Na última segunda-feira, Aldeia do Bispo vestiu-se a rigor para receber os touros provenientes de uma ganadaria de Évora. A tradicional capeia realiza-se anualmente em Agosto por ocasião das festas religiosas desta freguesia do concelho do Sabugal e constitui o ponto alto das celebrações, mas também a oportunidade de manter viva a tradição. A festa começa com o encerro dos touros pelas ruas da aldeia até ao curral junto à arena improvisada, no centro da povoação. Mais tarde, a capeia começa após os mordomos terem pedido a praça à pessoa mais importante da aldeia ou ao público. Dado o consentimento neste cerimonial de décadas, entra o primeiro de seis touros, “o dos mordomos”. A partir daí cada pega tem os seus artistas, dos solteiros aos casados, sem esquecer as senhoras, são cerca de 20 pessoas que mostram a sua valentia e a alma raiana frente ao tão temido animal.
Para Quim Zé, um dos mordomos da edição deste ano, a tradição começa a perder-se: «É uma festa em decadência, há cada vez menos gente a assistir», lamenta, mostrando-se pessimista em relação ao número de aficcionados, o mordomo afirma que «somos cada vez menos enfrentar o touro, por isso temos que ser mais fortes». O facto da arena estar repleta, e muito do público ser emigrante que regressa nesta altura de propósito para assistir, não deixa Quim Zé muito entusiasmado, por considerar que «os jovens emigrantes não são criados nisto, não convivem com isto. Isto é uma tradição que vem de há muito tempo em que as pessoas viviam com alma e coração as capeias e os touros». Na sua opinião, a tradição só se poderá manter se a “aficción” pelo touro aumentar, mas receia que faltem «raianos de puro-sangue e jovens com garra para enfrentar o touro de frente». Em relação à festa deste ano, o mordomo já se mostrava um pouco mais optimista, considerando que correu bem, porque os touros estão «a cumprir com o esperado. Apesar de um pouco recortados, a pega está a correr na normalidade», diz.
Já Ismael Carlos, dos Forcalhos, não comunga do pessimismo de Quim Zé em relação à festa: «Vejo a capeia cada vez melhor, a “aficción” continua e está cada vez melhor e as pessoas vêm todos os anos». Por essa razão, não acredita no fim das capeias e recorda ter sido mordomo duma há mais de 40 anos numa altura em que uma tourada custava 3.500 escudos. «Hoje, a tourada custa 100 vezes mais, mas as pessoas continuam a pagar para que a tradição persista», garante. Estreante nestas lides foi Ricardo Santos, mas o jovem guardense mostrou-se bastante entusiasmado com o que viu. «Tinha curiosidade em ver de perto como era uma capeia. Já vi touradas pela televisão, mas sempre quis viver de perto o espírito de uma capeia raiana», confessa. Depois de assistir a quatro investidas de outros tantos touros ao forcão, Ricardo Santos deslumbrou-se com o espectáculo: «Antes tinha uma opinião diferente, não ligava muito aos touros, mas depois de partilhar este ambiente fantástico e a alegria das pessoas acho que isto é simplesmente espectacular», revela. Quanto à possibilidade de vir a ser um dos corajosos que enfrentam o touro no forcão, o jovem admite que o ambiente é intimidante ao vivo. «Quando vejo tourada na televisão gostava de estar lá no meio, mas agora que vi os touros de perto fiquei com um pouco medo, mas quem sabe um dia destes», conta, prometendo regressar no próximo ano. «Esta foi a primeira de muitas visitas, tornei-me um aficcionado e vou tentar ir ver as próximas capeias que houver aqui na raia», garante.