Ensinar as jovens adolescentes a serem mães é o principal objectivo do Centro de Apoio à Vida (CAV) da Guarda. Situada num recanto quase escondido da Estação, a casa passa despercebida aos olhares de quem por passa na rua. No entanto, é impossível ficar indiferente quando se entra.
O Bernardo (nome fictício), com pouco mais de um ano, corre em direcção à porta para fazer as delícias de quem chega à casa. Mas rapidamente se assusta com o desconhecido, procurando o colo de quem conhece: a mãe, que dentro de alguns meses lhe dará um irmão. No CAV, o riso mistura-se com o choro dos mais pequenos, que vão brincando cada um à sua maneira. A simpática Joana (nome fictício) também corre pela casa sempre com um sorriso à espera que alguém queira brincar com ela. Entretanto, o pequeno João (nome fictício), com apenas três semanas, dorme e nem o barulho dos mais traquinas parece incomodá-lo. A Inês (nome fictício), de 24 anos, mãe do João, está na instituição desde Setembro de 2006 e conta que, antes de vir, estava em casa da sua irmã «numa quinta, onde trabalhava na agricultura». Num futuro próximo, a jovem mãe sonha em «arranjar um trabalho e ser feliz» e, mais tarde, «ter uma casa e morar com o pai do meu filho», revela, emocionada.
Nesta instituição nada parece faltar às mães e, principalmente, às crianças. Mas Susana Xavier faz questão de salientar que apenas conseguem fazer com que nada falte graças a «uma boa gestão» na casa, e que o mais importante é que «nada falte nem às crianças, nem às mães». Contudo, a vice-presidente da Cáritas Diocesana da Guarda lamenta que haja «tão poucos apoios», pois naquela instituição tudo é bem-vindo. «É muito complicado gerir uma casa com sete crianças a usar fraldas e a serem amamentadas. Fazem-nos muita falta todos os géneros de donativos, nomeadamente a carne, o peixe, frutas, vegetais e papas, que são sempre necessários», salienta. Nesse sentido, Susana Xavier apela ao envio de donativos para a Cáritas para salvaguardar as mães e as crianças acolhidas pela instituição.
Em 1998, a Cáritas criou uma linha de apoio para as jovens adolescentes grávidas. No entanto, a responsável conta que essa linha era mais procurada «por jovens de fora da região», pelo que acabaram por optar por atender directamente na sede e prestar apoio psicológico, social, bem como cuidados de saúde. Mas isso não era suficiente. Nesse sentido, em 2004, o desejo de ter um lar para acolher as mães solteiras acabou por ser concretizado. «Começámos com uma casa alugada e mais tarde mudámos para uma casa adaptada que é da Diocese, conseguimos apoio do Centro Regional de Segurança Social e hoje em dia o acordo ainda se mantém nos mesmos moldes», recorda a médica pediatra. O protocolo celebrado em 2004 consistia em apoiar oito pessoas, o que corresponde a quatro mães e respectivos filhos. Porém, a vice-presidente salienta que a procura «é muita» e, neste momento, a instituição acolhe sete mães e sete filhos, sendo que uma delas está grávida. A maioria das jovens acaba por permanecer, em média, no CAV cerca de dois anos. «Saem logo que tenham condições para ter independência e deixam a vaga para outras, mas a primeira prioridade desde que entram é terem todo o apoio que necessitam para que as crianças nasçam bem e saudáveis», sublinha. Contudo, mesmo após a saída das mães, a Cáritas continua a acompanhar o processo e a apoiar a integração social.
CAV já acolheu 24 mães solteiras desde 2004
Desde que a Cáritas criou a casa de acolhimento de mães solteiras, em 2004, já passaram pela casa 24 mães, sendo que entre elas estão algumas situações de emergência social, ou seja, acolhidas provisoriamente. Quanto aos motivos pelos quais as jovens chegam à instituição, Vera Pragana, directores técnica e psicóloga do Centro, refere que «a situação mais comum é a económica», sem, no entanto, deixar de frisar que «todas elas são mães muito jovens», e normalmente não têm apoio familiar. Na casa aprendem a cuidar dos filhos, a desempenhar as tarefas domésticas e a cozinhar, sempre supervisionadas por uma funcionária. Segundo a directora, as jovens mães «passam sempre por uma fase bastante complicada que é a de adaptação a uma instituição com regras». Actualmente, a mãe mais jovem apoiada pela instituição tem 15 anos, tendo dado entrada no CAV aos 14 anos. Vera Pragana conta ainda que «nem sempre é fácil integrá-las na sociedade», nomeadamente por serem mães solteiras e por terem uma baixa escolaridade. «A nossa aposta vai no sentido de que elas desenvolvam competências a esse nível e tenham pelo menos o 9º ano de escolaridade», refere a psicóloga.
Tânia Santos