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Água preta no Rio Mondego provoca contestação

População fala em «vergonha», mas AZC garante que «não há perigo para a saúde pública»

O cenário está longe de ser o mais aprazível. Alguns habitantes da freguesia de Pêro Soares (Guarda) mostram-se profundamente irritados com a cor preta que a água do rio Mondego que provém da Estação de Tratamento de Águas (ETA) do Caldeirão, tem apresentado nos últimos tempos e queixam-se de que as culturas «ficam todas estragadas». Contudo, a Águas do Zêzere e Côa, empresa responsável pela exploração da ETA, garante que a saúde pública «não está em perigo» e que o assunto vai ficar resolvido dentro de pouco tempo quando as obras, em curso no local, ficarem concluídas.

O que é certo é que a água sai completamente preta do colector colocado próximo da ETA do Caldeirão, junto ao entroncamento para Vila Soeiro e Mizarela, indo desaguar num local designado por “Soito da Cuba”, bem próximo de Pêro Soares. A água, que ainda serve para irrigar muitas culturas tradicionais, chega assim com um aspecto bastante desagradável para a vista, embora vá ficando menos escura na zona de confluência com outro “braço” do Mondego. «Isto é uma vergonha e uma grande miséria. Dá-nos cabo das batatas, das árvores, da cabeça e do nosso corpo», queixam-se dois habitantes de Pêro Soares, afirmando que esta é uma situação que já se arrasta «há mais de dois ou três anos», dizem. «A água estraga as plantações todas e até o gado come mal», asseveram. Mesmo o número de banhistas na zona é «cada vez menos», o que contribui para que o café localizado junto à ponte da Misarela tenha menos afluência. De resto, também uma antiga tradição que se fazia no local há muitos anos atrás, da lavagem das mantas nas margens do Mondego teve que ficar para trás, já que a sujidade deixava a roupa «toda preta», contam os dois idosos. De acordo com estes residente em Pêro Soares, «a água sai sempre negra, uns dias mais, outros menos», garantem.

Opinião diferente tem João Damasceno, director de Exploração da AZC, que garante que o carvão activado, a substância que provoca a cor escura, só é utilizado «quando é necessário para absorver cheiros e sabores que, às vezes, a água apresenta», explica. O engenheiro garante que a empresa responsável pelo sistema multimunicipal de abastecimento de água e de saneamento do Alto Zêzere e Côa «limita imenso a utilização do carvão activado», assevera. Damasceno assegura que esta questão, que se arrasta desde que a ETA se encontra em funcionamento, «vai ficar completamente resolvida» com a conclusão das obras que se encontram a decorrer na Estação que está a ser alvo de uma «significativa alteração» com os trabalhos orçados em mais de quatro milhões de euros. Com as mudanças que se encontram a ser introduzidas, as «descargas vão deixar de existir» e o problema do carvão vai ficar solucionado, assegurando que «a saúde publica não está em perigo», realça.

Também José Valbom, delegado de saúde da Guarda, indica que o carvão activado é um produto «inócuo», logo que não prejudica a saúde, sendo uma substância «essencial para promover a limpeza da água», explica. Não obstante, o «impacto visual e ambiental é bastante negativo», uma vez que a «paisagem também é importante para as pessoas», reconhece. Desta forma, reforça que «não há risco para a saúde pública», apesar da água «não dever ser usada para consumo, banhos ou culturas», diz. Assim, a água preta «prejudica o lazer e o bem-estar das pessoas», adiantando que a delegação de saúde da Guarda já comunicou à AZC a necessidade do «problema dever ser corrigido o mais brevemente possível», realça.

Ricardo Cordeiro

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