O tempo passa e não dá tréguas ao antigo Cine-Teatro da Guarda, que continua a degradar-se. Mas para além do aspeto negativo que o edifício confere àquela zona central da cidade, surgem agora problemas de insalubridade decorrentes da sua condição devoluta. Gatos vadios, ratos, pombas, vegetação e lixo pululam naquele imóvel histórico da cidade e preocupam moradores e comerciantes da vizinhança, de acordo com alguns relatos ouvidos por O INTERIOR.
Contudo, a Câmara da Guarda, através do gabinete de relações públicas, diz «não ter conhecimento de questões de insalubridade» no local. A mesma fonte revela que «não entrou na autarquia nenhuma carta ou reclamação de nenhuma forma» a alertar para o problema e que, assim sendo, o município «não pode fazer nada» relativamente ao edifício por este ser propriedade privada. «Só há intervenção camarária em casos de emergência, quando é colocada em risco a segurança pública», prossegue a autarquia. A Câmara da Guarda adiantou ainda que «já notificou o proprietário», alertando-o para a vegetação que se multiplica no local, bem como para «alguns vidros que se partiram e caíram para a rua, colocando em risco a segurança das pessoas» e que entretanto a proteção civil municipal «tomou a iniciativa, colocando tábuas para impedir a queda dos restantes vidros».
No entanto, a autarquia admite que poderá «atuar e tomar as devidas diligências», mas apenas quando moradores e comerciantes lhe «fizerem chegar as suas queixas, explicando o que se passa». O edifício é propriedade de Antero Cabral Marques, empresário da construção, que, contactado por O INTERIOR, disse apenas que «o edifício está devidamente fechado e vedado», tendo rejeitado a existência de qualquer problema de insalubridade. O empresário delegou no seu secretário Manuel Pires mais declarações, tendo este confirmado a receção do ofício camarário e adiantado que estão a ser levadas a cabo «algumas intervenções» no edifício, «nomeadamente ao nível da vedação dos vãos, e que deverão estar concluídas até à próxima semana».
Manuel Pires disse ainda que o edifício continua à venda, mas revelou que «de momento não há propostas nem deverão aparecer, pois o mercado imobiliário está parado». O representante do proprietário lembrou também o projeto de há cerca de dez anos, que previa transformar o espaço numa área comercial e de escritórios, mas que «acabou por não ir para a frente». Nesse sentido, acrescentou a hipótese de «remodelar o projeto e apresentar uma nova proposta», mas vincou que «é apenas uma hipótese» e que «carece de novo estudo».
O imóvel do antigo Cine-Teatro foi projetado pelo arquiteto Manuel Alijó no final dos anos 40 e inaugurado a 4 de julho de 1953 como a grande sala de espetáculos da cidade. Contudo, o desinteresse do público e a desmotivação dos investidores ditaram o seu encerramento passadas mais de três décadas. A última exibição teve lugar em 1987 e desde então que o edifício está devoluto. Em 1997, Maria do Carmo Borges propôs-se comprar o Cine-Teatro por 500 mil contos para a Câmara Municipal, durante a campanha eleitoral, e as negociações quase resultaram, mas Antero Cabral Marques exigiu o dobro. Foi a última tentativa para que o imóvel integrasse o património municipal. Alguns anos mais tarde, o proprietário anunciou a intenção de transformar o edifício num centro comercial com escritórios e parque de estacionamento subterrâneo, mas uma quezília judicial entre um antigo arrendatário e a Sociedade Empreendimentos Cine-Teatro da Guarda travou o negócio. Já em 2008, Antero Cabral Marques colocou o edifício à venda, mas até hoje não apareceu qualquer interessado.
Fábio Gomes