Alexandre O’Neill em “Uma coisa em forma de assim”: «Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima com poder, é, quase sempre, um perigo. Oremos. Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.»
Mais de metade dos destinatários da mensagem estão contextualizados no que surripiei ao O’ Neill, os restantes merecem deferência, porque é gente de carácter, culturalmente interessante e desapegados de fobias continuadas, que o poder e a sua ausência beliscam noutros “mal caractistas”, como bem diria Odorico Paraguaçu na imorredoira novela “O Bem Amado”.
Basta escolher as citações perfeitas para colocar em prateleiras de mofo um conjunto de gente de quem se fala demais para o pouco que valem. Ganha-se espaço e evita-se a banalização do artigo!
Esta semana fiquei contente com as movimentações de solidariedade em torno do comércio tradicional, talvez fruto da saída da SGPS que controla o Pingo para a Holanda onde já estavam uma quantidade de empresas portuguesas (?), algumas delas com administradores nomeados pela tutela. Desimporto-me pouco, porque o saque já vem de longe, e não é um Pingo qualquer que altera a minha ideia formada perante tipos que se apanham com uns dinheiritos de créditos na mão e já se julgam os intocáveis e os únicos que têm a verdade absoluta, para debitarem dislates continuados quando lhe metem o micro em riste.
O comércio tradicional também teve agora momentos de grande participação quando nos confrontamos com as lojas maçónicas. Julgava que Mozart fosse um compositor, ou uma taça da Olá, multinacional holandesa de gelados, representada em Portugal pela Jerónimo que agora foi transferida para a Holanda. Afinal há uma loja com esse nome, que é secreta porque não se sabe o que lá é vendido. Quando era miúdo proibiam-me de ver essas lojas, porque andavam por lá “mulheres frívolas”, no léxico atual as mulheres do striptease.
Tentando falar a sério, quero lá saber se há loja do Sino, se há GOL alta ou baixa, se os Opus rezam ou não antes de estipularem quem colocam em determinados lugares para fazer agiotagem, que segundo me disseram é pecado para a ICAR, o que me fez rir a aventais despregados.
Os partidos, exceto o PCP, tem uma horda de gente nestas lojas, onde fazem uns jantares para debaterem várias coisas, sem que perceba porque têm que se esconder e usarem sinais convencionais para falarem de liberdade, igualdade e fraternidade, e já agora relações económicas e colocações políticas que tragam vantagens supletivas aos membros deste ramo oculto e culto do comércio.
Aceito que no combate às ditaduras tenha sido necessário algum secretismo, mas algumas figuras gradas dos regimes ditatoriais também secretavam com os da oposição nas lojas e centros de opus, restando aos trauliteiros o papel para os desfiles, as legiões e o incitamento a encómios ao chefe supremo em espaços públicos, com muita gente cinzenta no palanque.
Preocupa-me que se avente a hipótese do avental dominar em conluio com os Dei a política portuguesa, com o olhar terno e eterno da ICAR e com a bonomia dos monárquicos que ninguém lhes liga nenhuma, que se vão encontrando entre fados, touradas e aspirando títulos, nisso acompanhados de adeptos de certos clubes de outras modalidades, com maior envolvência e paixão pelo povo.
Os partidos do arco do poder limitam-se a servir de lastro às congeminações das lojas, dos aventais, dos que rezam e só sexam para procriar, os que acham que tudo é fruto da “diarreia mental do século XIX”, como dizia o santacombista à mão armada, que conluiado com essa malta toda governou em ditadura este país quase meio século.
Se me quiserem oferecer um avental, façam o favor de contactar com a redação deste jornal, mas não me peçam ritos, espadas e lucubrações ideológicas que façam a ligação entre o quotidiano e o paranormal em troca!
Por: Fernando Pereira