São cada vez menos aqueles que se dedicam à pastorícia e ainda mais raro é encontrar um pastor na cidade, mas ainda os há. É o caso de José Carlos das Neves, que diariamente leva o seu rebanho para junto da Viceg, na Guarda.
No total são 13 cabras e 14 ovelhas e quer faça chuva, quer faça sol não há um dia que o pastor não saia com elas. Natural de Vale de Estrela, aldeia próxima da cidade mais alta, José Carlos das Neves tem 59 anos e desde muito novo que aprendeu o ofício de cuidar dos animais. A agricultura e a pecuária sempre foram a atividade dos pais e de outos familiares próximos, mas esta nem sempre foi a sua profissão. Conta que já foi camionista, trabalhou nas obras, carregou lenha e encontrando-se desempregado há quatro anos decidiu retomar esta atividade que aprendeu ainda criança. Os animais são da sua irmã, mas é José Carlos que cuida de ovelhas e cabras no sopé da Guarda. O pastor não esconde que está «uma vida dura» e lamenta que ainda não lhe tenha sido dada a reforma: «Já lá tenho muitos anos de desconto», garante, acrescentando que mesmo que já a tivesse não deixava esta vida. «Enquanto puder vou tratar dos animais», afirma.
«Hoje em dia ninguém quer este trabalho, não é fácil e nunca temos folgas», refere José Carlos que tem um compromisso para os 365 dias do ano, por isso sabe que nunca se pode ausentar e os seus horários «dependem sempre do gado». São os dias de inverno que dificultam mais o seu trabalho, «quando está o tempo bom não custa tanto, mas quando está a chover e a nevar temos que vir na mesma», adianta. Por isso, o pastor da Guarda conta que tem de se «acautelar» e vai sempre prevenido com uma capa para a chuva. Devido à sua profissão passa muitas horas na rua, mas durante o inverno, por causa do frio, só costuma sair com os animais por volta do meio-dia, «altura em que vou deitar as cabras e as ovelhas para o pasto». Depois, ao anoitecer, retorna a casa e leva o gado para a loja. Já no verão o dia começa mais cedo, por volta das cinco da manhã. Quando o calor aperta regressa a casa, regressando com os animais ao pôr-do-sol, até à meia-noite.
José Carlos faz o seu trabalho sempre sozinho e sempre na mesma zona, nas imediações da Viceg numa área que deveria ter sido requalificada pelas obras Polis. Com tantas horas que passa com os animais acaba por lhes ganhar apego. «Algumas têm nome, uma chamo-lhe mansinha, outra é a cuca, aquela é a marreca» e por aí fora. É o próprio que lhes dá nome. Confessa que quando fica sem alguma, porque são vendidas «ando uns dias esmorecido porque não as vejo, os primeiros dias custam». Quis o destino que José Carlos Nunes, homem conversador, retomasse a profissão que outrora aprendeu com o pai, mas sabe que «agora os tempos são outros» e «a malta jovem não quer nada disto».
Ana Eugénia Inácio