Aldeias da Ramela (des)esperam por saneamento básico

Dominga Feia não tem abastecimento de água nem esgotos, enquanto Aldeia Nova e Aldeia Ruiva anseiam há vários anos pelo saneamento básico. São mais três localidades do concelho da Guarda sem um ou ambos os serviços essenciais.

São três as aldeias da freguesia da Ramela, no concelho da Guarda, que não têm um ou ambos os serviços de abastecimento de água e saneamento básico. A povoação de Aldeia Nova até recebeu recentemente uma estação-elevatória para servir a aldeia e as vizinhas Aldeia Ruiva e Ramela, mas que só trata os resíduos da sede de freguesia: a única com saneamento.

Dominga Feia não possui nenhum destes serviços essenciais, pelo que é frequente o recurso a furos e fossas. Os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) até se deslocam regularmente à aldeia para abastecer o depósito público, mas nem toda a população recorre ao reservatório. «Tive de fazer um furo para não gastar dessa água», refere João Sousa a O INTERIOR, ressalvando que «fecharam o depósito há três ou quatro anos porque estava aberto e quem quisesse fazer alguma coisa deitava lá venenos ou outras coisas». O morador tem uma fossa «que ainda não encheu, mas quando acontecer talvez me desloque à Câmara», adiantou. As promessas são incontáveis e os resultados tardam em chegar aos cerca de 20 habitantes da Dominga Feia. «A água e o pão são um bem essencial à vida humana», resume João Sousa.

Já Aldeia Nova possui abastecimento de água «desde o tempo do Abílio Curto», recorda Alda dos Santos. «Nessa altura estiveram as ruas todas abertas e nós queríamos logo o saneamento», sublinha a moradora. A instalação de uma estação-elevatória para tratamento de resíduos na aldeia há menos de um ano não agrada totalmente aos residentes, já que a povoação não tem meios para vazar os resíduos. Os moradores vão construindo fossas, mas há cuidados e esforços redobrados para evitar que encham ainda mais depressa. A vizinha Ana Costa confirma: «A água de lavar a louça e do banho não vai para a fossa, tiro e deito-a na rua», declara. A fossa é despejada duas vezes por ano, em média, representando um custo acrescido para a moradora. «Há sítios onde não dá para despejar e os resíduos vão para a rua», alerta, apelando para que as entidades responsáveis melhorem as condições dos quase 60 residentes de Aldeia Nova.

O problema repete-se em Aldeia Ruiva, a pouco mais de dois quilómetros. Os cerca de 20 residentes recorrem a fossas ou despejam diretamente para terrenos, pois nem sempre há capacidade para a construção destes depósitos por conta própria. «Vou-me desenrascando conforme posso», admite Maria Soares, lembrando que «andaram por aí a dizer que vinha mas ainda não vimos nada e é algo que faz muita falta». Por sua vez, António Graça construiu uma fossa no piso inferior da residência, o que representa um gasto extra considerável. «Isto devia estar resolvido há muito tempo, é uma miséria», critica o habitante, salientando que «quem tem terrenos faz lá as fossas, mas quem não tem, como eu, tem de a fazer em casa». O residente lamenta ainda que tenham «andado a dizer que iam fazer esgotos para todos, mas não se vê nada».

Contactado por O INTERIOR, o presidente da Junta da Ramela considerou «lamentável estarmos nesta situação em pleno século XXI». «Estou na Junta há oito anos e os serviços têm-me sido prometidos», afirma António Neto, segundo o qual «o anterior executivo da Câmara da Guarda ficou com o dossier, mas disseram que não havia dinheiro e que as candidaturas não voltaram a abrir». O autarca, reeleito em setembro, diz lamentar «muito que, apesar de tanto trabalho e pedidos, a Câmara não tenha visto com “olhos de ver” as aldeias do concelho nesta situação». António Neto adianta que ainda não falou com o novo executivo sobre este e de outros problemas, como as «más condições» da estrada que liga a Ramela à Benespera.