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Aristides de Sousa Mendes homenageado em Vilar Formoso

Descendentes do cônsul português em Bordéus na II Guerra Mundial receberam uma réplica do visto que permitiu salvar milhares de pessoas

Netos e bisnetos de Aristides de Sousa Mendes pararam, terça-feira, em Vilar Formoso no âmbito da reconstituição simbólica da viagem que permitiu salvar 30 mil refugiados, entre os quais 12 mil judeus, durante a IIª Guerra Mundial.

Vindos do Canadá, Estados Unidos, Bélgica, França e Portugal, cerca de 30 descendentes do cônsul português em Bordéus, em 1940, partiram daquela cidade do sudoeste francês rumo ao nosso país, num trajecto marcado por várias homenagens. Na capital da Aquitânia, Aristides de Sousa Mendes recebeu, a título póstumo, o Grande Prémio Humanitário da França e o título de Cidadão Honorário de Bordéus. Já na fronteira franco-espanhola de Irún/Hendaia, duas centenas de quilómetros depois, foi descerrada uma lápide na antiga ponte que separa aqueles dois países. A comitiva chegou a Vilar Formoso ao final da tarde para uma última cerimónia, que consistiu na entrega aos familiares de uma réplica do visto que permitiu salvar milhares de pessoas do terror nazi, oferecida pela Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE).

Por sua vez, o município de Almeida concedeu ao cônsul o título de cidadão honorário, tendo sido ainda descerrada uma lápide na estação de caminhos-de-ferro da vila fronteiriça. “É um acto de justiça à memória de um herói na História dos povos, já que Aristides de Sousa Mendes foi o protagonista do maior acto de salvação promovido por uma pessoa durante o holocausto nazi”, destacou o presidente da RTSE. Por esse feito, o “justo português” – como é recordado em Israel – tem «o destaque que tem no Mausoléu “Yad Vashem”, o Memorial do Holocausto, em Jerusalém», recordou Jorge Patrão. Ao associar-se a esta iniciativa, a RTSE espera promover junto da comunidade judaica internacional a Rota das Judiarias existente na região, com destaque para Belmonte, Guarda e Trancoso. Por outro lado, vai instalar brevemente, na Guarda e Vilar Formoso, um memorial ao cônsul que contrariou as ordens do Governo de Salazar.

Foi a 17 de Junho de 1940 que Aristides de Sousa Mendes (1885-1954) começou a passar vistos a refugiados de guerra, entre eles milhares de judeus, impedindo assim a sua prisão e morte às mãos dos nazis. No entanto, o cônsul-geral foi proibido de conceder esses vistos, mas como considerou que as normas eram racistas e desumanas, resolveu infringi-las. Até porque o diplomata sabia que o visto de entrada em Portugal seria a única esperança para aquela gente. Na manhã de 17 de Junho decidiu conceder vistos a todos. Trabalhou três dias e três noites, passando documentos para cerca de 30 mil refugiados. Regressou então a Portugal onde foi alvo de processo disciplinar e expulso da carreira diplomática. A sua situação económica degradou-se e Aristides de Sousa Mendes morreu na miséria, porque, segundo o próprio afirmou, decidiu estar «antes com Deus contra os Homens do que com os Homens contra Deus».

Luis Martins

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