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A revelação de João José Baldi

A estreia moderna da “Missa para Coro, Solistas e Orquestra”, de João José Baldi, proporcionou um concerto único na Sé da Guarda por ocasião dos 804 anos da cidade. A catedral encheu-se na última quinta-feira para descobrir uma autêntica obra-prima da música erudita nacional, recuperada pelo padre José Pinto Geada, que a classifica de «obra de fôlego», aludindo ao tradicional estilo italiano de que o compositor (1770-1816) era à época um dos expoentes máximos.

O recital magistral proporcionado pela Orquestra Filarmonia das Beiras, sob a batuta do maestro António Vassalo Lourenço, com a participação do Coro Aeminium, de Coimbra, e de sete solistas, foi gravado ao vivo para posterior edição fonográfica, numa iniciativa inédita da autarquia guardense. Quem não pôde estar presente terá então nova oportunidade para ouvir uma obra surpreendente. A “Missa” data de 1801 e abre com uma Sinfonia, prosseguindo com as habituais Kyrie, Glória, Credo, Sanctus-Benedictus e Agnus Dei. Segundo Pinto Geada, a presente partitura tem para a Sé da Guarda uma «dupla importância: primeiro, por representar um dos grandes Mestres que por ela passaram; segundo, sendo o único espécime que resta do antigo arquivo incendiado nas invasões francesas, torna-se, ele mesmo, o símbolo de um espólio valioso, onde outros compositores estariam, de certo, representados, e que, de algum modo, na pessoa de João José Baldi se homenageiam com este concerto». De resto, o recital propiciou um encontro com o “misterioso” compositor, filho de Carlo Baldi (músico italiano que trabalhou na Corte em Lisboa), que iniciou em 1789 a sua carreira musical na Sé da Guarda com apenas 19 anos, tendo sido mestre de Capela, do Órgão Grande e da Escola de Música até 1794. Ficou assim levantada uma ponta do véu da vasta obra desconhecida do grande público em geral e dos guardenses em particular. Uma lacuna desfeita pela intensidade e originalidade da partitura tocada quinta-feira à noite na Sé, que, segundo vários musicólogos, terá conhecido o seu apogeu musical durante a passagem de Baldi pela Guarda como Mestre de Capela no séc. XVIII.

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