Arquivo

“A Saga de Zacarias contra a Morte e o Diabo” em palco

Co-produção entre o Aquilo Teatro e Teatro Municipal da Guarda é encenada por Moncho Rodriguez

«Um espectáculo do universo fabuloso» ou «o jogo do homem com o Diabo e a Morte», são as palavras que Moncho Rodriguez encontra para resumir a peça que escreveu e encenou “A Saga de Zacarias contra a Morte e o Diabo”. Trata-se da primeira co-produção entre o Aquilo Teatro e o Teatro Municipal da Guarda. A estreia acontece no sábado, mas continua em cena no pequeno Auditório do TMG até dia 9.

Este é um espectáculo não realista, que «actua dentro do imaginário e da fantasia, que nos leva às tradições sendo contemporâneo», conta o encenador galego. Quando escreveu o texto, «não tinha imaginado este elenco», confessa o autor com um sotaque de quem está há muito no Brasil, mas ficou «muito surpreendido» com os jovens actores que encontrou na Guarda, que considera «apaixonados pelo teatro e com talento». Por tudo isto “A Saga de Zacarias contra a Morte e o Diabo” é uma criação teatral de encantamento, magia e alegria. O Diabo e a Morte são duas personagens, mas também duas paixões do encenador. «O Diabo é um grande amigo, às vezes até nos confundimos», ironiza Moncho Rodriguez, enquanto «a morte é a minha grande amante». Revê-se por isso nas duas personagens: «Eu adoraria ser a Morte, sendo o Diabo, ou vice-versa», confessa. «O Diabo é tão amigo que até podemos confessar coisas que não devemos falar com Deus», dispara o encenador. «Já a Morte neste espectáculo é a nossa sedutora, algo que atrai e com a qual quem puder vai sempre negociar», acrescenta. Tendo em conta o ensaio realizado no último sábado nas ruas da Guarda, aberto a toda gente e condicionado pelo inesperado, «a expectativa é muito boa», assegura Moncho Rodriguez.

Marcos Pinto, brasileiro, é um dos jovens actores do elenco. Chegou à Guarda há três semanas e interpreta o papel da mulher de Zacarias. Já tinha trabalhado com Moncho Rodriguez no Brasil e foi o próprio que o desafiou a vir até à Guarda. «E eu aceitei logo», garante. Apesar de já ter chegado mais tarde, conseguiu integrar-se bem, «graças à ajuda de todos». Também João Manso já fez algumas peças de teatro, pois pertence ao Aquilo há cinco anos. Mas agora está a descobrir uma «nova linguagem» e um método de trabalho «diferente», destaca, elogiando o trabalho do encenador. Para Julieta Silva (Morte) e Paula Carvalho (Juvita) esta é a primeira experiência teatral. «Sou uma Morte que entra a tocar concertina», revela a primeira, natural de Trancoso e mais ligada às lides musicais. Por isso, nesta peça mistura dois mundos, o seu (o da música) e o teatro. «Toda a peça respira música e isso está a ser muito divertido», salienta. Quem se estreia em palco é Paula Carvalho, que já ganhou entretanto o “bichinho” do teatro e não hesita agora em garantir que «nunca mais» vai parar.

Guarda na vida de Moncho

A primeira vez que visitou a Guarda foi há quase 30 anos. Ainda trabalhava na Galiza, de onde é natural. Com a Companhia de Teatro Independente Espanhol percorreu Espanha e Portugal de lés-a-lés e andou com a casa às costas durante dez anos. «Não sei bem porquê, talvez “por artes do Diabo”, entravamos sempre em Portugal por esta fronteira e inevitavelmente parávamos na Guarda», recorda. Nos anos 70 foi convidado a fazer a reestruturação do Teatro Universitário do Porto. Depois, já como director artístico do Teatro Experimental do Porto, recebeu um convite para orientar um “workshop” na Guarda, «por coincidência» quando se estava a formar o que é hoje o Aquilo Teatro, lembra Moncho Rodriguez. Participou num dos últimos espectáculos realizados no antigo Cine-Teatro, «já estava quase em ruínas. Levámos à cena o D. Quixote», conta o encenador. Nos anos 80 deu um salto até ao Nordeste brasileiro, onde tem estado a criar novos projectos. Mas, como a vida é cheia de ciclos, «voltei», diz com um brilho nos olhos.

Sinopse e ficha artística

O Diabo e a Morte são duas forças mágicas provocadoras de múltiplos imaginários no universo do fabuloso. Como não estão em todas as coisas, nem em todos os tempos, aparecem de forma imprevisível e surpreendente. As duas entidades podem proteger e ao mesmo tempo atacar, convencer e enganar, tanto proporcionam o prazer como a dor. Ambas, na sua disputa pela vida com o homem, podem chegar a negociações e propostas das mais absurdas e não deixam de ser ao mesmo tempo ingénuas e belas. Nas suas surpreendentes aparições trazem sempre a proposta de um desafio que o oferecem ao seu rival como possível alternativa. Num gesto cavalheiresco, dão ao homem, o direito de lutar e de se defender, de acreditar que ele, ainda pode sentir o gosto da vitória e muitas vezes até o de vencer temporariamente. Quando isso acontece, nunca a vitória é definitiva. Texto e encenação fica a cargo de Moncho Rodriguez. O elenco é constituído por: Marcos Pinto(Mulher de Zacarias), João Manso (Zacarias), Paula Carvalho (Juvita), Julieta Silva (Morte), Paulo Miranda (Diabo) e Teresa Oliveira (Ti Bernarda). Gabriel Godinho, João Louro e Rui Costa são os músicos.

Patrícia Correia

Sobre o autor

Leave a Reply