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Agricultor desviou esgotos para regar horta

O insólito aconteceu na aldeia de Monte do Bispo, no concelho de Belmonte

Roubar dinheiro ou petróleo são crimes que para alguns parecem compensar. O mesmo já não se pode dizer do que se passou a semana passada na aldeia de Monte do Bispo, no concelho de Belmonte. De acordo com a Águas do Zêzere e Côa, um proprietário agrícola terá destruído um emissário de esgotos com o intuito de os desviar para regar as suas hortas. Um dia após dois elementos do Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente (SPNA) do destacamento da GNR da Covilhã terem estado no local, o agricultor procedeu à reparação da ligação destruída.

Os terrenos onde esta situação insólita aconteceu são os últimos antes dos efluentes desaguarem na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Monte do Bispo. Segundo Alcino Meirinhos, funcionário da AZC, «um proprietário agrícola partiu o emissário para desviar o esgoto e regar os seus campos», o que, na sua opinião, constitui uma situação «um bocado hilariante e absurda» porque foi uma atitude «deliberada em utilizar água contaminada na rega da horta», lamenta. «Isto é um crime ambiental e um risco para a saúde pública», para além de ser um acto de que «não resulta qualquer benefício, antes pelo contrário», alertou. Na passada quarta-feira, dia em que a situação foi denunciada pela AZC junto do SPNA da GNR da Covilhã, o mau cheiro era notório no local por os esgotos estarem a correr a céu aberto. O funcionário da AZC indica que a situação foi detectada «quatro ou cinco dias» antes de ser denunciada à GNR: «A primeira atitude foi tentar falar com a pessoa, mas não valeu de nada. Por isso, alertámos as autoridades e a Câmara de Belmonte», disse, realçando que a GNR também foi chamada para «evitar que situações como estas se repitam».

Alcino Meirinhos lamentou a «falta de consciência» dos cidadãos para os problemas ambientais. «Têm que entender que é esgoto e que tem que ser tratado convenientemente», refere, sublinhando que a AZC está a tratar os efluentes, só que este objectivo é depois «inibido por atitudes deste género», reforça. «É visível que é um esgoto que está contaminado e tem odor, mas mesmo assim as pessoas perpetuam estas acções», lamenta. Esta foi a primeira vez que a AZC se viu confrontada com a destruição de um emissário, sobretudo para um fim insólito como o de regar terrenos. Para além dos danos ambientais, a situação poderia ainda ter provocado «danos avultados» numa ETAR que entrou recentemente em funcionamento, após um investimento de cerca de 200 mil euros. «Trata-se de uma ETAR de macrófitas, plantas que purificam a água ao alimentarem-se das bactérias e dos microorganismos do esgoto e que sem eles podem morrer», explica. O certo é que o pior não chegou a acontecer, uma vez que o proprietário, talvez “sensibilizado” com a presença das autoridades no local, procedeu à pronta reparação do emissor, confirmou Alcino Meirinhos. «No dia seguinte à visita da GNR, o problema foi solucionado pelo próprio», adiantou.

Contactado por “O Interior”, David Martins, comandante do destacamento territorial da GNR da Covilhã, adiantou que o proprietário terá argumentado que «andava a lavrar e que involuntariamente danificou o tubo». Por isso, e por ter procedido à recuperação do emissário destruído, não foi punido com nenhuma coima.

Ricardo Cordeiro

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