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«Ainda temos projeto e ideias por fazer e equipa para tal»

Cara a Cara – Francisca Castelo-Branco

P- Que balanço faz do primeiro mandato?

R- Foi um ano particularmente difícil de digerir. Não pelo lado negativo, mas por tudo, pelo enriquecimento pessoal da experiência em si, do “monte” de coisas que tem de se liderar e pôr a funcionar para a “casa” ter uma estrutura equilibrada. Tivemos muitos projetos novos, direcionados para os estudantes e as necessidades que o quotidiano exige. Além da clássica Semana Académica e Receção ao Caloiro, tivemos o projeto da Semana de Integração Solidária inserida no Programa de Integração ao Caloiro que permitiu que construíssemos uma rede de contactos com as instituições de ação social da cidade, lançássemos pontes e, juntos, criássemos a oportunidade dos novos estudantes, à chegada à cidade, poderem ajudar “os de cá”. Foi uma iniciativa de sucesso, que promete continuidade. Entre muitos outros projetos, é de salientar que do programa eleitoral com que arrancámos no ano anterior não ficou concluída a Abertura da Capela, uma vez que queremos que este espaço seja um espaço multicultural, de recolhimento e reflexão, onde todos possam ter um lugar para si. O SAI – Serviço de Apoio ao Idoso – não é um projeto de um ano e portanto não ficou concluído. Está na fase de contactos, mais burocrática, para que quando saia para a rua tenha bons alicerces. Ainda neste mandato, surpreenderam-me certas atitudes dos estudantes perante a Associação Académica e a equipa que dá a cara por eles, principalmente nas redes sociais… Percebo que do lado de fora não consigam ter noção certa de tudo o que se passa e que, como é muito comum das pessoas, comecem logo a criar ideias erradas…. Mas a AAUBI é dos estudantes. Ponto. Não é dos órgãos sociais… Sem os estudantes não existiríamos e o nosso trabalho não teria sentido. Portanto, lembro só que nas traseiras do Bar Académico está a sede da AAUBI e convido a cada vez que se lembrarem de algo que considerem importante acontecer, ou alguma vez que não entenderem alguma decisão, que venham ter connosco, e que com uma atitude construtiva possamos crescer todos e continuar a dar bom rumo a esta associação que é de todos os ubianos.

P- O que a levou a recandidatar-se?

R- Não gosto de projetos inacabados. Tínhamos projeto ao entrar, temos projeto ainda por fazer e ideias para fazer, temos equipa para tal portanto aqui estamos, preparados de mangas arregaçadas para este segundo ano de mandato.

P- Quais são os principais projetos e iniciativas já planeadas?

R- Os principais projetos estão assentes na reorganização ao nível de secções. Dividir a Secção Cultural e Recreativa em duas, mantendo a aposta na Recreativa, na dinamização do Bar Académico e nas diversas atividades e festas da área, e apontando uma maior aposta na área Cultural, que é uma área desacreditada nesta geração e que foi perdendo importância. Ao nível da Secção Recreativa é de salientar a campanha de sensibilização “Os teus pais podiam viver aqui!”, que queremos desenvolver na envolvente ao bar académico, sensibilizando os estudantes para o equilíbrio entre os seus comportamentos e o divertimento, sem comprometer o conforto da vizinhança. Sabemos que quando toca a mudar comportamentos e mentalidades não é fácil, mas é um ponto de partida.

A divisão da Secção de Saúde e Ação Social, criando a Secção de Saúde e Intervenção Cívica, que irá manter o Ponto de Saúde realizando rastreios junto dos estudantes, e alargando estes rastreios para as instituições da cidade; desta divisão resulta também a Secção de Ação Social, cujo projeto será maioritariamente criar um banco de voluntariado, com as instituições da cidade, criando assim um local onde as pessoas possam saber o que existe, onde, o que se faz e quando. Manter as portas abertas para acompanhar os estudantes nas suas dificuldades financeiras e na busca ativa de soluções para os mesmos, será ponto assente para o trabalho desta secção.

A criação da Secção de Empreendedorismo e Saídas Profissionais, da qual se pretende fazer uma ligação com o GISP-UBI (Gabinete de Internacionalização e Saídas Profissionais da UBI) criando assim uma rede de contactos de empresas que vá de encontro à oferta formativa da Universidade, e possibilitando a existência de um evento, em que levamos a cada faculdade, junto dos estudantes, as empresas e a oferta de cada uma.

