Estive no passado sábado numa iniciativa do Partido Socialista em que se reflectiu um pouco sobre a “Região Centro” e os seus muitos problemas. Estavam presentes representantes dos distritos da Guarda, Castelo Branco, Viseu, Coimbra, Aveiro e Leiria. Na introdução ao debate, Gomes Canotilho, professor de Direito Constitucional na Faculdade de Direito de Coimbra, lançou uma provocação: a Região Centro não existe. O resto da secção veio confirmar precisamente isso.
Segundo Gomes Canotilho, há um corte longitudinal, feito a cinquenta quilómetros da costa, que separa o pais desenvolvido do interior. Esse corte existe também, e sobretudo, na região centro. De tal maneira tem aqui importância esse corte, que se torna em autêntica fronteira dentro da região. De Leiria, veio José Ribeiro Vieira a lembra-nos precisamente isso: em Leiria há empreendedorismo, não busca de subsídios e apoios, há empresas que exportam, há indústria transformadora, turismo, criação de riqueza e empregos. São aí contra a regionalização. Não o disse, mas deduzo que uma das razões é que não retirariam dela, regionalização, qualquer benefício e arriscavam-se a ser contribuintes líquidos do orçamento regional, em favor da Guarda e Castelo Branco, tão necessitados de ajuda para saírem do subdesenvolvimento em que cada vez mais se afundam.
Da Guarda, não veio nada de novo, a não ser de terceiros, admiradores distantes da programação cultural do TMG, apresentado como vantagem competitiva do distrito. De Castelo Branco, a interessantíssima apresentação do Naturtejo.
De Aveiro veio a notícia da importância cada vez maior o seu porto, do alargamento da sua área de influência, das consequências económicas da iminente ligação ferroviária. Aquela faixa de cinquenta quilómetros, contada a partir da costa, conta com o porto de Aveiro, com o TGV, ou ao menos uma ligação rápida a Espanha. E conta também, e muito, com a Ota.
Tanto quanto entendi, não existe região centro, Existem os distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria, com uma velocidade de desenvolvimento, e existe o resto – que aparece como encargo das regiões mais ricas. O responsável da Naturtejo, de Castelo Branco, referia que os seis concelhos do parque têm uma média de 23 habitantes por quilómetro quadrado – menos de um quinto da média nacional. Se houvesse tempo para se avaliarem outros números, poderiam concluir que em Castelo Branco, como na Guarda, a pouca população está envelhecida e descrente. Mais uma vez, nada a ver com o litoral.
Este, no seus vários distritos, tem uma ambição comum: ver construído o aeroporto da Ota, primeira grande obra a realizar na região centro, ou na sua área de influência. Talvez por isso, todos os intervenientes da conferência apoiavam a sua construção.
Conclusões? Gomes Canotilho tem razão, não existe região centro. Há uma coincidência geográfica de proximidades várias num pais pequeno. Estas não conseguem fazer esquecer os egoísmos que subsistem nem, sobretudo, construir interesses comuns.
Sugestões:
Um passeio: Ao Naturtejo, evidentemente, com informação importante e variada disponível na Internet.
Um livro: A Passo de Caranguejo (Umberto Eco, Difel, 2007). Eco queixa-se, no prefácio, de que o Mundo segue, em passo acelerado, a caminho da … idade média.
Outro livro: Gente Independente (Halldór Laxness, Cavalo de Ferro, 2007). Um dos maiores romances do século XX finalmente traduzido para português.
Por: António Ferreira