Arquivo

America First. Uma história americana

Theatrum Mundi

O slogan que levou Donald Trump à vitória nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 2016, condensa um programa político capaz de atrair audiências domésticas – pelo menos na América profunda – mas gerador das maiores desconfianças um pouco por todo o mundo. O recente ataque com 59 mísseis Tomahawk a uma base militar do governo sírio foi recebido de forma ambígua mas com a confirmação de que, se alguma coisa é possível antecipar sobre a política externa de Trump, é que ela será imprevisível e suscetível de se contradizer a cada passo.

A condenação ao ataque contra civis com armas químicas foi unânime mas a dificuldade de identificar, de forma inequívoca e sem investigação independente, os responsáveis pelo ataque torna a ação americana vulnerável a todas as críticas e suspeições. O mesmo Donald Trump que apareceu compungido, na TV, reagindo às imagens dos corpos agonizantes, havia assinado poucas semanas antes uma ordem executiva para impedir a entrada nos Estados Unidos dos mesmos cidadãos sírios que fogem às atrocidades da guerra. Também é o mesmo Trump que acusou repetidamente Obama de envolver os Estados Unidos em conflitos morais por todo o mundo, contra o interesse nacional americano, prometendo em troca uma política mais isolacionista e deixar as mãos livres a Putin a resolução do conflito sírio pela via militar.

Assim, o ataque dos 59 Tomahawks agrava as relações com a Rússia e torna mais difícil a resolução do conflito sírio. Ao mesmo tempo, a Rússia e o Irão ameaçam responder pela força a um novo ataque e fica em risco a cooperação frágil com os Estados Unidos que nos últimos dois anos permitiu avanços consideráveis na luta contra o estado islâmico. Do que não há dúvida é que o ataque é fruto de uma recomposição de forças dentro da administração Trump, em detrimento do temível, isolacionista e xenófobo Steve Bannon. Parece que os militares conseguiram manobrar, através do genro de Trump, a favor de uma política externa mais tradicional e centrista, alinhada com a Nato e o discurso moral dos aliados europeus, e que justifica o aumento de 10 por cento num orçamento base de defesa de 600 mil milhões de dólares. E esta é a ‘America First’ da campanha de Trump.

Por: Marcos Farias Ferreira

Sobre o autor

Leave a Reply