Esta abstenção é realista, desse por onde desse, o Orçamento de Estado tinha que ser aprovado, senão sim – seria um caos, o que não quer dizer que não o venha a ser na mesma, porque o país está mal, mas acreditem, sem este Orçamento iria ficar bem pior. Desta forma, o CDS-PP, ponderou em todo o caderno de encargos que tinha para negociar com o primeiro-ministro, entendeu ser melhor uma “abstenção construtiva” permitindo que o Governo, na pessoa de José Sócrates, deixasse de lado o seu sentido “do coitadinho – não me deixam governar”, permitindo-se assim que o mal fosse menor.
De lado ficaram as propostas de uma redução de 50 por cento do Pagamento Especial por Conta, um aumento das pensões mínimas e um recrutamento extra de efectivos policiais, motivos que levaram ao não voto positivo por parte do CDS-PP ao OE 2010. O que existiu, sim, foi um voto de responsabilidade política em prol do país e do seu desenvolvimento: alteração do regime que prejudica o casamento no IRS, venda de medicamentos em unidose, acordo com as Misericórdias de 40 mil cirurgias, garantias de execução dos fundos comunitários para os agricultores através da execução do PRODER, reembolso do IVA a 60 dias para o corrente ano e a 30 dias para 2011 – foram alguns dos pontos com que o CDS-PP se congratulou e que motivaram o apoio/abstenção. Medidas sem impacto orçamental, mas que têm impacto significativo na vida das pessoas.
Não obstante o PSD foi a reboque!
Como é do conhecimento, Manuel Alegre está disponível para entrar na corrida presidencial de 2011. A pergunta que agora se impõe é: o que vai fazer o PS? A resposta é óbvia: vai apoiá-lo, quer Sócrates o deseje, quer não. Ao contrário do que aconteceu nas últimas eleições presidenciais, não se vê outro socialista que queira sobrepor-se ou apresentar-se como possível candidato. É óbvio também que, nestas circunstâncias, o PS, na pessoa de José Sócrates, fica refém de Alegre! Fica refém, porque não dispõe de grandes alternativas, está atado de pés e mãos – ou apoia Alegre, e demonstra grande incoerência tendo em conta o que se passou há quatro anos e se tem passado dentro do seu Partido, ou opta por outro candidato da área socialista, reeditando as divisões que aconteceram nas últimas presidenciais, com os previsíveis maus resultados eleitorais. Ou seja, Sócrates não tem margem de manobra.
Por outro lado, até que ponto o mesmo Sócrates quer apoiar um candidato que o BE já o considera como seu?
Na verdade, em questões chave da política nacional e internacional, Alegre esteve mais próximo do PCP e do BE do que do PS, ou seja, à esquerda do eleitorado que em Portugal decide eleições e os respectivos vencedores.
Neste cenário, resta saber quem será o melhor candidato para José Sócrates: Cavaco ou Alegre – pois se um o preocupa com problemas no presente, o outro, apesar de pertencer à mesma família política, ou por causa disso, vai trazer-lhe de certeza problemas no futuro.
Por: Cláudia Teixeira