«Temos que dar ao Povo aquilo que o Povo gosta». «A cultura não dá dinheiro, porque se desse era explorada pela iniciativa privada». Duas afirmações que, repetidas num espaço de tempo tão curto, julgo que pretendem ser definidoras de pensamento estratégico, e do que se entende sobre o papel da C.M. Guarda na promoção e animação cultural. Transcreva-se agora, e para nos situarmos, o que o programa político da maioria nas últimas eleições autárquicas continha no capitulo II – Cultura:
1 – Incentivar e apoiar a criação cultural;
2 – Apostar na investigação e divulgação da cultura local, encarando-as também numa óptica empresarial e potenciadora do desenvolvimento do concelho;
3 – Impulsionar a projecção do Centro de Estudos Ibéricos (…), promovendo a interação entre investigação e desenvolvimento e propondo a Guarda como plataforma de iniciativas ibéricas de I&D.
4 – Consolidar o novo Teatro Municipal da Guarda como centro regional de realizações culturais, continuando a propor iniciativas de qualidade capazes de afirmar a Guarda como protagonista cultural nos planos regional, nacional e transnacional.
5 – Intensificar a acção do Núcleo de Animação Cultural (NAC) com vista à promoção e divulgação da cultura popular. A intervenção do NAC corresponderá a um efectivo esforço de qualificação urbanística do espaço público rural, como condição essencial para uma acção cultural de qualidade. O NAC promoverá a recuperação das memórias locais, incentivando e apoiando as iniciativas que contribuam para a reposição das tradições comunitárias.
6 – Elaborar a Carta Municipal do Património.
7 – Elaborar a Carta Arqueológica Municipal.
Fica assim claro o que são as promessas eleitorais na área da cultura.
E no capítulo do Turismo, o que consta que possa ter a ver com a matéria? Só isto:
12 – Promover e dinamizar a animação do Centro Histórico, revitalizar as festas populares e reposicionar as Festas da Cidade.
Quem leu o programa sufragado nas urnas por maioria, apenas não viu escrito, mas era óbvio que «revitalizar e reposicionar» era utilizar uma comisão de festas que, já que temos duas estruturas profissionais para a cultura, pudessem dar um contributo para o incremento do Turismo.
E como estamos em época de vacas magras, rentabilizem-se actuais e ex-funcionários da CMG que serão capazes de recolher donativos de instituições várias, conforme missiva enviada, pelo menos, a quem já colaborou. Nela pode ler-se: «Deste evento (Festas da Cidade), tal como aconteceu em anos anteriores, constarão actividades culturais e recreativas, destacando-se os espectáculos que serão levados a efeito no Parque Municipal. Para que sejam umas Festas com dignidade e representativas da Cidade, é necessário ter um elenco de Artistas com bastante valor, o que representa o dispêndio de verbas com alguma dimensão. Quaisquer detalhes serão acertados oportunamente».
Fica assim claro que, mesmo aqueles que normalmente estão bem informados, como é o caso de “O Interior”, foram surprendidos com a aplicação prática do programa. Afinal as Festas da Cidade, constando no capítulo do Turismo, não pretendem senão incentivar o “turismo interno”, mesmo com as obras por acabar na Praça Velha.
A restante programação segue dentro de momentos, mas os primeiros sinais são já esclarecedores.
Vamos ter o Povo em delírio porque vai ter o que gosta. Povo é, como vem definido no dicionário Porto Editora, «o conjunto de indivíduos que têm a mesma origem, a mesma língua, e partilham instituições, tradições, costumes e um passado cultural e histórico comum».
Se assim não fosse seria de estranhar?
Por: J. L. Crespo de Carvalho