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“A Tasquinha”, onde ainda «se come à moda antiga»

Caldo de grão é tradição antiga no São João da Guarda e tem n’ “A Tasquinha” o seu expoente máximo, atraindo centenas de comensais

Se “A Tasquinha” não servisse o famoso caldo de grão e as enguias da Murtosa nas festas de São João não seria certamente a mesma coisa. A tradição já é antiga, começou com os primeiros proprietários, perto de 1957, altura em que os tios de Emília Bidarra, atual proprietária, abriram “A Tasquinha”.

Uma aposta que ganhou fãs e a que Firmino e Emília Bidarra deram continuidade, juntando-lhe outra iguaria muito requisitada nesta altura do ano. «Na altura eram poucas as casas com caldo de grão e enguias, mais tarde decidimos juntar-lhe a sardinha assada porque víamos noutras terras assadores com sardinhas e na Guarda não havia nada. Pensámos que seria uma boa forma de atrair o cliente», revela Emília Bidarra. Uma ideia que se revelou acertada ao longo dos anos: «Temos clientes de toda a vida que todos os anos vêm ao caldo de grão e à sardinha», adianta a proprietária. Aberta há mais de meio século, sempre no mesmo local, na Rua Infante D. Henrique, junto à Câmara Municipal, todos os anos faz-se fila na noite de São João para comer o famoso caldo de grão que Emília Bidarra garante ser «muito tradicional, muito antigo e mantemos sempre a mesma qualidade».

Estes e outros segredos culinários pertencem a Otília Vaz, cozinheira de “A Tasquinha” há mais de 35 anos. Foi com os antigos proprietários que aprendeu a confecionar o caldo de grão e que, desde então, tem respeitado sempre a receita antiga. «Mas hoje já faço um pouco à minha maneira, tentei aperfeiçoar, dando-lhe um toque meu», confessa Otília Vaz, para quem não há festas de São João sem o caldo de grão, como também já não imagina a sua vida sem “A Tasquinha”. «Já sou mais velha que o mobiliário», ironiza. Quanto aos segredos do sucesso deste estabelecimento, a cozinheira apenas adianta que «qualidade, amor e prazer naquilo que se faz» são ingredientes essenciais para um bom petisco. Na noite de 23 e ao longo do dia 24 são confecionadas cerca de meia centena de panelas com caldo de grão, pois aqui «não fazemos uma panela e vamos servindo. Como forma de preservar a qualidade vamos fazendo aos poucos», assegura Otília Vaz. Por estes dias, à porta d’“A Tasquinha” formam-se filas de apreciadores que não querem perder esta especialidade e até quem não está pela Guarda «liga e pede-nos para congelar uma dose», garante a funcionária.

Este ano o caldo de grão vai ser servido mais dias, a partir de hoje e até domingo. Por isso, à cozinha d’“A Tasquinha” chegaram ainda no sábado cerca de 20 quilos de carne para que tenha tempo de salgar. Falta agora que o São Pedro também se junte à festa, pois «trabalhamos muito melhor quando está bom tempo, aparecem mais clientes», declara Emília Bidarra, que, ao mesmo tempo, lamenta que o estabelecimento seja «tão pequeno. Por vezes não conseguimos atender tantos clientes como gostávamos». Na cozinha, a poucos dias da noite de São João, Otília Vaz admite que já está nevosa, «fico sempre muito ansiosa enquanto não chega o dia, com medo que alguma coisa falhe». Mas no final «as pessoas vão satisfeitas e é sempre essa a nossa finalidade», acrescenta Emília Bidarra. Contudo, antes do cliente ir embora há ainda tempo para «uma ginjinha bem suave para beber no final da refeição, enquanto conversamos com o cliente». Uma forma de manter um ambiente familiar, outra imagem de marca de “A Tasquinha”, onde ainda hoje «se come à moda antiga», refere a proprietária. Veja reportagem em ointerior.tv

Ana Eugénia Inácio Firmino e Emília Bidarra com Otília Vez, ao centro

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