«A região Centro não existe». Esta provocação de Gomes Canotilho marcou, no sábado, o debate promovido na Guarda pelas Federações distritais do PS de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu. O objectivo era discutir as linhas estratégicas do seu desenvolvimento e ouvir as sugestões de dirigentes socialistas locais, empresários e autarcas, mas o encontro acabou por trazer ao de cima a divisão da região e falta de colaboração entre os seus protagonistas.
Isso mesmo antecipou o constitucionalista e professor universitário, ao afirmar que o futuro do Centro está marcado, além da falta de liderança, por um empecilho chamado «localismo concorrencial» entre distritos, cidades ou concelhos. A tal ponto que António Ferreira, advogado da Guarda e colunista de “O Interior”, concluiu que se «a região fosse Espanha, então Leiria seria a sua Catalunha, autónoma, rica e com pouco vontade de ser contribuinte líquida para os restantes». Uma imagem sugerida pela intervenção de um representante leiriense, para quem o seu distrito deve prevalecer a qualquer processo de regionalização. Outra diferença realçada pelo guardense é que «em Leiria e Aveiro fala-se empreendorismo e na Guarda em subsídios, o que é sintomático de uma região a duas velocidades».
Convidado a encerrar os trabalhos, o ministro do Ambiente também não foi brando e começou por recordar as «grandes assimetrias» demográficas e económicas entre interior e litoral, onde vive mais de 60 por cento da população e é gerado 64 por cento do PIB. Mas Nunes Correia aconselhou ainda a região a «libertar-se da armadilha que é dizer-se que Coimbra é a terceira cidade portuguesa». Para o governante, deve antes assumir-se como «realidade policêntrica, compósita e diversa, pois esse é o modelo da modernidade. E, nesse sentido, o Centro de Portugal está um passo à frente». No entanto, Alfredo Marques, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, considerou como «prioridades absolutas» o reforço das ligações transversais, uma coordenação regional dos diferentes serviços desconcentrados do Estado, além de dinâmicas económicas, de investigação e conhecimento. Já um dos seus antecessores, João Vasco Ribeiro, destacou a saúde, a tecnologia, a rede de universidades/politécnicos e os recursos naturais como as «âncoras do desenvolvimento» desta região.
Luis Martins