Soube esta semana que os Delfins vão acabar. Nos primeiros momentos hesito entre a esperança da utopia – um mundo sem os Delfins é um mundo melhor –, a insegurança da incredulidade – até 2010 eles podem mudar de ideias – e a certeza do inferno – não se vislumbra o fim dos Pólo Norte. Reconheço ao governo de Sócrates, entre disparates e tiques de soberba, esta medida concreta para aliviar, como eles dizem, “o sofrimento aos portugueses”. O executivo socialista pode ter desmantelado a rede de cuidados de saúde no interior, pode ter encerrado escolas primárias em muitas aldeias, mas é no seu mandato que termina a desesperadamente longa carreiras dos Delfins. Estranhei que este feito não tivesse sido anunciado no debate parlamentar, bem mais importante que uma qualquer taxa Robin dos Bosques, nomeadamente para todos aqueles que não têm carro, aqueles para quem é mais doloroso ouvir outra vez o Miguel Ângelo na televisão do que encher mais um depósito. Sócrates, preocupado com o seu estado de danação, esqueceu-se do estado em que vai ficar a nação a partir de 1 de Janeiro de 2010, sem os Delfins, mas com uma enorme alegria no coração. O timing pode parecer eleitoralista, mas há decisões que não se compadecem com as mesquinhices partidárias. O parlamento, da mesma forma que votou por unanimidade o enquadramento da pobreza como uma violação dos direitos humanos, devia considerar a existência de Delfins e afins (trocadilho não pretendido) como uma violação gravíssima (mais grave que a voz de Miguel Ângelo) da Declaração Universal – e mesmo da Convenção de Genebra, quando estes cantam “Soltem os Prisioneiros”.
Prometa Sócrates terminar a – por assim dizer – carreira do Pólo Norte e suspender os – por assim dizer – espectáculos de João Pedro Pais e não só terá o meu voto, como poderá contar com uma maioria absoluta a roçar a unanimidade. Numa arriscada previsão de comportamento eleitoral, admito que os fãs desses – por assim dizer – cantores votem num partido da oposição e elejam um – por assim dizer – deputado.
Espero que o governo não recue como é seu costume. Os seis admiradores da banda de Cascais podem ser muito incomodativos. Às vezes mais do que os próprios Delfins. Presumo que o ministério responsável pelo encerramento de bandas seja o da Cultura. Afinal, o ministro disse esta semana que pretende preservar o património cultural português e os Delfins não voltarem a cantar é uma garantia dessa preservação.
Dr. Pinto Ribeiro, aguente com firmeza os ataques dos saudosistas que reclamem o regresso dos Delfins. Lembre-se da máxima dos conquistadores do oeste americano: “Um bom Delfim é um delfim calado”. Lembre-se do desespero de Maria Antonieta nos primeiros anos em Versailles por não dar nenhum delfim a França. Lembre-se do nosso por Cascais nos ter dado logo cinco. É um favor que a nação lhe pede. Delfim só o do José Cardoso Pires.
Por: Nuno Amaral Jerónimo