O excecional resultado obtido pelo Governo em matéria de controle do défice, que permitirá a Portugal sair do procedimento por défice excessivo, foi obtido à custa da diminuição drástica do investimento público.
O atraso no pagamento a fornecedores, a paralisação de obra pública, a diminuição do orçamento na Saúde, na Defesa, na Educação e na Justiça, não só, estão a colocar em dificuldade as empresas, como se refletem na qualidade dos serviços prestados pelo Estado.
A necessidade de travar a despesa pública tem levado, ainda, a um enorme atraso na implementação dos programas comunitários cujo anúncio sai a conta-gotas. E quando os concursos são lançados, as candidaturas apresentadas pelas empresas, aproveitadas como propaganda, são analisadas, devagar, devagarinho.
Os programas de desenvolvimento rural cujas candidaturas foram, entretanto, lançadas estão com um atraso de quase um ano nas aprovações dos respetivos contratos de incentivos e o anúncio de financiamento FEDER a estes programas não passa de intenção há quase dois anos.
No interior, onde a perda de população é uma triste e dramática realidade, o atraso do financiamento comunitário e a ausência de investimento público, num contexto de um mercado cada vez mais reduzido, tem como consequência transformar a economia das empresas numa verdadeira emergência.
A falta de reais expetativas de emprego tem conduzido também à fuga generalizada de quadros e jovens que tornam a paisagem do interior cada vez mais envelhecida.
A mentalidade dos nossos decisores está alheada, infelizmente, da enorme dificuldade do tecido económico da região, sobre o qual caem, impiedosamente, com dose maciça de impostos e taxas, sob a ameaça da penhora e da execução.
O Estado português olha para o interior como uma fatalidade, uma resistência negativa e, em vez de assumir corajosamente o problema, entretém-se com o anúncio de propaganda, ao mesmo tempo que vai fechando, aqui e ali, ora tribunais, ora agências bancárias, ora serviços, tudo em nome de critérios de racionalidade económica que mais não é que a confissão por parte do Estado da irreversibilidade do processo de desertificação.
A enorme capacidade de resistência de todos os que aqui vivem e lutam, sofrem e não cedem, revela a grandeza de alma e de carater que a expressão “Alma até Almeida!” caracteriza.
Também por isso, a luta que se trava para manter a agência da CGD aberta em Almeida não é sinónimo nem de rebeldia, nem de sacrifício ou de violação de valores ou bens públicos ou privados, mas sim de uma saudável e livre manifestação de soberania do Povo.
Na ausência de um Estado que já desistiu do interior, é imperioso pensar a sério o futuro deste território. Isso faz-se de duas maneiras: pela força do exemplo e pelo exemplo da força, sempre que seja necessário.
Por: Júlio Sarmento
* Antigo líder da Distrital do PSD da Guarda e ex-presidente da Câmara de Trancoso