As Obras Completas de Eduardo Lourenço foram apresentadas na passada sexta-feira em Lisboa.
O primeiro volume tem por título “Heterodoxias” – assumindo, com o plural, a multiplicidade do conceito – e retoma os textos já incluídos nas versões anteriores, recolhe inéditos e inaugura o projeto das Obras Completas de Eduardo Lourenço, desenvolvido pela Universidade de Évora e a Fundação Calouste Gulbenkian, com a colaboração da editora Gradiva. O projeto tem vindo a ser acompanhado pelo próprio autor. Estas “Heterodoxias” surgem 62 anos após a primeira edição, na qual o ensaísta expunha desde logo a evidência: «O homem é uma realidade dividida. O respeito pela sua divisão é heterodoxia». A “Heterodoxia I” foi publicada em 1949, quatro anos após o final da II Guerra Mundial, enquanto “Heterodoxia II” surgiu em 1967, agrupando, num caso e no outro, conjuntos de textos que entendem o conceito – a heterodoxia – como algo intrínseco ao humano e assumindo-o, em simultâneo, como forma de contestação das principais ortodoxias políticas da época, que dividiam o mundo e marcavam Portugal.
Neste volume de abertura das Obras Completas, além das Heterodoxias I e II e do prefácio à reedição de 1987 dos dois volumes iniciais – “Escrita e Morte” -, publicada pela Assírio & Alvim, aparece igualmente um conjunto de textos dispersos e inéditos que foram redigidos ou publicados em épocas mais ou menos contemporâneas às duas primeiras versões. À nova edição, o autor acrescentou ainda um capítulo que designou por “Heterodoxia III”, no qual se espera encontrar material original, em grande parte proveniente do seu espólio, cuja recolha e organização se encontra em curso, mas que já teve uma abordagem inicial na revista Colóquio-Letras de Maio de 2009, exclusivamente dedicada ao autor de “O labirinto da saudade”.