Aparecem, com agenda internacional, as manifestações dos “indignados”, eu também estou de acordo, não posso é concordar que essa indignação seja agora contra um governo que, pela primeira vez desde há mais de 15-20 anos, tenta colocar a moral na política, que quer honestamente combater a corrupção e os lobbies locais. Na verdade, esta não passou de um palco europeu, mundial mais ao nível “of the World”.
A manifestação peca ainda por não reivindicar algo concreto e por isso falhou, falta um objetivo claro, não é suficiente reclamar no abstrato, sem uma reivindicação concreta. E não serve de nada reivindicar coisas irrealistas, tipo “fim da austeridade”, “não aos cortes” ou “baixa dos preços”. Mas há coisas que os manifestantes podiam e deviam reivindicar:
Porque não exigir uma regulação estável do valor dos combustíveis, não beneficiando os interesses económicos mas sim todos os portugueses. Porque não exigir que sejam eliminados os subsídios políticos à energia elétrica, afinal todos nós recebemos uma fatura mensal, basta interpretar para aferir que mais de metade do valor a pagar diz respeito a esses subsídios… Ainda nesta área, porque não exigir ao Governo que em matérias de EDP deixe que esta faça parte de um falso “executivo” que manda a seu belo prazer, nunca saindo prejudicada e aumentando cada vez mais os seus lucros… pois as medidas identificadas pelo Governo sobre os adiamentos no aumento do IVA para a eletricidade são apenas uma camuflagem que protegem interesses;
Porque não exigir uma auditoria/investigação em toda a Administração Pública com a respetiva responsabilização pelos atos encontrados de despesismo que gradualmente vieram a aumentar num passado muito recente, o porquê deste Orçamento de Estado que, pela voz do primeiro-ministro, veio apresentar medidas brutais, sendo necessário explicar porque é que chegamos aqui; Exigir transparência dos atos públicos – de supervisão dos organismos financeiros, bancários e todos os afins que lidam com movimentações e transferências e respondam numa democracia direta – é urgente uma justiça.
Porque não lutar, num sistema democrático, pela reforma do sistema eleitoral, deviam exigir que fosse permitido aos eleitores escolherem nominalmente os deputados. Na verdade, a introdução de um voto nominal pode levar muito longe, incluindo introduzir mais seletividade na classe política. Mas a verdade é que em cada ato eleitoral a abstenção é quem ganha, marcaria a diferença se todos os indignados fossem votar exercendo assim o seu direito cívico, tal como o direito a manifestar-se. Porque não lutar, exigindo ao Governo que acabe com as ajudas de custo aos deputados, ministros, secretários de Estado, subsecretários de Estado…, que não sendo de Lisboa recebem compensações ao mais alto nível. Alguém os obrigou a irem nas listas? Foram, porque aceitaram e agora têm direitos porque ali não residem? Há aqui alguma hipocrisia nas medidas de contenção, aceitaram e mais nada, qual ajudas? Qual valor a mais? Com o mesmo devemos indignar-nos com os deputados da Assembleia Municipal que, não residindo na Guarda, ou demais municípios, recebem ajudas de custo, também ao mais alto nível. Porquê? Por que aceitaram irem nas listas? Não moram cá, paciência… Quando aceitaram já sabiam que o seu compromisso político se desempenhava na nossa Guarda… Creio que passaríamos a ter alguma seletividade política com estes cortes financeiros, creio ainda que o atual Governo, para demonstrar a tal moralidade, tem que dar exemplos e este seria marcante.
Por: Cláudia Teixeira
* Deputada do CDS-PP na Assembleia Municipal da Guarda