No que toca ao actual estado desta nação, mormente às trapalhadas de quem a dirige actualmente, confesso que os meus comentários podem não ser considerados politicamente correctos em determinados assuntos, nem sequer politicamente escorreitos, como poderá alguém acreditar que seja, desta vez, o caso. Talvez sem o politicamente correcto, porque quanto a escorreito – sem defeito – julgo eu que desassombradamente escrevo o que continua. Eu cá, em opiniões, posso ser antropófago, possuído que estou do conceito de liberdade na arte da escrita que vai, no entanto, escasseando, mas não costumo ser hipócrita, ainda que o bedel me corra brandindo a pauta de reprovado.
Das promessas que o primeiro-ministro debitou antes de ser isso mesmo, somando as duas campanhas para o efeito, apenas vejo concretizadas duas, uma que já quase toda a gente sabe e outra em vias de o saber: a primeira, consiste na degradação do Estado, social, económica e financeiramente; a segunda, na satisfação do pedido de legalização de casamento entre os “alegres” (gay’s).
Não tenho nada contra as uniões de pessoas do mesmo sexo. A cabecinha é delas, o corpinho também. Igual posição teria se o pastor do cume da serra determinasse em concubinar com a cabra do seu rebanho ou de outros costumes menos costumados que merecem o tratamento de igualdade e não de discriminação.
Contudo, há aqui uma coisa que não encaixa no meu espírito aberto. Para quê a legalização do casamento? Não lhes basta o reconhecimento da união de facto? Não lhes apraz juntar os trapinhos e viverem alegres para sempre? Pelos vistos, “ai, flores, ai flores de verde pino!”, não. O casamento de papel passado, ainda que não de véu e grinalda ou de laçarote, porque ou falta num caso a fêmea ou noutro o macho, traz vantagens para quem decide ser “alegre”. Logo, no IRS, há benefícios da junção dos rendimentos comuns do “casal”, ainda que os sujeitos passivos, lá ditos como A e B, sejam anatomicamente iguais. Depois, porque ficará aberta a porta para a adopção de descendência (de outrem, está claro), que colmatará a igualdade plena face aos casais cujo casamento já vem reconhecido desde os tempos do rei Vamba.
Mas há mais benefícios para eles, com excepção da contribuição para aumento da natalidade, como é óbvio e que hipoteticamente não levariam na conta de benefício: seguros; heranças; folgas em caso de falecimento; adopção conjunta e mais aquilo que o bestunto da esquerda-esquerdina quiser contribuir. Por isso, será claro que o referendo pretendido, e que, na altura em que escrevo a peça, foi entregue na AR para discussão, não passará na esquerda do Parlamento. Prevejo até, nessa discussão, a intervenção do primeiro-ministro, teso e zangado como sempre, advogar em nome da liberdade. Ou seja, em nome da liberdade que não nos deixa livres dele.
Uniões homossexuais existiram desde os primeiros tempos da humanidade, tal como alguns pastores em intimidades com as suas cabras, para usar o exemplo já exposto atrás. Não acredito que fossem menos “alegres” por não se encontrarem registadas como casamento. No entanto, dois dos partidos da esquerda-esquerdina (BE e PEV), sentindo que seria chegada a onda da legalização, lançaram o assunto para o hemiciclo, onde tudo se decide por mandato popular, no dealbar do ano de 2006. A sementinha germinou na era de Sócrates, também no dealbar do ano 2009 depois de Cristo e no ano V depois de Sócrates. Pacientes os “alegres” lusitanos, que esperaram quase nove séculos para terem o privilégio do casamento reconhecido. Quantos e quantos não morreram no celibato, os coitados!
A paridade entre os casamentos “alegres” e os “heteros”, lá trará a Portugal mais um lugar no “pelotão da frente da modernidade”, uma vez que será o oitavo a passar à letra de lei este desiderato. Os casais assim constituídos darão o “nó” ou, mais vernaculamente, se “enforcarão” no laço do casamento, sem se saber (nem disso é pertinente saber) quem é o alfa ou a beta. Teremos, isso sim, a procura do novo estado civil registado, quando a tendência dos “heteros” é juntarem-se sem se registarem.
No que respeita à adopção – e dado o cumprimento das promessas deste actual primeiro-ministro, como foi o caso dos 150.000 empregados que ainda se encontram pelos centros de emprego – será o passo próximo para a mesma esquerda-esquerdina (agora com PS e PCP na banda), determinarem a filiação de crianças para os casais compostos por dois pais ou duas mães, naturalmente com recurso a semente e úteros estranhos ao “casal”. Pese embora, arrastado pelo impulso que só o empolgou a ele, o tal primeiro-ministro ter prometido no final da reunião do conselho de Ministros do dia 17 de Dezembro de 2009, excluir “clara e explicitamente” a possibilidade das mesmas se reflectirem em matéria de adopção. Se ele não tivesse prometido, acreditava!
O frenesim parece ter vindo de Espanha, cuja parceria tem servido os dois “compadres” socialistas no poder; mas também sempre ouvi dizer que “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento”.
O assunto passar-me-ia de largo, se não fosse o mesmo drapejar nas hostes socialistas como bandeira erguida na conquista da igualdade de direitos (que não deveres). O fenómeno iria escapar-me e outro seria o assunto para esta coluna. Ao ler os títulos da imprensa, ao ver a alegria estampada no rosto dos “alegres” assumidos, não deixo de tecer os meus prognósticos, à guisa de perde este e ganha aquele. Não deixo de contabilizar nas perdas o excessivo interesse de Portugal pelo caso, tornando-o o oitavo em todo o Mundo, quando outros e muitos problemas impedem de fazer subir este rectângulo para idêntico lugar em ranking mais favorável. Pelo menos, espero que passe pela cabeça deste primeiro-ministro, no tempo que lhe restar de mando, para propor ao Mundo que o peso das nações não se contabilize pelo montante das reservas de ouro, nem pela capitação do poder de compra dos cidadãos, nem pelos monumentos históricos, nem pelo número de canhões, aviação e vasos de guerra no activo, mas se aquilate pelo número de casamentos “alegres” passados pelo registo das suas conservatórias. E, fundamentalmente, vivam felizes e “alegres” para sempre e que a saúde não lhes falte.
Por: Santos Costa