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Aldeias Históricas trouxeram vida a territórios já esquecidos

Projeto nasceu em 1995 com a promessa de produzir riqueza a partir do património histórico

Em 1995, Cavaco Silva, na altura primeiro-ministro, lançava o programa das Aldeias Históricas, do qual faziam parte dez localidades dos distritos da Guarda, Castelo Branco e Coimbra. Ao longo destes 20 anos apostou-se na recuperação destes territórios e, em 2003, Belmonte e Trancoso juntaram ao grupo inicial (Almeida, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva Monsanto, Piódão e Sortelha). Já a Associação de Desenvolvimento foi fundada em 2007 para gerir este destino turístico.

A herança de edifícios históricos de cada uma destas aldeias, vilas e cidades são o maior símbolo e também o principal alvo de intervenção ao longo dos anos. A isto seguiu-se a sua divulgação através de parceiros como o INATEL, a National Geographic ou a TAP. Hoje, é inegável o aumento de turistas nestes territórios, sendo que a média ronda os 400 mil visitantes anuais às Aldeias Históricas. A partir de 2017, o objetivo é chegar ao meio milhão por ano. Graças a diversos investimentos na recuperação e valorização do património e saberes destas comunidades antes votadas ao abandono nasceu uma nova vida, tornando as Aldeias Históricas numa atração turística, criando riqueza a partir do património natural e histórico. No ano passado surgiu a Grande Rota das Aldeias Históricas, com a promessa de dinamizar novos territórios e engrandecer o percurso já realizado pela associação e de dar uma nova vida a aldeias e vilas. Dela fazem parte cerca de 600 quilómetros que incluem as 12 aldeias já referidas e 19 municípios do interior do país.

O PROVERE – Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos foi o principal financiador dos projetos da associação durante os últimos cinco anos com a injeção de cerca de 4,5 milhões de euros, que resultaram em mais visitantes, mais notoriedade da marca e desenvolvimento de produtos artesanais com grande dose de inovação. António Dias Rocha, que preside a associação desde maio deste ano, está confiante que, no âmbito do Portugal 2020, cheguem mais verbas também do PROVERE, uma vez que «no último quadro comunitário as Aldeias Históricas foi a associação que mais fez e registou a melhor taxa de execução de projetos» e, por isso, «certamente que vamos ter oportunidade de obter mais verbas». O autarca de Belmonte faz um balanço «muito positivo» destes 20 anos e diz ter «muita confiança no futuro». António Dias Rocha também não esconde a «admiração pelo trabalho que tem sido feito, que tornou as Aldeias Históricas numa marca de referência a nível nacional».

Nesse sentido, o responsável acredita que o «grande esforço quer dos empresários, quer das instituições públicas, vai ser compensado e os resultados começam a surgir». Quanto ao que ainda a falta, António Dias Rocha não nega «que há sempre coisas que ficam por fazer», mas acrescenta que a associação sediada em Belmonte tem «uma boa equipa a trabalhar no terreno» e que certamente, com o novo quadro comunitário «vamos poder fazer o que faltou». Entre os projetos que se seguem está a candidatura a Património da Humanidade as 12 localidades que compõem as Aldeias Históricas de Portugal.

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«Associação das Aldeias Históricas trouxe gente de todo o mundo»

Fernanda Esteves, presidente da Junta de Freguesia de Sortelha (Sabugal)

«A classificação como Aldeia Histórica foi e é uma mais-valia para Sortelha. É o reconhecimento mais profundo da história, da cultura, das tradições e das gentes que envolvem Sortelha. Nos meados da década de 90, Sortelha beneficiou de um projeto de recuperação de fachadas e telhados das casas intramuralhas. Beneficiou ainda de outro projeto para a eliminação de tudo o que era fios e antenas de telecomunicações (zona histórica) e, por isso, esteticamente ficou ainda mais bonita.

Sendo uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal, integrada na Associação das Aldeias Históricas, Sortelha teve com certeza uma maior projeção na divulgação, publicidade, trazendo mais gente de todo o mundo. Houve também mais investimento nas casas de turismo de habitação e na restauração. Atualmente está em pleno funcionamento um projeto designado por “Entre Laços”, a partir da arte tradicional do bracejo, onde se criaram cinco postos de trabalho. Nos aspetos menos positivos temos uma grande parte do casario no intramuralhas abandonado (os proprietários não residentes não fazem as manutenções, não arrendam/alugam a possíveis interessados e as poucas casas que aparecem para venda são inacessíveis ao nível do valor solicitado) e a localização. Se Sortelha ficasse no litoral certamente que beneficiaria de mais investimento e de outro dinamismo.

Por fazer está ainda o investimento na luta contra a desertificação, que, infelizmente, tem sido elevada, haver alguma intervenção das entidades competentes junto dos proprietários das casas intramuralhas de modo a sensibilizá-los e a fazer alguma coisa para atrair investidores e dar mais dinâmica à aldeia».

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« As aldeias estavam votadas ao abandono e verificou-se uma melhoria»

Luís Paulo, habitante de Sortelha

«A criação das Aldeias Históricas foi fundamental. As aldeias estavam votadas ao abandono e verificou-se uma melhoria. Hoje, em Sortelha, temos 15 crianças, com a fixação de jovens. A isto soma-se a venda divulgação de produtos locais como o artesanato. Ainda não dá para viver exclusivamente disso, mas só tenho coisas boas a apontar à recuperação do património. Agora também tem que ser a população a fazer por Sortelha, tem que lhe dar vida, pois também isso contribui para o turismo».

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«Há que destacar a quantidade de pessoas que chegam»

Paulo Mimoso, proprietário do restaurante Cova da Loba, em Linhares da Beira

«Faz todo o sentido a existência das Aldeias Históricas de Portugal, que tem a obrigação de promover estas localidades e defender os interesses públicos e privados. Temos visto resultados e hoje esta marca é já uma referência a nível nacional, através do papel preponderante na divulgação das Aldeias Históricas. Ainda não está tudo feito, pois, como é natural, há sempre coisas que ficam por fazer, mas há que destacar a quantidade de pessoas que chegam e vêm visitar. O aumento de visitantes foi muito bom para o turismo, para o negócio e para a economia da região no geral».

Ana Eugénia Inácio Programa integra atualmente 12 aldeias, todas localizadas no centro do país

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