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«As Entidades Públicas Empresariais permitem travar o rumo da privatização»

Cara a Cara – Entrevista

P – É um dos nomes mais apontados para substituir Miguel Castelo Branco no Conselho de Administração. Está disponível para ocupar esse cargo?

R- Já tive a minha quota-parte no Hospital da Cova da Beira durante alguns anos e confesso que me é mais agradável ser cirurgião e director do Departamento de Cirurgia. Na verdade, gosto muito daquilo que faço. Porém, farei tudo aquilo que for necessário fazer em relação ao hospital, até porque nunca fugi às minhas responsabilidades. Na minha óptica, todos temos de estar disponíveis para ajudar e tentar desempenhar um bom trabalho.

P – Mas se vier a desempenhar esse cargo, o que gostaria de ver mudado?

R – Nunca recusei a minha participação como profissional no hospital e, assim sendo, haverá muita coisa que está de acordo com o meu pensar. No entanto, nunca concordei, por exemplo, com a passagem dos hospitais para SA. Parece-me que a saúde é uma área demasiado importante para não fazer parte dos planos públicos do Governo e de um Estado de Direito e, por outro lado, para estar nas mãos de pessoas que pensam em termos de lucro. Quando se fala em “empresa” somos remetidos de imediato para o conceito de “lucro”, mas um hospital terá de pensar sobretudo em cumprir a sua função em relação às pessoas que serve e isso não pode implicar questões relacionadas com o lucro. É necessário, naturalmente, que se faça uma boa gestão dos recursos. No entanto, o Estado tem de garantir as necessidades básicas das populações e a Saúde é uma delas.

P – Qual então a sua opinião sobre a conversão dos hospitais SA em Entidades Públicas Empresariais, que o actual Governo pretende aplicar?

R – As Entidades Públicas Empresariais permitem, em certa medida, travar o rumo da privatização. A meu ver, esta conversão significa que o Ministério da Saúde vai tentar pôr algum travão nesta privatização dos serviços. Como já disse, a Saúde não pode deixar de ser uma responsabilidade do Estado. Há que pensar sobretudo nos doentes e nos idosos, que não podem ser abandonados em empresas que pensam essencialmente no lucro. Cabe ao Estado assumir esta responsabilidade de proteger os mais desfavorecidos.

P – A criação de uma única Unidade Local de Saúde no distrito tem causado polémica na Covilhã. Também partilha da opinião de que deveriam ser criadas duas?

R – Penso que a Unidade de Saúde Local será uma boa alternativa, desde que exista um histórico de bom relacionamento entre os Centros de Saúde e os Hospitais. Sei que esse relacionamento existe na Covilhã, Fundão, Belmonte e Penamacor. Assim sendo, penso que não será difícil implementar um sistema deste género. Mas não sei se nos outros sítios será assim, uma vez que desconheço o entrosamento das instituições da Guarda e de Castelo Branco. Não creio, no entanto, que seja favorável juntar todas as instituições sem analisar as características de cada uma. É necessário ter um conhecimento profundo do terreno. No interior, existem três grandes hospitais de média dimensão (Cova da Beira, Guarda e Castelo Branco) que têm uma realidade muito semelhante. Existem dois caminhos: ou se agregam os três numa zona que tem perto de 400 mil habitantes, e se redimensionam estratégias, ou se pensa cada um deles separadamente, em termos das Unidades Locais de Saúde. Aí sim, poderá fazer sentido. Antes de mais, é fundamental que cada hospital procure um bom relacionamento na sua área. Só depois se poderá pensar numa situação mais alargada, isto porque em Saúde não se pode correr o risco de falhar.

P-Acha que Miguel Castelo Branco desempenhou bem o cargo? O que faltou fazer?

R – Miguel Castelo Branco fazia parte da minha equipa quando fui director do hospital. Nesse sentido, seria quase uma indelicadeza pronunciar-me negativamente sobre o seu trabalho nestes últimos anos. No entanto, e em termos de política geral do Ministério da Saúde, o aspecto positivo que julgo ter-se concretizado foi a percepção de que os hospitais SA não vieram melhorar a Saúde nem trouxeram sequer, em muitos casos, benefícios económicos.

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