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As confusões do pós-25 de Abril

Coisas…

Ele há coisas que me confundem: antes do 25 de Abril a situação era clara, havia o Salazar que zelava por nós e de quem não se podia dizer mal e havia os outros, pouco mais que bárbaros, adeptos do amor-livre e das injecções atrás da orelha, que queriam fazer mal ao Salazar e que se chamavam comunistas. Uma polícia política, uma censura estupidamente eficaz, analfabetismo quanto baste e já está.

Deu-se o 25 e as coisas complicaram-se um bocadinho: havia os comunistas que passaram a ser bons, os socialistas que antes do 25 eram comunistas e que agora também eram bons, os populares-democratas que ninguém sabia bem o que eram e havia os fascistas que eram os que não eram comunistas nem socialistas e que eram maus. Até agora, apesar de tudo…, tudo muito fácil.

Passaram-se alguns anos e as coisas começaram a ficar mais confusas: apareceram os social-democratas que vieram substituir os populares-democratas e que ninguém sabia bem o que eram, não sendo comunistas nem socialistas, também não eram fascistas e, para complicar ainda mais, surgem os centristas que eram um bocadinho fascistas no entender dos comunistas. Confuso? Ainda não.

Mais alguns anos passaram e os comunistas já não eram bem comunistas e já não chamavam fascistas a ninguém (o que é estranho num comunista), os socialistas já eram social-democratas, os social-democratas continuava a não se saber bem o que eram e os centristas tornaram-se populares, mais de nome que outra coisa, mas já não eram fascistas porque já não havia.

Trinta anos passados sobre o 2º parágrafo é que as coisas se complicam: comunistas já não há, fascistas também não, socialistas há poucos e social-democratas há-os aos pontapés mas continua a não se saber bem o que são.

Ah! E há populares mas consta que se dedicam agora a tentar negar que há trinta anos ocorreu uma revolução que me permite, entre outras coisas, escrever este texto.

Por: António Matos Godinho

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