O verdadeiro espírito “ubiano” invadiu as 120 pessoas que marcaram presença no jantar de homenagem aos alunos que se inscreveram no então Instituto Politécnico da Covilhã (hoje UBI) no ano inaugural de 1974/75.
«Ó Melo, recordas-te daquela vez em que nos fechaste na sala, onde estudávamos, e depois tivemos que saltar pela janela e a polícia julgava que estávamos a assaltar a instituição?», pergunta um desses antigos alunos. Foram estas estórias do passado que dominaram as conversas do jantar de sábado à noite, a que compareceu a maior parte dos 143 alunos matriculados em Engenharia Têxtil e Administração e Contabilidade, os dois cursos então criados para colmatar as deficiências de quadros técnicos nas empresas da região. Nem o reitor faltou ao convívio. «Muitos dos que aqui estão foram meus alunos», confidenciou Santos Silva, frisando que ele próprio era também um primeiro aluno da UBI: «Fui o primeiro aluno de pós-graduação nesta universidade, que nasceu da vontade dos covilhanenses. Mas não teve uma vida fácil», recordou ao referir-se às vicissitudes que o grupo de trabalho da Cova da Beira enfrentou. Um trabalho que necessitou da persistência de Duarte Simões, que liderou a comissão instaladora do IPC. «Havia antigamente, como continua a existir, uma corrente predominante de tentar levar os investimentos para os pólos de atracção, que são as capitais de distrito», explica por sua vez José Curto, um dos organizadores do jantar, pois «criar na Covilhã ensino superior em vez de Castelo Branco de certeza que tinha a oposição de muita gente e correntes muito fortes no poder político», garante.
Carlos Melo, actual responsável pelos Serviços Académicos da UBI, foi outro elemento essencial. Apesar de ser um potencial aluno, encarregou-se da recepção e matrículas daqueles que viriam a ser os seus colegas. As aulas começaram apenas a 17 de Fevereiro de 1975, pois os meses anteriores foram de preparação. Embora se diga satisfeito por ter efectuado a matrícula «de todos», é no entanto a «grande camaradagem» o que mais o orgulha. «Havia um grande espírito de equipa entre todos», elogia, mesmo com a falta de condições e de apoio social. «Os estudantes que vinham do Norte ficavam no Centro Cultural e Social. Já os das redondezas, que queriam ficar a estudar até tarde mas que depois não tinham autocarro, acabavam por dormir nas cadeiras da sala do Dr. Duarte Simões», recorda. Quanto às refeições do fim-de-semana eram feitas onde existe hoje o bar do Pólo 1, mas depois de Carlos Melo lhes abrir a porta para que pudessem cozinhar. «É todo este espírito de construção do que é hoje a UBI de que todos nos orgulhamos», salienta. E avisa os actuais estudantes que «a velha guarda» está de volta a uma instituição onde o espírito académico se vai «desvanecendo». Um novo encontro ficou marcado para o próximo ano, mas desta vez também com os alunos de 75/76.
Liliana Correia