Sou fascinado por “quase estrelas”, “mini estrelas” ou “estrelas esquecidas”. Enfim, aqueles atores que não chegaram a ser grandes vedetas ou que, mesmo sendo-o, tiveram um reinado muito curto. Muitas vezes pergunto-me a mim mesmo “por que razão não se tornou aquela atriz uma grande estrela?”. A bela e competente June Haver, por exemplo, nunca conseguiu igualar o sucesso da vedeta que supostamente estaria a substituir, Betty Grable. Ann Rutherford, hoje quase ignorada, raramente teve a oportunidade de ser protagonista. Não era especialmente talentosa, nem bonita, nem magnética, mas poderia com certeza encarnar os mesmos papéis protagonistas da adorável June Allyson. Leslie Brooks era muito mais expressiva que Rutherford, mas foi quase sempre apenas figurante durante a sua curta carreira.
A muito apreciada Eve Arden e a excecional Agnes Moorehead tinham uma presença avassaladora na tela, porém viveram quase sempre no terreno dos atores secundários. Gloria Grahame conseguiu ser algumas vezes protagonista, chegando também a encabeçar suculentas manchetes bombásticas. Mesmo assim, nunca atingiu em pleno o estatuto de “movie star”. O mesmo aconteceu com Eva Marie Saint, Ella Raines ou Lizabeth Scott.
No terreno destas “quase estrelas” o caso que mais me choca é o de Ann Miller (na foto). Esta dançarina de sapateado entrou nalguns dos melhores musicais de sempre como “Easter Parade” (1948) e “On The Town” (1949), mas nunca, ou quase nunca, assumiu o papel de protagonista nem se tornou uma “star” de primeira grandeza. Com uma presença incrível, Miller chega, por momentos, a roubar “Easter Parade” a, nada mais nada menos, que Fred Astaire e Judy Garland.
Houve também muitos atores que não conseguiram atingir o Olimpo de Hollywood: o algo insosso Cornel Wilde e o aborrecido George Peppard, que deixou que Audrey Hepburn brilhasse totalmente no sobrevalorizado “Breakfast at Tiffany’s” (1961), não tinham realmente estofo para serem grandes estrelas. Já o simpático John Hodiak, maravilhoso no subvalorizado “The Harvey Girls” (1946), o meu musical favorito, merecia ter-se tornado um nome maior. O mesmo digo de Zachary Scott, cuja presença sinistra e elegante na tela resulta maravilhosa em filmes “noir”.
Ser estrela não é para todos, mas há casos em que só por falta de sorte é que sujeitos com potencial não atingem o patamar de “star”, tornando-se apenas “anãs castanhas”. Outros, com o tempo, mergulham injustamente num buraco negro, podendo ser completamente esquecidos.
Miguel Moreira