“ E a casa aguardava, a bela casa, sob as suas camadas de ferrugem e terra, sob as suas sombras a as suas trepadeiras emaranhadas, sob o calor e a humidade, ela aguardava.
Anne Rice em “A Hora das Bruxas”
Caros concidadãos:
Na minha singelez provavelmente simplória venho dizer uma enormidade: tanto me faz que o Hospital Novo fique no Torrão, na Quinta da Maúnça, em Celorico da Beira ou resulte da modernização, reconstrução e ampliação das actuais instalações.
Pessoalmente, gosto muito do espaço onde o ex-sanatório foi instalado e sei que muitas pessoas fazem dele percurso regular de exercício e/ou relaxamento, de manhã, à tarde, à noite e, até, de madrugada.
Há quem nele apanhe castanhas-da-índia para levar à mãe, castanhas para comer e podas para transplantar.
Por mim até podemos ir todos, os actuais funcionário do Hospital Sousa Martins, para o Hospital Pêro da Covilhã, que é novo, limpinho, bem equipado e tem falta de pessoal. Seriam 30 minutos bem divertidos de auto-estrada a ouvir a Ana Lamy na Antena 3. Claro que aumentaríamos o nosso risco individual de morte violenta, mas qual é a morte que o não é, mesmo que ocorra em casa, entre parreiras?
Agora, por favor, não dêem cabo das sequóias, dos castanheiros, vulgares e da índia, da vinha-virgem que incendeia a base do antigo Pavilhão Rainha D. Amélia, do maciço de bambus, dos raros mustageiros que persistem e daqueles belíssimos edifícios, fantasmagóricos e semi-arruinados, que já viram muito e ainda querem ver, se os deixarem. São amados por muita gente, nesta cidade. E um dia virá em que alguém lhes restituirá o antigo fulgor e deles fará um centro de acolhimento, uma casa de repouso, um hospital, um museu ou uma pousada.
Entretanto, no caso de resolverem construir o silo-auto, por favor façam-no silóbaixo. Não sei bem porquê mas parece-me que uma torre de cimento entre o chafariz de Sto. André e o edifício da Rádio Altitude não vem a calhar.
Quanto ao hospital, propriamente dito, construam-no onde entenderem. Agora, por favor, tentem fazer uma coisa minimamente decente. Outra obra de regime, ao estilo do actual “Pavilhão Novo”, seria uma incongruência. Ou uma estúpida continuidade, no caminho do compadrio e da incompetência.
Uma casa onde a chuva não entre, estão a ver? Onde os tectos não dêem de si ao fim de 5 anos. Onde se possa passar entre as macas. Onde os rodapés não acumulem toda a espécie de detritos por não estarem congruentes com as paredes. Onde as salas de operações não necessitem de ser encerradas sempre que a pluviosidade aumenta. Onde as fossas não extravasem para o interior da Central de Esterilização.
Uma obra bem feita, meus senhores. É que não basta ser novo. É preciso que seja bem construído. Senão mais vale fazer um estádio.
Adiante.
Não sei se já alguma vez estiveram internados e dependentes, mas não vos deve ser difícil imaginar que, no caso de estarmos lúcidos e conscientes, pode dar muito jeito ter um quartinho só para nós.
Tinha um colega que antes de piorar e morrer esteve internado em Coimbra, numa enfermaria de 3 camas, onde se sentiu muito bem, porque era um homem gregário, um grande conversador que adorava companhia.
Quando estivermos chéchés, tanto nos fará. Mais fralda, menos fralda, mais arrastadeira, menos arrastadeira.
Mas até lá, crede-me, a privacidade é um privilégio e, creio que também um direito, desde que a campainha funcione, é claro.
Um quarto de 6 camas, para um doente consciente, é demolidor.
Por: Maria Massena