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Começou esta semana um novo programa da SIC, com o titulo “M/F”, que pretende tratar das diferenças estereotipadas entre homens e mulheres. Os apresentadores foram escolhidos por um critério coerente com o objectivo do programa: um palhaço e uma boazona casada com um gajo muito culto. Este programa para conhecer as diferenças entre sexos pode até ser útil aos programadores da SIC, para ver se entendem que à mesma hora da novela e do futebol não há concursos imbecis que lhes valham na tabela das audiências.

Há cientistas que passam a vida a investigar problemas científicos irrelevantes para a humanidade, como a relatividade ou a cura para o cancro, cuja recompensa nunca irá para além de um prémio que até Barack Obama ganhou em 10 dias de mandato. Os verdadeiros enigmas do Universo continuam a interessar poucos estudiosos. Einstein explicou tudo sobre o efeito fotoeléctrico, mas quando se tratava de falar com uma mulher, as suas respostas eram semelhantes a isto: “ahn… hum…”.

A ideia de que os homens têm pouca capacidade de comunicar os seus pensamentos é transmitida pelas respostas masculinas semelhantes a “ahn… hum…”. Nada pode estar mais distante da realidade. Se um homem responde “ahn… hum…” é porque está provavelmente a pensar “ahn… hum…”. A crença comum de que um homem não é capaz de expressar sentimentos e de entender situações complexas é totalmente contrariada pela reacção de um adepto a um fora-de-jogo mal assinalado.

Há alguns livros publicados sobre o assunto, mas não ainda não tive tempo de os ler porque tenho andado ocupado a escrever sobre eles. Mesmo assim, uma das coisas que consegui ler no texto promocional de um deles é que os homens não estão geneticamente preparados para as limpezas domésticas. Pelos vistos os homens não têm a mesma percepção sensorial para o detalhe. Não é que não sejam capazes de limpar. É que não são capazes de ver a sujidade. Um homem só acha que um quarto precisa de ser varrido quando a camada de terra já permite plantar batatas. Esta descoberta é revolucionária. Os homens não são preguiçosos. São apenas cegos à confusão. Se houver um pára-choques de jipe ou uma bóia de nadador-salvador no chão da sala, um homem só dá conta quando alguém lhe elogia a originalidade da decoração. São assim em casa e na política. Mais ou menos do género: “Assinatura falsificada? Qual assinatura falsificada? Ah, essa assinatura… Nem tinha dado conta.”

Os cérebros masculinos e femininos são diferentes, dizem os estudos. Armazenam diferentes tipos de informação. Os das mulheres guardam quantidades gigantescas de informação complexa sobre milhares de relações humanas. Os dos homens assemelham-se a um arquivo de resumos das jornadas da Liga Sagres.

Por isso, quando um homem muda de canal de meio em meio segundo – parando cerca de dois segundos sempre que as imagens envolvam tiros, perseguições, golos ou seios – não está a ser um porco insensível. Está apenas a respeitar a sua natureza genética.

Resumindo, aquele golo foi mal anulado, o avançado não estava fora-de-jogo e o bandeirinha é gatuno.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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