«Tenho o telefone da sotôra… é comigo que a sotôra fala…» tem apregoado o senhor Crespo. E os laranjinhas a pensarem que o homem se andava a armar… Não. Era mesmo verdade. Todos os dias a sotôra delineou a estratégia a seguir: «Ó Crespo! Nada de programa… e não diga nada de importante…» foi-lhe sussurrando ao telemóvel a sotôra, «e quando disser… diga que não foi isso que quis dizer. A culpa é sempre do mensageiro…». Foi assim que o senhor Crespo, homem de boas falas, mas que não diz mais de duas para a caixa, aprendeu com a sotôra a dar tiros nos próprios pés, a cometer gafes e a dizer disparates («o cromo de Aldeia Viçosa apoia-me? vou já dizer a toda a gente; os da Assembleia Municipal fazem-se rogados? vou dizer que estão gastos; a Saavedra não fez nada e agora está comigo? bela rapariga, o povo precisa de saber…»). Belo curso que a sotôra deu ao candidato. E é assim que o candidato Crespo vai afugentando a “sua gente” (cruzes canhoto, que o homem não gosta nada de laranjada). Ele bem pode apanhar uma barrigada de bifanas, uma bezana de minis ou ir de caixão à cova com o carrascão que os velhotes lhe vão servindo nas aldeias, que será sempre o monárquico empedernido que o PSD escolheu para derrotar o camarada Valente. Com o PSD esfrangalhado pelas ambições pessoais – no partido todos se acham o melhor candidato a presidente, todos acham que podem ganhar, mas ninguém se chega à frente quando é preciso. Esperam sempre por outra oportunidade – nas próximas é que vai ser! Enfim, grande partido este!
Valha-nos o camarada Noutel, que distribui farpas e chama os bois pelos nomes. Sem ele esta democracia serrana, esta “little” Sicília, seria uma pasmaceira. E é apenas ele que nos vai lembrando que os patos bravos ainda dominam os interesses municipais. Aí estão, circunspectamente, a alinhar ao lado do camarada Valente, assegurando o repasto do dia seguinte, como nos melhores tempos do Abílio – também ele, aliás, elevado a apoiante de peso do recandidato e sempre a recordar a promessa de bom emprego para a filha, a quem Valente só quis arranjar um humilhante lugar de auxiliar na nova biblioteca. É verdade, camarada Noutel, como bem descreveu a nossa sociedade o grande Eça: “Todos vivem na dependência: nunca temos por isso a atitude da nossa consciência, temos a atitude do nosso interesse… Serve-se, não quem se respeita mas quem se vê no poder”. E é assim que o poder tem de continuar nas mesmas mãos, não vá o Diabo tecê-las…
PS: Ó camarada Zé Albano peça lá ao camarada Assis que não se esqueça das garrafitas de aguardente que lhe pedi quando vier fazer turismo à terra que o elegeu. Sim, porque na noite de domingo bem perguntei por ele, mas o homem pôs-se a milhas e nem me deu tempo de lhe dar um abraço de parabéns e deixar-lhe um cartãozito com o mapa da minha praia para me mandar a preciosa espirituosa de Amarante. E faço-lhe outro pedido, este em nome da família Borges, diga lá ao senhor Assis para arranjar um tachito no Governo ou noutro sítio qualquer, que a Ritinha precisa de emprego. Isto tá mau para todos, senhor Assis.
Por: O Nadados Salvador