Ao nível da Secção Desportiva, queremos apostar na renovação dos equipamentos desportivos, que os jogadores utilizam para as saídas do Desporto Universitário, definir objetivos e trabalhar perante os objetivos definidos.

Uma aposta transversal a todas as secções é a dos colaboradores. Isto é: moldar um pouco a função de colaborador, permitindo que estes sejam mais ativos e mais responsáveis por fazer acontecer.

P- Como está a AAUBI financeiramente?

R- Com o pagamento da dívida de 46 mil euros ao Instituto Português da Juventude desbloqueámos o acesso aos apoios financeiros que o IPDJ disponibiliza para as associações. Deste modo, ao preencher a candidatura com as atividades a que nós e os Núcleos de Estudantes e Culturais pretendemos candidatar-nos, teremos apoio para tal. Será um ano frutífero por termos esta ajuda, no entanto terá de ter um acompanhamento especial uma vez que o apoio prestado terá de ser justificado financeiramente, sob perjúrio de voltar a acontecer o que aconteceu em 2011. De resto, está no bom caminho para o equilíbrio.

P- Nas últimas eleições dos 6.606 alunos inscritos, apenas 780 votaram. Os números da abstenção são bastantes expressivos. Considera que existe falta de interesse por parte dos ubianos?

R – O facto de não concorrermos com mais nenhuma lista é já em si uma prova do desinteresse que os estudantes, e esta geração, sente pelas questões políticas. Já nas eleições legislativas de outubro a abstenção ficou conhecida como “a maior de sempre”, e a nível local e no universo de uma universidade sofre-se exatamente o mesmo. De um universo de 6.606 estudantes, votaram 780, dos quais 696 na Lista C, o que significa uma abstenção de 88 por cento, mais 8 por cento do que no ano passado, em que existiram duas listas para os órgãos sociais.

P- O que falhou e como reverter a situação?

R – Na reta final do mandato temos a sensação de dever cumprido, foi um mandato exigente mas que surtiu enormes e importantes resultados que estiveram à vista de todos, principalmente dos que estiveram presentes nas Assembleias Gerais de Estudantes em que foram apresentadas as contas dos três trimestres passados. Para além da situação financeira, que nos propusemos estabilizar, conseguimos cumprir os desígnios a que nos propusemos, o que por si só faz que com tenha sido um mandato bem conseguido, e que exija muito mais a qualquer lista que tenha intenção de se candidatar. Exigir muito mais não significa que impeça, dá trabalho. E esse trabalho é muito mais extenuante do que o de estar do lado de fora a criticar, confortável.

Olho com orgulho para o trabalho que foi feito já na área pedagógica, no que diz respeito ao ponto de sentar os estudantes e a restante comunidade e discutir o que corre bem e menos mal. Mas sei que ainda há muito trabalho a ser feito para chamar os estudantes às questões políticas. Vejo que no que diz respeito ao nível cívico, os estudantes interessam-se, procuram e cada vez mais vão aparecendo grupos, mais associações juvenis, mais grupos de intervenção, uns mais formais que outros, em grande parte ligados à parte social, ao voluntariado. No que diz respeito à parte política, é desinteresse geracional. É um trabalho que também nos cabe a nós, extremamente exigente, de mudar mentalidades. Penso que o ponto de viragem está em fazer entender de uma forma dinâmica, ativa e integradora que quanto menos cabeças houver a pensar neste tipo de assuntos, pior será. E que a mudança está na participação de todos, e na discussão de ideias. Criticar, sem querer participar não é solução.

P- Como vê a UBI no atual momento?

R- A UBI está a fazer o seu percurso normal de universidade do interior, que, como tal, sofre o efeito da interioridade, mas ainda assim está a trabalhar para dar a volta e continuar a receber os alunos que todos os anos chegam à Covilhã, dando vida e cor às ruas da cidade.

Perfil:

Presidente da AAUBI – Associação Académica da Universidade da Beira Interior

Idade: 21 anos

Profissão: Estudante Ciências do Desporto

Naturalidade: Coimbra

Livro preferido: “Se isto é um homem”, de Primo Levi

Filme preferido: “A vida é bela”

Hobbies: Ler, jogar ténis

Francisca Castelo-Branco

Sobre o autor

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