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Apenas mais uma ameaça

Menos que Zero

Este fim-de-semana foi completamente dominado pelas eleições espanholas. Alguns analistas, e particularmente os partidos políticos portugueses, atribuíram a derrota do PP ao facto do Governo espanhol ter tentado ocultar a verdadeira autoria do atentado em Madrid. Sinceramente, não acredito nesta tese. Digam o que disserem, a mudança do sentido de voto foi consequência do medo que os espanhóis sentiram, depois de alguns terem associado o atentado à participação espanhola nas tropas da coligação.

A alternância no poder é um processo normal e até salutar. Mas esta mudança surgiu em resposta a um atentado terrorista e, por isso, não pode ser vista da mesma forma. É preciso não esquecer que, cinco dias antes das eleições, o PP estava no limiar da maioria parlamentar e no domingo acabou por ser derrotado pelo PSOE.

Perante esta reacção popular, esperava-se que o primeiro-ministro eleito desse um sinal de força. Mas, infelizmente, a primeira medida anunciada por Zapatero foi a retirada das tropas espanholas do Iraque. Era uma promessa eleitoral, bem sei, mas podiam esperar mais algum tempo para a cumprir, evitando assim que se tire a conclusão óbvia: a retirada dos soldados espanhóis é consequência do atentado. Quanto a mim, esta atitude foi o capitular de uma democracia face ao terrorismo. Se já estávamos reféns dos terroristas, agora estamos ainda pior.

O atentado de Madrid desencadeou uma cimeira entre ministros europeus do Interior, com o objectivo de encontrar formas de luta contra o terrorismo. Mais uma vez a Europa vai a reboque dos acontecimentos e, quanto a mim, vai agora discutir um problema de difícil resolução. A Europa, que nunca teve um verdadeiro sistema de segurança comum, é um espaço de livre circulação onde vivem milhões de pessoas vindas de todas as partes do mundo. Os terroristas que vivem na Europa chegaram há anos, e hoje em dia estão perfeitamente integrados na sociedade o que, portanto, torna mais difícil a sua identificação.

Uma vez perguntei a um amigo israelita como é possível viver sob a permanente ameaça de atentados. Respondeu-me que nem pensava nisso. Os atentados são tão habituais que a possibilidade de morrer devido ao rebentamento de uma bomba é encarada da mesma forma que a hipótese de morrer num qualquer acidente.

Apesar de não vivermos uma situação semelhante, considero que a Europa está condenada a aceitar a ameaça terrorista como mais um perigo igual a todos os outros que afectam as sociedades democráticas. Por isso, devemos viver o dia-a-dia sem pânicos e encarar a possibilidade de um atentado com a mesma naturalidade com que entramos no automóvel para mais uma viagem nas estradas portuguesas: prudentes, serenos e atentos.

Por: João Canavilhas

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