forma espontânea. Toda a gente é bem-vinda na nossa candidatura, portanto não há qualquer tipo de asfixia democrática.

P – Qual vai ser a sua primeira medida se for reeleito?

R – É continuar o trabalho, o programa é para oito anos. O Hotel Turismo, a plataforma logística, a ligação da Viceg à Rua António Sérgio e a EN338 até ao maciço central são dossiers importantes para desenvolver, por forma a que, daqui a quatro anos, saia de cabeça levantada e com a satisfação de ter cumprido o meu dever.

P – Os guardenses querem saber com o que vão contar no mercado municipal e central de camionagem. Vai haver ou não centro comercial e quando?

R – Vamos ter centro comercial, novos equipamentos públicos e um espaço urbano regenerado. Uma das minhas metas é a requalificação urbana, pois não podemos querer promover a Guarda se não tivermos uma cidade cuidada, atractiva e onde as pessoas se sintam bem – e esse também é um dossier importante. Queremos requalificar novas frentes da cidade, nomeadamente na zona do mercado, do antigo quartel e da zona comercial, que já foi objecto de uma candidatura às Parcerias para a Regeneração Urbana, onde está também o parque de estacionamento junto à Torre de Menagem, na Associação Comercial, para que o centro histórico tenha outra dinâmica.

P – Mas com o que podemos contar no Guarda Shopping Center?

R – A crise existe e é natural que os promotores façam os seus ajustamentos económico-financeiros, foi o que aconteceu. O objectivo é iniciar a obra com a retoma, cujos sinais são já evidentes.

P – Já não arrisca adiantar prazos…

R – Somos donos dos terrenos e não o promotor do projecto. Há contratos assinados e estou muito próximo das decisões, que divulgarei quando estiverem tomadas.

P – Não o preocupa a falta de atracção de grandes empresas para a PLIE, que, até agora, só tem PME’s da Guarda?

R – Não, porque o importante é que a estratégia existe e depois virão as empresas, como já está a acontecer. Contudo, pessoalmente, prefiro ter mais pequenas e médias empresas do que grandes indústrias que facilmente se deslocalizarão do país. De resto, nunca houve tanto apoio às PME como com o Governo do PS e é aqui que se deve apostar, pois são elas a base de uma economia mais segura e sustentada.

P – Mas acha que vai conseguir lotar aquele espaço?

R – Continuarei a lutar e estou a perspectivar já o crescimento da área empresarial…

P – Isso já estava previsto inicialmente.

R – O projecto físico ainda não existe, mas estamos a diligenciar o seu alargamento.

P – A sociedade PLIE está moribunda por culpa de quem?

R – Não está moribunda, não está é a funcionar, porque a sociedade existe. O problema é que uma sociedade como esta não pode evoluir com uma realização de capital de 50 mil euros. Há empresários da Guarda disponíveis para este projecto e há outros accionistas que querem sair e não têm correspondido às nossas expectativas.

P – Quando é que isso vai mudar?

R – No início do próximo mandato faremos as respectivas reuniões do Conselho de Administração e da Assembleia Geral para que possamos definir para onde queremos e devemos caminhar. Uma coisa é certa: nunca será uma sociedade de capitais maioritariamente públicos, esse não é o desejo da Câmara nem serão as expectativas dos accionistas.

P – Acredita que o aumento de capital vai ser subscrito?

R – Acredito.

P – Até agora, quem comprou lotes tem pago à Câmara. Esse dinheiro vai ser devolvido à sociedade quando estiver tudo definido?

R – É óbvio. Teremos que acertar as contas, mas, até agora, quem fez investimento na plataforma logística foi o accionista Câmara da Guarda.

P – Acha que foi uma boa opção a Câmara liderar o processo?

R – Sem dúvida, até porque não estou a ver uma sociedade de capitais privados fazer um investimento daqueles. Em princípio, nem se poderiam candidatar aos fundos comunitários e, em segundo lugar, não é um projecto rentável a curto prazo.

P – No seu tempo de vereador foi o autor do sistema de periquação para construir a Alameda Ti’Jaquina. Mas, já lá vão 10 anos, e não há nada no terreno. Para quando este projecto que vai dar utilidade à Viceg?

R – Este projecto vai criar uma via que permite mobilidade e um acesso fácil ao centro da cidade, descongestionando o eixo das avenidas Cidade de Salamanca e Cidade de Safed. Isso é premente. A segunda componente são as zonas verdes e as vias de serviço, nesse sentido vamos concretizar essa acessibilidade expedita ao centro e as vias transversais serão depois executadas de acordo com o crescimento urbano daquele território, que é uma unidade operativa de construção. A ligação à Viceg a partir da rotunda da Ti’Jaquina é um objectivo deste mandato.

P – Disse que a Câmara transferiu cerca de 5,5 milhões para as Juntas e associações neste mandato, no entanto, muitas queixam-se de haver verbas por receber de anos anteriores. Não acha que a Câmara está a contribuir para liquidar as colectividades?

R – Estamos a apoiar as colectividades, acho que nunca houve tanto dinamismo nas associações e continuaremos a apoiá-las. Temos um concelho que respira cultura, agora, se fosse presidente de Junta, também gostaria de ter mais. Mas temos que gerir um pacote financeiro de forma equilibrada. Os investimentos feitos nas freguesias são os importantes para a consolidação da vida no mundo rural.

