Álvaro Amaro tenciona apresentar o Livro Branco da Guarda. Juntamente com um conjunto de personalidades, o presidente da distrital do PSD quer contribuir para que a capital do distrito seja um «pólo dinamizador e aglutinador, uma lacuna que todos reconhecem», sublinhou na segunda-feira, durante a sua tomada de posse. Será uma iniciativa «o mais despartidarizada possível» e sujeita a debate público no primeiro trimestre de 2008.
Num jantar muito concorrido, o líder dos social-democratas guardenses anunciou ainda para Maio, em Trancoso, a realização de um fórum temático sobre coesão territorial e competitividade, seguindo-se outra iniciativa em Pinhel, em Setembro, subordinada à comunicação social. Pelo meio, em Junho, será apresentado o Conselho Estratégico Distrital, composto por 20 personalidades cuja missão é «ajudar a reflectir sobre problemas, que são muitos, e soluções concretas». Tudo porque, para Álvaro Amaro, há muito trabalho a fazer. «Entre 1991 e 2004 o distrito perdeu 900 pessoas por ano, diminuiu o índice de juventude (de 8,1 para 4,9), decresceu em 21,5 por cento o número de alunos matriculados no ensino básico entre 1999/2000 e 2004/2005, em 30,9 por cento no secundário e 11,7 por cento no ensino superior», revelou. Já no domínio da saúde, «se o Governo teimasse em levar por diante a sua reforma absurda, injusta e até imoral, com o encerramento nocturno de 11 SAP no distrito, isso significaria que, por ano, mais de seis mil pessoas deixariam de ter acesso a estes cuidados», criticou.
O também presidente da Câmara de Gouveia não esqueceu a política fiscal e pediu a Marques Mendes, presente na sessão, para que o PSD assuma a «bandeira da interioridade e da coesão territorial». Em termos políticos, Álvaro Amaro admitiu que, «muitas vezes», os social-democratas são o seu «próprio problema», apesar de considerar que os portugueses já começaram a notar que o actual Governo «é o problema do país». O mesmo pensa o presidente do PSD, que aproveitou a passagem pela Guarda para fazer o balanço dos dois anos do Governo de José Sócrates. «O PS foi eleito com condições excepcionais para governar, teve uma maioria absoluta, dispõe de uma colaboração activa do PR e de uma conjuntura económica internacional muito favorável. Mas, dois anos depois, Portugal voltou para trás e está novamente na cauda de uma Europa agora a 27 países», denunciou. Marques Mendes recordou que o primeiro ministro prometeu criar 150 mil postos de trabalho e que agora temos a taxa de desemprego mais alta desde 1987. «8,2 por cento é bastante mais que há dois anos atrás», sublinhou, dizendo que se assiste «todos os dias ao fecho de fábricas e à saída de empresas de Portugal».
O líder da oposição considera, por isso, que o actual Executivo é «um Governo falhado que merece ser substituído, porque tem seguido políticas erradas e injustas». E, na sua opinião, os exemplos abundam. A começar pelo «maior aumento da carga fiscal de toda a nossa democracia», cujo impacto é notório na região fronteiriça. «O aumento do IVA significa que cada vez mais a nossa economia passa para o lado de lá, pois vai-se a Espanha fazer compras e abastecer. Se isto não é uma política irresponsável e leviana, eu não sei o que será», considerou. Mas este não é o único problema do interior, há ainda o fecho dos SAP e das maternidades: «Esta política é um exercício de leviandade e ligeireza, pois um Governo que só sabe fechar a eito não pode gerar esperança em ninguém», acusou. E, para Marques Mendes, será «difícil encontrar um Governo que manifeste tanto desprezo pelo interior como o actual».
A crise em Vilar Formoso
No dia seguinte, o líder do PSD esteve em Vilar Formoso para visitar o comércio local, que devido à proximidade com Espanha, onde o IVA é cinco vezes inferior ao praticado em Portugal, vive uma crise profunda, situação que também se estende a outras localidades da região. O cenário ideal para desafiar o Governo a baixar os impostos de forma a tornar o país mais competitivo e dar novo impulso ao comércio das zonas raianas.
«Já fiz uma proposta para uma descida gradual dos impostos. Do IVA porque esta diferença de cinco pontos em Portugal e Espanha está a fazer com que a vida de Portugal passe para o lado de lá», justificou. Marques Mendes esclareceu de seguida que esta «não é uma questão partidária, mas nacional. Não é uma questão de luta entre Governo e oposição, mas de defesa do interesse da economia portuguesa, de criação de emprego, de ter um comércio forte e indústrias mais competitivas». Nesse sentido, disse que o Governo «não pode ser surdo perante as vozes que se queixam deste estado de coisas», porque a actual situação económica do país está a contribuir para que muitos portugueses emigrem para Espanha e outros países da Europa.
Luis Martins