Já passaram dez anos desde que a atual direção da Adega de Pinhel assumiu a difícil tarefa de tirar a cooperativa da situação de dívida em que se encontrava. As instalações estiveram para ser hipotecadas, a dívida à banca era de milhões, mas a instituição da “cidade falcão” deu a volta por cima e tornou-se um caso de sucesso no setor. O atual momento da instituição é bom e recomenda-se.
«Tal como todas as adegas da região na altura, a de Pinhel atravessou um período difícil», recorda o presidente, lembrando que «as dívidas aumentavam e ao mesmo tempo tínhamos cada vez mais dificuldade em comercializar o produto». Era necessário um novo rumo para a instituição e as chaves do sucesso são várias mas assentaram sobretudo «na confiança entre os sócios e a direção», assegura Agostinho Monteiro. O dirigente considera mesmo que esse é «o “petróleo” que faz mover uma adega», pois quando existe os produtores continuam a entregar as suas uvas, «sabendo que o que foi dito será cumprido». O primeiro passo na caminhada da revitalização foi «refundar a Adega», adianta Agostinho Monteiro. «Há 10 anos estávamos muito atrasados tecnologicamente, com muitos equipamentos obsoletos e o vinho era feito de uma forma tradicional», lembra o responsável.
Mas esses tempos já lá vão. O mundo dos vinhos modificou-se de uma forma estrondosa e embora «os espanhóis continuem à nossa frente, dentro daquilo que foi possível, tentámos acompanhar». Esta aposta teve um custo de três milhões de euros, mas permitiu uma melhoria na qualidade de produção. Atualmente em Pinhel existem 90 cubas de frio, antes eram apenas 30 e «entre 85 e 90 por cento do nosso vinho é fermentado com frio, antes não». Houve mais investimentos nos equipamentos que fizeram parte de um percurso de reestruturação a nível tecnológico e que hoje permitem à cooperativa da “cidade falcão” «produzir o que o mercado quer comprar», pois Agostinho Monteiro garante que «o sucesso financeiro depende da direção e do trabalho que se fez na vinha».
Neste período de revitalização os associados foram essenciais. «Foram eles quem pagaram as nossas dívidas, ao mesmo tempo que íamos fazendo investimentos», recorda o dirigente. Durante cinco anos, a direção acordou com os sócios que em cada liquidação seriam retirados entre um cêntimo a 1,5 cêntimos a cada associado. «Se não fosse esta decisão teríamos fechado», não duvida o presidente da Adega. Entretanto, do milhão de vinhos engarrafados a cooperativa tem agora cerca de dois milhões de vinhos engarrafados, tendo já conseguido atingir em anos anterior os 2,7 milhões e o mercado externo passou a ser outro dos objetivo a atingir. A Adega de Pinhel prepara-se para enviar 20 contentores para o Brasil. «Existe uma preocupação constante de vender o vinho», assegura o dirigente. A China poderá ser o passo seguinte, «já tivemos várias tentativas, neste momento estamos em negociação com duas empresas, mas existe muita competitividade». Competição que existe também no mercado interno e não é apenas com os néctares portugueses: «Estamos sempre a ser invadidos por vinho espanhol, que chega a baixo do preço», lamenta Agostinho Monteiro, para quem trata-se de «uma competição cega que leva ao mal das adegas». Embora as cooperativas da região vivam dias difíceis, o dirigente não tem dúvidas que «a Beira Interior precisa das cinco adegas para se poder afirmar».
Vinhas de Pinhel «tratam-se bem e sem químicos»
Passada uma década desde que Agostinho Monteiro tomou as rédeas da cooperativa tudo mudou. «Existe uma boa sintonia entre a direção e os associados», afirma. A vindima já começou e a produção expectável é de 15 milhões de quilos de uvas, ou seja 10 milhões de litros.
Quanto aos preços a pagar são ainda uma incógnita mas a direção sabe de antemão que «não podem ser muito altos» e nunca poderão ser superiores ao valor de liquidação. «Isso implicaria recorrer à banca, o que está fora de questão», sublinha o responsável. Se houve anos em que chegaram a pagar 27 cêntimos, no último ano ficaram-se pelos 21 cêntimos, mas Agostinho Monteiro está confiante e «o vinho do ano passado e as expetativas elevadas para este ano permitem-nos pensar que é possível melhorar».
O presidente da direção prefere não sonhar alto e orgulha-se de dizer que «não devemos nada a ninguém». Atualmente está apenas por pagar uma campanha aos sócios, o que será feito em março do próximo ano. As contas de 2015 foram positivas, melhoraram em relação a 2014 e para este ano espera-se que os tintos «sejam excelentes». Quanto às vinhas de Pinhel há uma garantia: «Tratam-se muito bem. Somos das regiões que melhor trata as uvas e menos químicos usa», afiança o responsável. Nesse sentido, o trabalho de limpeza das ervas é feito de uma forma mecânica, equilibrando as vinhas com pesticidas, ficando de parte os glifosatos.
Ana Eugénia Inácio
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