Adilson, Prelj e Liberalino têm algo que os une, mas também muitas diferenças. São todos oriundos de países bastante distantes, mas os três vão passar o Natal por cá. Nada que seja uma novidade para estes cidadãos que, por diferentes motivos, adotaram Portugal como a sua “segunda pátria”. O INTERIOR foi perceber quais as principais diferenças que sentem a nível das tradições nesta época festiva.
Prelj Marku nasceu no Kosovo há 51 anos e está há quase 20 em Portugal, mais concretamente em Gouveia, de onde é originária a sua esposa, após ter estado emigrado na Suíça. As diferenças nas tradições de Natal encontra-as principalmente na parte da alimentação, pois, enquanto em Portugal o bacalhau é “obrigatório” na noite de Consoada, no seu país natal «normalmente come-se peixe, em especial pescada». Uma tradição curiosa é que Prelj não come carne «antes da meia-noite», algo que já fazia no seu país e que continua a fazer por cá, sendo acompanhado pela sua família. Já depois de soarem as 12 badaladas, «nem que passe só um minuto, já se pode comer carne». De resto, as diferenças são «poucas», pois «também é costume a família juntar-se e há Missa do Galo», revela este luso-kosovar que não vai ao seu país há dois anos. Prelj Marku confessa já ter «saudades» de passar o Natal no Kosovo, que está «muito mais calmo atualmente», e o sonho de voltar «está sempre no ar». O imigrante não afasta mesmo a hipótese de «poder passar metade do ano em Portugal e a outra no Kosovo».
Por sua vez, Liberalino Almeida é brasileiro, tem 58 anos e está em Portugal desde 1976, para onde veio jogar futebol no Salgueiros (Porto). Está radicado na Guarda desde 1982, onde jogou na extinta Associação Desportiva durante seis épocas. O atual treinador do Mileu recorda que, no nosso país, passou o primeiro Natal em casa do presidente do Salgueiros. Logo aí constatou que as tradições nos dois países eram «muito diferentes», estranhando que em Portugal «se tenha de ficar em casa junto da família», quando no Brasil «podemos andar com os amigos na rua à vontade». O técnico considera que «lá o convívio é melhor», revelando que o último Natal que passou em Maceió, de onde é natural, foi há três anos porque «há muitos anos que já não o fazia e já tinha saudades». De resto, recorda que por ser verão nesta altura no Brasil «o pessoal costuma ir para a praia e para o parque». Quanto à alimentação, no Nordeste há a tradição de, «quem tem dinheiro», comer peru assado na véspera de Natal, enquanto os menos abonados «se contentam com um franguinho». No que toca a doces, é costume comer-se “canjica”, que tem um aspeto semelhante ao arroz doce mas é feita com milho, e bolos tradicionais. «Aqui tem que comer bacalhau e polvo», iguarias de que Liberalino confessa não ser «grande apreciador». Outra curiosidade é que “do outro lado do Atlântico” há a tradição da «troca de prendas com um amigo oculto, seja no trabalho, futebol ou entre amigos».
Em África, mais propriamente Cabo Verde, nasceu Adilson Santos, de 38 anos, que reside na Covilhã há cerca de dez após ter vindo estudar Sociologia na UBI. Atualmente é um dos gerentes dos cinemas de um centro comercial da cidade, não vai ao seu país há cinco anos e encontra «pouquíssimas diferenças» entre os dois países nesta quadra. A explicação é simples: «A maior parte das tradições de Natal em Cabo Verde herdámo-las de Portugal», refere. Uma das diferenças é que em África tinha «mais familiares e o clima não é tão frio», enquanto que na Covilhã passa a noite de Consoada na companhia da esposa e dos seus dois filhos e também de alguns amigos. Mais uma vez, as principais diferenças verificam-se na alimentação, pois em Cabo Verde é costume comer-se «marisco feito de várias formas, pois também é muito mais barato do que cá», leitão assado e “cabritada”, um prato típico composto por «cabrito e congos [ervilhas]». Além disso, lembra-se de ter comido bacalhau na sua terra natal «há uns 15 ou 20 anos
porque a minha mãe também viveu em Portugal e levou essa tradição». Para atenuar um pouco as saudades do seu país, a Consoada de Adilson em Portugal não passa sem «um prato de bacalhau e outro de marisco».
Ricardo Cordeiro