P – Acha que precisa destas pequenas obras eleitoralistas, que estão a ser feitas por todo o concelho, para ser eleito?

R – Não estou a fazer obras eleitoralistas, estamos a trabalhar melhor no terreno.

P – Está arrependido de ter convidado Lurdes Saavedra para a sua equipa?

R – Não. Sou muito realista, o projecto político fez-se, nada ficou por fazer e saímos deste mandato de consciência tranquila.

P – Mas saem de costas voltadas.

R – Eu não. Se há incompatibilidades pessoais, elas nunca podem prejudicar o trabalho de uma equipa e do seu projecto para a Guarda. Eu entendo que não foi prejudicado.

P – Disse recentemente que, se fosse reeleito, ia passar mais tempo nos ministérios. Isso significa que vai para o próximo Governo [esta entrevista foi realizada dois dias antes das legislativas]?

R – Não (risos). É natural que assim seja enquanto presidente de Câmara. É altura de nos centrarmos naqueles cinco ou seis dossiers que enumerei e que exigem um trabalho que tem que ser feito onde mora o poder. Continuarei a ser persistente e a preparar trabalho para que, quem vier a seguir, encontre uma estratégia e caminhos para trilhar.

P – Este mandato é para ir até ao fim?

R – Honrei sempre os meus compromissos.

P – Crespo de Carvalho já disse que concorre à presidência da Câmara e que, se não for eleito, não vai assumir o lugar de vereador. O que acha desta opção do candidato?

R – Não quero comentar. É a sua posição, respeito-a, quem tem que fazer essa avaliação é o povo da Guarda.

P – O que não voltaria a fazer no próximo mandato?

R – Estou satisfeito com o trabalho que fizemos. Quem me conhece sabe que nunca olhei para o passado. O meu lema é: fez-se, está feito. Vamos é fazer e trabalhar.

Comentários dos nossos leitores
André Rafael andre__rafael@hotmail.com
Comentário:
Há cerca de um mês, lia-se num jornal da Guarda que Joaquim Valente queria eleger cinco vereadores.Convenhamos que é uma pretensão arrasadora. Questionei-me como é que um homem que, para além de não ter obra feita ao longo dos quatro últimos anos, conseguiu – imagine-se – aumentar o passivo da Câmara, que já era enorme, em dez milhões de Euros, pode demonstrar tamanha arrogância, conceito que parece querer virar moda, nos tempos que correm. Fui-me informando e também investigando e cheguei à conclusão de que, de facto, não é necessário fazer obra. Consegue-se aquilo que o senhor pretende, “comprando” votos. Há muitas formas de o fazer e Joaquim Valente parece especialmente vocacionado, o que é de lamentar: Escolher os fornecedores da câmara, em função das suas preferências partidárias é uma delas. Incentivar a criação de uma associação bem regada com dinheiro da câmara, melhor,de todos nós, é outra.. Visitar uma freguesia e dizer às pessoas que têm que escolher a junta proposta pelo partido, ou então não haverá dinheiro para essa freguesia, afirmando-se já como vencedor antecipado, também o faz. Manobrar no sentido de levar ao afastamento de elementos de outras listas ( com o objectivo de as enfraquecer), conseguindo-o com promessas de vantagens para os próprios ou familiares directos, servindo-se da câmara para tal, tudo isto são formas de caciquismo indignas de um sistema democrátitco mas com o qual, Valente, talvez apenas no nome, parece dar-se muito bem. Infelizmente, digo eu.
 
Mariana Laide madelaidep@iol.pt
Comentário:
Senhor candidato a presidente da CMG: Se as finanças estão controladas, porque é que a dívida da Câmara aumentou mais de dez milhões de Euros, quando até deveria ter diminuído, dados os irrelevantes investimentos realizados?
 
MadGomes magomes77@gmail.com
Comentário:
Experimentem guardar os «papéis» que tão gentilmente os políticos nos entregam nas campanhas eleitorais e, se forem eleitos, confrontem-nos com as promessas na campanha seguinte… … Se não as cumpriram não votem neles!
 
André Rafael andre__rafael@hotmail.com
Comentário:
Afinal o aumento da dívida da Câmara no “ensonso” mandato de J. Valente, terá, afinal, sido de DEZASSEIS MILHÕES DE EUROS, sim, exactamente, 16 000 000,00 Euros. Esta situação só é perceptível, quando se lê a entrevista de Crespo de Carvalho. Ficamos também a saber que Joaquim Valente oculta, intencionalmente, este valor, o que é revelador da atitude e do seu grau de transparência, algo que parece ser pouco caro a este autarca. Chegados aqui, imeditamente nos vem à memória a sua lamentável actuação no caso “mamarrachos da Guarda”, com o objectivo claro de protecção da desgastada imagem, devida a escândalos sucessivos, de José Sócrates. Creio que os guardenses terão que tomar consciência da gravíssima situação financeira da Câmara e das consequências futuras, antes de entregar o voto a um homem que não é, como pudemos ver neste mandato, um exemplo de boa gestão da Câmara. Muito pelo contrário…
 

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        perfeitamente controladas»

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