Vinte cinco anos depois da sua criação, a Aldeia SOS da Guarda não consegue dar resposta a todas as solicitações por falta de “mães sociais”, as figuras centrais nas casas da instituição. Para contornar este problema, vai ser lançado um projeto que permitirá manter no seio do lar familiar as crianças em risco. A iniciativa foi anunciada no último domingo, durante as comemorações da efeméride.
«Trata-se de ajudar a recuperar e reestruturar essas famílias com um pequeno apoio, em termos de formação e até de bens, para que não seja necessário institucionalizar os mais pequenos. A nossa intervenção consistirá em estudar e acompanhar cada caso, juntamente com a Comissão de Proteção de Menores e a Segurança Social», explicou o diretor Mário Baudoin. O responsável adiantou que tem aumentado a gravidade dos casos que estão por detrás dos pedidos de acolhimento. «Este ano houve situações de maus tratos muito mais profundos do que existia antes resultantes, sobretudo, de alcoolismo, de violência doméstica e de pobreza», disse. Quanto ao aumento da procura, o diretor justifica-o com o facto da Aldeia SOS acolher rapazes e raparigas e dar preferência à frateria de irmãos. «Atualmente, temos 24 crianças para quatro “mães” e duas auxiliares, mas já cá tivemos 60 e nove mães», recorda.
Na sua opinião, a carência de “mães sociais” deve-se aos apertados critérios de seleção das potenciais interessadas, mas também à necessidade de estarem disponíveis a tempo inteiro. «Uma “mãe” passa a viver na Aldeia com a sua “família”, isto permite recriar o mais possível um ambiente familiar com carinho e regras», refere. Um quarto de século depois, a Aldeia SOS da Guarda também é agora um local de encontro de antigos utentes: «É um grande momento de felicidade termos crianças que se emanciparam, que, enquanto adultos, já têm as suas famílias, estão bem e continuam a vir cá. É nessa altura que constatamos que o nosso trabalho começa a ser visível», sublinha, indicando que cerca de 10 ex-utentes mantêm contactos regulares com a instituição. O que também mudou foi a relação da Aldeia com o exterior. Mário Baudoin considera que «já se esbateu um pouco o estigma que marcou as nossas crianças no passado».
De resto, «tentamos superar isso dizendo às crianças que podem convidar os seus amigos a vir cá, como se estivessem numa casa de família. E verificamos que tem crescido o número de crianças que vêm à Aldeia passar o dia, a uma festa de aniversário ou estar apenas com os amigos da escola», acrescenta, dizendo que para essa abertura «contribuiu muito» a festa que o último Governador Civil [Santinho Pacheco] promoveu em 2009. No domingo, a Aldeia SOS recebeu um veículo todo-o-terreno, de 7 lugares, oferecido pela Chevrolet, que esteve representada na Guarda pelo seu diretor-geral em Portugal, João Falcão Neves. Já o concessionário da marca no distrito, a CDV, ofereceu a manutenção gratuita do veículo nos primeiros 100 mil quilómetros.
Luis Martins